quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Evolução Religiosa no Brasil: O Arrefecimento do Catolicismo



Por Deiber Nunes Martins

O texto anterior abordou o avanço das religiões sob a ótica delas mesmas. Cada um procura abordar seu posicionamento perante o Censo 2010 de acordo com suas convicções. Este texto que se segue talvez vise tratar a redução do povo católico com o mesmo estratagema, sob a ótica católica.
Nos últimos 30 anos, a Igreja Católica perdeu seu maior número de fiéis. Ao olhar o gráfico da evolução religiosa no Brasil, percebe-se claramente como o catolicismo foi sangrado neste período. Observando o contexto, pode se dizer que as novas denominações religiosas passaram a angariar como devotos os filhos de seus recém-convertidos. É uma explicação.
Mais razoável ainda são as políticas evangelizadoras adotadas por católicos e evangélicos. No primeiro caso a cisão entre católico praticante e católico não praticante é algo praticamente impensável no meio crente. Daí, a sublime diferença entre a abordagem proselitista do cristão católico para o evangélico. Enquanto o segundo se esforça para difundir sua nova crença, o primeiro se escusa desta responsabilidade agindo até com receio de proferir sua fé na sociedade.
O católico praticante, a cada dia que passa tem seu número reduzido, como pode se comprovar durante as Missas. Cresceu entre os católicos o mito de que a fé se define dentro de casa e não na Igreja. Daí o fato de muitas pessoas se dizerem católicas mas não freqüentarem suas paróquias, não celebrarem as missas. A falta de conhecimento acerca da fé, da vida em comunhão, em comunidade amplia o horizonte do católico não praticante.
A falta da vida em comunidade, a falta do encontro com os irmãos, a falta do banquete eucarístico pode não retirar do católico o conhecimento dele acerca da fé. Mas certamente o afasta do pensamento da Igreja. A vivência de uma fé individualizada contribui para que o católico não praticante fique à mercê de vícios e modismos da sociedade moderna. Como exemplo desse fenômeno tem-se a formação de grupos divergentes da doutrina católica, mas católicos, como a ONG “Católicas pelo direito de decidir”. Ainda exemplificando, tem-se o chamado “católico light”, ou aquele(a) que se diz católico mas enche seu mural no Facebook e sua timeline no Twitter de posts espíritas (vide Chico Xavier e suas frases) e outras doutrinas, horóscopo, etc.
É possível considerar o “católico-light” o próximo recém-convertido a uma seita evangélica, a um grupo espírita ou ao grupo dos “sem religião”. E a razão para isso está no fato deste católico estar totalmente alheio à sua fé e ao seu batismo. Longe das missas, da mesa da palavra, o católico pouco ou nada pode discernir acerca de seu papel na estrutura social e na modernidade. Torna-se uma pessoa facilmente alienável e embarca na primeira canoa furada que lhe oferecerem. O exercício da fé acontece em comunidade. E isto vale para todas as religiões. E como comunidade, entenda-se aqui a sua paróquia, a região onde você pratica a sua fé, ou não.
Diante dessa problemática se insere o arrefecimento da Igreja Católica na sociedade brasileira. No entanto, a migração do povo católico para as denominações evangélicas ou demais religiões não é algo que se possa concluir como definitivo. O “novo convertido” não é uma personalidade passageira até mesmo porque o católico afastado de sua fé, na grande maioria das vezes parte em busca de respostas existenciais para os seus problemas. Seria muita presunção da parte de qualquer religião, proclamar-se dona da verdade e detentora de todas as respostas para os problemas da vida. Aliado a isso está o fato de que a suposta teologia da prosperidade não mais funciona como válvula de escape à problemática social. Além disso, a degradação familiar é fator constante de desgaste da estrutura humana e não encontra remédio em nenhum meio religioso. Com isso, converter-se a uma nova fé não significa necessariamente permanecer nesta nova fé pelo restante da vida.
Portanto, o êxodo dos fiéis católicos, mesmo que comemorado pelas outras igrejas e seitas, não deve ser tratado como a queda da Igreja Católica, tampouco avanço da religião A ou B. O que se pode concluir diante deste fenômeno é o profundo esfriamento da fé em todas as suas formas. Comprovando tal situação tem-se o alto índice de católicos não praticantes ou católicos light e o aumento do grupo dos “sem religião”. O esfriamento da fé deve ser o cerne das discussões acerca da religião no Brasil e no mundo. E esta deve ser feita de forma ecumênica.

Belo Horizonte, 26 de julho de 2012.

A Evolução Religiosa no Brasil: as “Meias Verdades”



