terça-feira, 27 de março de 2012

Práticas de Jejum - Quinta Semana da Quaresma: O Jejum dos Pensamentos

Por Deiber Nunes Martins

O bom pensamento é o motor para nosso sucesso e o nosso crescimento. Já o mau pensamento é o motor para nosso fracasso e as nossas quedas. As nossas atitudes boas ou más começam em nossa mente. Antes de agir, o nosso pensar age por nós. Por isso, a dicotomia entre o bem que sonhamos fazer e o mal que na realidade fazemos. O nosso pensamento nos dirige para o bem e para o mal.

Creio que seja impossível decidir-se por não pensar certa coisa. E mesmo se eu estiver errado, o controle que se deve ter para evitar este ou aquele pensamento deve ser terrível e de conseqüências severas para nossa vida. Não dá pra evitar o mau pensamento, quando se percebe, já pensou. No entanto, podemos combater o mau pensamento em nossa vida.

Esta é a proposta de jejum, com certo atraso, para a quinta semana da quaresma. O jejum do pensamento.

Não proponho deixarmos de pensar. Mas proponho nos esforçamos para combater o mau pensamento. Por mau pensamento, entendo ser tudo aquilo que nos oprime, nos causa desânimo, tristeza, depressão; tudo aquilo que nos faz pecar, nos leva a voltar-se para o mal.

No intuito de combater o mau pensamento, proponho orarmos com fervor, a cada momento que ele ameaçar surgir. Mas nada de desanimarmos ao percebermos más idéias povoando nossa mente: no momento em que percebermos o mau pensamento, paremos e façamos uma oração sincera a Deus, reconhecendo nossas incapacidades e imperfeições. A conversa sincera com Deus é um bálsamo que nos livra do mal, nos edifica, nos torna íntimos Dele e minimiza a ocorrência dos maus pensamentos, pois quanto mais próximos do Pai estamos, mais próximos ainda queremos ficar.

Outra sugestão é combater o mau pensamento com boas idéias. Para cada mau pensamento, substituí-lo por um bom. Seja pela oração ou pela prática de substituir os pensamentos ruins, nos tornamos vigilantes dos nossos pensamentos e atitudes.

E talvez seja por isso, o cuidado com nossos pensamentos seja o diferencial para o nosso crescimento como pessoas, nosso crescimento espiritual, nossa conversão.

Senhor Jesus, aproxima-se a Semana Santa e com ela, vai se chegando ao fim a quaresma, o tempo de conversão. Não sei se estou vivendo bem este tempo, mas confesso que esta tem sido uma das quaresmas mais intensas que tenho vivido. Quanto mais o tempo passa, Senhor, mas eu reconheço as minhas fragilidades e mais eu reconheço que a conversão deve ser contínua, todo dia. Porque todo dia eu tenho maus pensamentos, todo dia eu peco. Por isso, Senhor, que todo dia também eu busque esta conversão sincera. Para que um dia, ao final de minha caminhada, eu possa estar pertinho de Ti. Amém.

