segunda-feira, 3 de março de 2008

Atlético: 100 anos de Paixão (Parte I)

O Craque do Time
Por Deiber Nunes Martins


Estamos no mês de março. E neste mês, o glorioso Clube Atlético Mineiro, completa 100 anos de existência. É o mês do centenário. É do conhecimento de todo atleticano que se preze que o Atlético pode não ter a maior torcida do Brasil, mas seguramente ela é a mais apaixonada de todas e ainda, maior que a do rival, Cruzeiro.
Mas, polêmicas à parte, o Atlético em seu centenário de histórias acumula conquistas e infortúnios também. Como toda grande paixão, a paixão pelo Atlético Mineiro é marcada por amor e ódio. Muitas vezes, nos momentos mais felizes desta longeva história de amor, o torcedor atleticano, ou galista, como ouso chamar-nos, foi à forra diante do arquiinimigo do Barro Preto. De todas as conquistas atleticanas, as mais deliciosas foram em cima do Cruzeiro...
A maior conquista do nosso Galo sem dúvida alguma foi obtida em 1971, em pleno Maracanã, diante do poderoso Botafogo. Uma vitória de um a zero, suficiente para colocar o Galo na história como o primeiro campeão brasileiro. Este título é importante não só por ser um título, mas também porque marca a história do clube como o pioneiro, o primeiro campeão brasileiro.
Ao longo destes cem anos, muitas histórias pra contar. Muitos jogos para se lembrar, muitas conquistas a serem lembradas e comemoradas. Muitos triunfos nos clássicos. Inúmeras vitórias saborosas... São cem anos de glórias e cem anos de alegrias! Mas o importante, o mais importante, é que nestes cem anos, a maior conquista atleticana foi o amor da sua torcida. Menor em números em relação a algumas no Brasil, mas superior a todas em paixão. O Atlético em momento algum de sua história se viu abandonado pela massa. Em momento algum o atleticano deixou de torcer contra o vento, quando a camisa preta e branca esteve pendurada no varal...
Ser atleticano é saborear vitórias. Muitas vezes elas não vêm dentro de campo, mas certamente aparecem nas arquibancadas, nas mesas dos bares, nas rodas de amigos ou mesmo nos braços da mulher amada. Muitas vezes, o amor do atleticano se reflete no amor a vida, no amor em sua forma mais sublime. O amor do atleticano persiste ao longo dos tempos, ao longo da história. Sob a forma de raça, suor e lágrimas.
Recordo-me de um jogo no início da década de 90, a década perdida para o Atlético. Um jogo contra o Vitória da Bahia em pleno Mineirão. Estádio lotado, a vitória colocava o Galo numa boa situação no campeonato. No primeiro tempo, jogo parelho, embora o Galo tenha dominado a maior parte do tempo, sem, no entanto concluir suas chances em gols. No segundo tempo, mais domínio atleticano, mas logo no início, gol do Vitória. Vitória um a zero! Silêncio no Mineirão, a massa estava apreensiva. Derrota não estava nos planos de ninguém.
Mais um pouco de jogo e o Vitória nos contra-ataques assustava. Bem mais que a pressão que o Galo fazia. O tão sonhado gol de empate parecia estar mais distante do que o segundo gol baiano. E, não deu outra, estava. Aos quarenta minutos aproximadamente, Vitória da Bahia dois, Galo zero.
Naquele momento, eu descobri porque o Clube Atlético Mineiro é diferente de todos os outros times, porque sua torcida é diferente de todas as outras. Qualquer outra partida em qualquer estádio do mundo o estádio se esvaziaria. Todos, resignados com a derrota do time de coração, iriam pra casa, chorar as mágoas. Com o Atlético é diferente. A torcida do Atlético é diferente. Naquela noite, eu aprendi o que é ser atleticano.
Tão logo o Vitória fez o segundo gol, a massa atleticana começou a cantar o hino do clube, e a empurrar o time pra frente. Nenhum jogador atleticano pôde se esmorecer diante daquele voto de confiança que lhe era dado. Assim, sob a trilha sonora do hino do glorioso e sobre os gritos de “Raça! Raça!”, o Atlético partiu pra cima, nos minutos finais do jogo e fez o improvável. Faltando dois minutos para o fim, gol do Galo! Galo um, Vitória dois. E no minuto final, sob o incentivo da massa, mais um gol. Do Galo! E fim de jogo, Atlético dois, Vitória da Bahia também dois.
Foi um empate. Não era de todo mal aquele resultado. Mas por ser dentro de casa, tinha tudo para ter um sabor de derrota. E tinha. Porém, naquele jogo, eu entendi o que era ser atleticano. E entendi também como a torcida pode ganhar um jogo. A torcida do glorioso Atlético Mineiro ganhou aquele jogo, quando não deixou que os jogadores dentro de campo desistissem. Assim, com aquele Mineirão tremendo, as arquibancadas balançando, o torcedor empurrando o time no momento mais difícil da partida, foi um sinal de confiança. Cada torcedor fazendo o seu papel, dizendo a todos os jogadores e comissão técnica: “Eu confio em vocês, empatem esse jogo!” E o time assim o fez.
Nestes cem anos de história atleticana, esta é a partida da minha vida. E o maior craque que já vi jogar neste time sem dúvida alguma é o que joga com a camisa doze. A apaixonada torcida atleticana da qual orgulhosamente faço parte. É por isso que eu sou atleticano e amo este time. Porque ele me faz ser com ele, um craque de futebol.

Belo Horizonte, 03 de março de 2008.

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