Por Deiber Nunes Martins

Se observarmos atentamente os dados do Censo 2010, perceberemos que de 1980 aos nossos dias, a Igreja Católica teve sua maior queda em relação ao número de fiéis. E a partir de 1990 aos nossos dias, os evangélicos tiveram seu maior avanço. Analisar a evolução das religiões no Brasil deve ser um trabalho desafiador, visto que os dados estatísticos refletem apenas uma parcela do comportamento social ao longo do tempo. Sobre esta temática, cabem algumas reflexões.
Em uma reunião paroquial, um dos participantes comentou que a religião que mais avançava no Brasil era a espírita. Esta informação, de fato é verdadeira, mas só em parte. Algumas semanas atrás um conceituado jornalista em seu programa de rádio afirmou que a religião evangélica ainda é a que mais avança no Brasil. Esta informação, de fato também é verdadeira, mas só em parte. Aqui vai o primeiro comentário: segundo as estatísticas, o contingente que mais avançou no Brasil, em percentuais, é o dos sem religião. Informação verdadeira, mas também só em parte.
Ao contrário do que se possa pensar, não se trata aqui do relato de “meias verdades” sobre a evolução das religiões. Todas as informações acima são verdadeiras retiradas do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. O que transforma cada uma das informações em verdade parcial são o contexto, o período da análise e o mais importante, o volume do contingente analisado.
A nível de contexto, a tendência de crescimento dos evangélicos. É muito interessante falar que a religião evangélica avançou mais no Brasil, sendo que por evangélico conhecemos diversas religiões e seitas. Por exemplo existe a Igreja Batista, os Adventistas, a Igreja Universal do Reino de Deus. Sob o rótulo de evangélicos tem-se diversas denominações religiosas que não se misturam e muitas vezes nem se toleram. Então, agrupá-los sobre uma mesma variável, a evangélica é uma falácia. Se desmembrá-los, cada um em sua religião ou seitas será possível ver percentuais irrelevantes de crescimento e até mesmo retrocessos. Então, como se pode explicar o avanço expressivo dos evangélicos no Brasil? Aí vai uma hipótese. A cada dia que passa, aparecem novas seitas evangélicas, principalmente nos bairros mais pobres das grandes cidades. Quanto maior o número de seitas evangélicas, maior será o crescimento desta população se for considerado que boa parte de seus integrantes são compostos por recém-convertidos, oriundos do catolicismo.
Os espíritas são os que mais crescem no Brasil de 2000 a 2010 e aqui tem-se a problemática do período de análise. Se for considerada a última década, então os espíritas foram os que mais avançaram: de 1 para 2%, ou seja 100%. Considerando ainda a última década, nenhuma outra crença religiosa cresceu mais que isso. Todavia é um curto período de analise, em um contingente pouco expressivo.
Em nível de contingente de análise, tem-se o crescimento dos sem religião. Aqui se incluem inclusive os ateus, mas não somente eles. Nos últimos trinta anos, estes saíram de 1 para 8% da população. É o maior crescimento em um espaço de 30 anos. E isto impressiona, se considerarmos os avanços da sociedade neste período. Hipóteses, várias.
Percebe-se que as verdades tratadas são apenas “meias verdades”. E aqui está o perigoso cenário das religiões. Cada um discute o assunto sobre a sua ótica. E cada um analisa os dados do censo conforme lhe convém. Uma análise científica dos dados talvez se aproxime do avanço dos “sem religião” no Brasil. A possibilidade aqui é maior em virtude do período avaliado, do contingente e do contexto. E no tocante aos “sem religião” ainda há um agravante: o contexto lhes permite serem agregados em um só número porque não defendem nenhuma denominação religiosa, apenas a falta de fé. Portanto, falar de religião é algo espinhoso mas também essencial para o entendimento da sociedade moderna. Analisar a evolução religiosa de um país ou de uma região, pode ser o ponto de fusão entre a ciência e a fé.

Belo Horizonte, 26 de Julho de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Escusa do Guma


Por Deiber Nunes Martins

Grande Guma, peça rara. Gumercindo Rodrigues, o Guma, é daquelas pessoas que na simplicidade genuína de ser nos ensinam mais que os “dotores da vida” arranjados por aí.  É a prova viva de que o saber não se resume a academia, ao conhecimento teórico, mas a experiência de vida que muitos não possuem. Mas se julgam no direito de prestar atestado moral a qualquer um.
Certa vez dizia o Guma entre uma e outra cerveja gelada, num boteco copo sujo qualquer, que os amigos lhe chamavam direto e reto pra farrear. A toda hora lhe aparecia um, com o convite pronto, de bate - pronto. Às vezes, Guma se escusava, não com freqüência, mas tinha hora que se cansava da vida.
Normal pra qualquer um.
E num desses arroubos de vontade, Guma respondeu aos amigos que lhe convidavam pra gandaiar:
“O mundo está se acabando, as pessoas sofrendo por todos os cantos do planeta e vocês me chamam pra festejar, festejar o quê?”
Mais do que o discurso daquele momento valia o jeito de Guma falar. E ficou claro para os amigos tudo aquilo que ele quis dizer no desabafo. Tanto que não insistiram.


Às vezes é preciso parar de curtir tudo e pensar um pouco. Refletir sobre os rumos que estamos dando às nossas vidas. Será que há algum sentido. Será preciso eu me molhar sempre na chuva? Será preciso eu compartilhar sempre o sorriso com os outros? Tem horas que o recolhimento é a melhor das diversões, o melhor dos prazeres. Nem sempre a vida deve ser oba-oba. Só de vem em quando...
A palavra de ordem hoje é correria. Tudo é corrido e superficial. Pra não ficarmos no vazio é preciso calma. Diversão é bom e eu gosto! Mas tem horas que o momento requer um passo mais lento, cadenciado, um planejamento, uma reflexão. Se não estamos em allegro nossos amigos não precisam sair deste estado pra nos agradar. É preciso entender. E a recíproca é verdadeira.
Grande Guma! Qualquer hora conto mais sobre ele e sobre sua mulher. Outra peça rara...

Belo Horizonte, 13 de Julho de 2012