Belo Horizonte, 27 de março de 2012

quinta-feira, 15 de março de 2012

Práticas de Jejum - Quarta Semana da Quaresma: O Jejum dos Ouvidos

Por Deiber Nunes Martins

Nossa quaresma vai passando pelas práticas de jejuns e vamos aprendendo a medir nosso passo, cuidar do que olhamos, falar menos... enfim, vamos aprendendo a nos doar para Deus. Doar nossos passos, nossos olhos, nossa língua, tudo em prol do Senhor, que no deserto privou-se de tudo, para depois se privar da vida, por nós. Para nos salvar. Nesta quarta semana, vamos fazer o jejum dos ouvidos. Vamos aprender a ouvir e escutar.
E há diferença entre ouvir e escutar. Enquanto a primeira é involuntária, fisiológica, para sermos simplistas na análise, a última envolve nossa compreensão, nosso processo de raciocínio e também nossas emoções. Tudo ouvimos mas nem tudo escutamos. Já ouvimos em algum momento, alguém dizer: "É melhor ouvir isso que ser surdo." e também já escutamos: "Sou todo(a) ouvidos." No primeiro dizer se ouve e no segundo se escuta. Ouvimos o som alto do apartamento do vizinho e nos esforçamos para escutar um amigo ao telefone, em meio a tanto barulho. O ato de ouvir é involuntário enquanto que o de escutar, requer um maior esforço.
Nos Evangelhos, percebemos que Jesus não fazia milagres involuntariamente. Era preciso alguém buscar os pães e os peixes, as talhas d'água... Sempre é preciso algo mais. Fazer uma lama com terra e saliva e passar nos olhos, passar a cama pelo teto da casa, tudo envolve esforço, como o esforço que fazemos para escutar, compreender. Como às vezes é difícil compreender o outro, escutar o outro! Como é difícil escutar o aviso de quem nos ama, sobre o caminho errado que estamos percorrendo! A pessoa diz e nós ouvimos. Mas não escutamos. Ouvir é fazer entrar por um ouvido e sair pelo outro. Escutar é fazer entrar pelos ouvidos e não sair mais.
O jejum desta semana consiste em escutar mais e ouvir menos. Mas este ouvir menos significa selecionar mais as conversas que prestaremos atenção. Será que aquela fofoca da hora do café, contada pelo(a) colega de trabalho é importante de se escutar, de se ouvir? Será que aquele programa fútil do rádio ou da TV é mesmo necessário de ser ouvido? Aquele comentarista chato, será que merece nossos ouvidos? Começamos selecionando o que ouviremos para então selecionarmos do que ouvirmos, o que vamos de fato escutar.
Quando digo que o jejum desta semana requer que escutemos mais, estou querendo dizer que escutamos pouco e ouvimos tudo. Precisamos equilibrar esta balança. Precisamos escutar mais nossos amigos, nossos pais, a pessoa amada. Escutamos pouco o que vale a pena escutar. Aquela conversa que você achou que não daria em nada com sua mãe, que tal retomá-la? Aquela música inconveniente e grudenta que você optou ouvir em troca de escutar o "sermão" do seu pai, que tal deixá-la de lado?
É preciso termos consciência de que o ato da escuta nos faz compreender o mundo lá fora. Escutar nos faz perceber que Deus nos fala. E que o barulho que o encardido tem feito em sua vida é só um barulho que você pode aos poucos reduzir o volume e ouvir cada vez menos. Deus fala a quem o escuta. O Diabo fala a quem dá ouvidos a ele. Precisamos selecionar o que escutar e o que ouvir também. Nosso ouvido não é pinico, como se diz. Quem escuta, escuta o silêncio porque compreende as coisas mais simples e tão essenciais. Mas quem somente ouve, é dependente do barulho e se fia nele para agir. Quantas pessoas solitárias chegam em suas casas, ligam a TV, o rádio e tudo mais que faça barulho, para não escutar nada! Mas ouvir que tem barulho. Precisamos acabar com isso.
Senhor, nossas vidas têm se tornado uma barulheira danada. Não escutamos. Ouvimos. Ouvimos o que não devemos. Às vezes, Senhor, com base no que ouvimos e não escutamos, nós julgamos comportamentos, atitudes do outro. Como temos pecado com os ouvidos, Senhor!
Senhor Jesus, vós que calastes os poderosos, os ditos entendidos com o teu silêncio, dá-nos a capacidade de neste jejum, aprendermos a escutar. Aprendermos a usar nossos ouvidos e o nosso dom da audição com sabedoria e qualidade. Venha em nosso socorro Senhor, impedir nossas quedas! E louvado sejas, Meu Bom Deus, pelo dom da escuta que nos dás. Pelo dom da vida. Amém.

Belo Horizonte, 15 de Março de 2012.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Práticas de Jejum - Terceira Semana da Quaresma: O Jejum da Língua

Por Deiber Nunes Martins

A Liturgia de hoje nos traz uma passagem contundente sobre os males que nossa língua pode produzir. O trecho a seguir, extraído da passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 18, 18-20) mostra o profeta nas mãos dos homens a quem tentava abrir os olhos, a serviço do Senhor. Mas os insensatos de coração conspiravam contra ele:

Naqueles dias, 18disseram eles: “Vinde para conspirarmos juntos contra Jeremias; um sacerdote não deixará morrer a lei; nem um sábio, o conselho; nem um profeta, a palavra. Vinde para o atacarmos com a língua, e não vamos prestar atenção a todas as suas palavras”.

19Atende-me, Senhor, ouve o que dizem meus adversários. 20Acaso pode-se retribuir o bem com o mal? Pois eles cavaram uma cova para mim. Lembra-te de que fui à tua presença, para interceder por eles e tentar afastar deles a tua ira.

Os homens queriam atacar Jeremias com a língua. Queriam caluniá-lo. Muitas vezes a língua humana se faz a mais mortal das armas. Quantas intrigas, quantas maquinações, maldades, calunias, enfim quanto pecado pode conduzir nossa língua?

É pensando nisso que vamos a partir de agora, iniciar o jejum da língua, o jejum da fala. Este jejum não significa ficar sem falar por uma semana. Mas nos remete a pensar um pouco mais antes de dizer qualquer coisa. Este jejum nos impede de dizer por dizer, falar por não ter assunto e muitas vezes, é a falta de assunto que nos faz falar o que não devemos, magoar, ofender, difamar, caluniar.

Uma pessoa que se perde no vício da fofoca é uma pessoa intranqüila. Insatisfeita, está sempre em busca de saber da vida alheia, ultrapassando muitas vezes o limite do conveniente e do correto. Na falta de informações, inventa-se, mente-se, calunia-se.

Quantas famílias são destruídas por se falar de mais? Quantos amizades desfeitas por conta de um mal entendido, uma conversa que poderia ter sido evitada, que não precisava ter existido?

Acredito que muitas de nossas fragilidades e pecados, nós expomos aos outros falando mal de alguém, reclamando, usando mal este dom maravilhoso da comunicação, da fala, que Deus nos deu. Quando uma pessoa fala mal de outra, muitas vezes ela está a alertar seu interlocutor de que o problema pode estar nela e não no outro, a quem ela ataca.

Jeremias estava a pregar para os homens de Judá e estes queriam atacá-lo com a língua. O intento deles era por pra fora seus podres, na conta do pobre profeta, com a calúnia. Quantas vezes não fazemos isso? Vemos defeito em tudo! E falamos estes defeitos pelos quatro cantos. Às vezes agredimos o outro severamente por conta de uma palavra mal proferida. Uma conversa desnecessária.

Assim como as práticas anteriores de jejum, esta prática nos remete ao uso do nosso dom (a fala) somente quando necessário. Devemos nos silenciar não só em jejum mas por toda a nossa vida, quando o que tivermos pra falar não acrescentar nada ao nosso ouvinte. Portanto, cada um que participar deste jejum viva-o com a perspectiva de adotar o silêncio por toda a vida. Esta é uma mudança de hábito que nos faz ganhar tempo, uma vez que ocupamos realmente com o que importa que no caso somos nós mesmos. Que ninguém ache que precisa ficar uma semana sem falar. Mas, com este jejum, que possamos atentar para a conversa somente do que é necessário, deixando de lado as "últimas notícias" do vizinho, as "novidades" da sogra... Enfim, todo tipo de assunto que nos faz falar demais. Isto não é fácil. Requer lutar contra si próprio muitas vezes para fazer prevalecer o que Deus nos pede. Para não caluniar, não humilhar, não ferir, não difamar.

Senhor, que possamos aprender com teu silêncio no calvário. Que possamos nos silenciar diante daquilo que não interessa ao outro e que achamos ser nosso dever revelar. A ti, Senhor queremos seguir. Dá-nos a capacidade de compreender teus ensinamentos e a adotá-los não só como jejum mas também uma prática de vida. Amém.

Belo Horizonte, 7 de março de 2012.