segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

As Dores do Caminho

Por Deiber Nunes Martins

Um grande desafio à nossa humanidade é lidar com o sofrimento. Quando a dor bate à nossa porta é o momento onde enfrentamos diretamente nossos medos e nossas imperfeições. É grande a tentação dos que querem justificar a grosseria, a falta de caridade, na dor que está sentindo. E muito maior ainda a tentação dos que querem culpar alguém ou a si mesmo pela dor. Começo agora a falar sobre o tema, e espero concluí-lo em oportunidade fortuita.

Há cerca de um mês, venho sentindo dores de cabeça, dores na nuca e dores inexplicáveis pelo corpo. No começo relutamos em procurar ajuda, eu pelo menos sou assim. Prefiro agüentar a dor a ouvir palpites errados que podem me levar a preocupações exageradas. Pode ser complicado partilhar a dor mesmo com quem está próximo a você, pois numa ocasião de zelo, talvez esta ou estas pessoas podem até prejudicar, ao invés de ajudar. É comum os flagelos da auto-medicação e das loucuras a que o sofredor é submetido. Muitas vezes para agradar. Por isso tudo, sou relutante em buscar ajuda de imediato. E também conhecendo a saúde no Brasil, prefiro consultar com um médico quando o bicho de fato está pegando porque se não eles inventam uma porção de coisas, uma porção de exames e aí, sabe-se lá que conclusões chegarão e quão precipitadas podem ser.

Mas estas dores não me deixaram em paz e então visitei um médico perto de casa, que sem muito me examinar concluiu resoluto: virose. Receitou analgésicos e me garantiu em três dias estar curado. Passaram-se os três dias. Passaram-se quase quinze e resolvi procurar outro médico. Este outro médico mais detalhista, me examinou e me fez um caminhão de perguntas, algumas que tive até dificuldade de responder, por não conseguir puxar da memória. Ao final da consulta, receitou-me um medicamento que até fez efeito por alguns dias, mas eis que a dor está de volta. E às vezes até mais forte.

Sabe quando você não sabe o que fazer? Pois é, é como me sinto, diante dessa dor. E quando não sabemos o que fazer, acabamos por pedir ajuda a quem está próximo. Primeiro, as pessoas da família. A recomendação é unânime: procurar outro médico, que o problema é sério. Problema sério. Problema quando vem sozinho já é problema. Imagina quando vem acompanhado do “sério”! Se você não tem estrutura, desespera. Eu, com isso, consigo muitas vezes me colocar no lugar das pessoas. Muitos de nós nos culpamos por tudo, somos inseguros, imaturos, com mania de perseguição. Se alguém se volta para uma pessoa deste tipo e diz que o problema é sério, aí é que será mesmo. Pois a pessoa terá um troço. Recuperando do baque do “problema sério”, vamos aos amigos. E quando se recorre aos amigos, o mínimo que se espera é um vago desejo de melhoras. Talvez, com alguma sorte, um carinho, um afago e com mais sorte ainda a resolução do “problema sério”. Mas, dos amigos verdadeiros, basta que estejam com a gente, sofrendo junto, mesmo sem sentir, apenas pra dar o “apoio moral”.

Ledo engano. Pelo menos pra mim. Ao longo dos dias, o que mais escutei dos amigos, foi para tomar cuidado que pode ser sério. Que DEVE ser sério. Afinal, com dor de cabeça não se brinca. Eu não brinco com dor nenhuma! E ao final de cada conversa, porque será que a minha cabeça dói ainda mais?

Um(a) amigo(a) de verdade, precisa entender que não precisa entender do problema do amigo, para ajudá-lo. E que muitas vezes, o amigo só partilha o sofrimento, porque está se sentindo sozinho diante dele. Então é preciso perceber, o sofrimento bateu à porta do meu amigo. Eu não posso pedir pro sofrimento sair da casa dele e ir se alojar na minha casa, mas eu posso ir à casa do meu amigo, ficar lá em silêncio, com ele. Às vezes a companhia silenciosa vale mais que a companhia falastrona. E quando se lida com a internet, há ainda mais um detalhe: a web não mede o silêncio corretamente. Nela, o silêncio é como fleuma, ninguém está se importando, todos se calam. Então os amigos precisam se dizer, mas se dizer com amor. Pra não assustar ainda mais quem sofre. Se eu não posso dar carinho, conforto e consolo a meu irmão que sofre, que pelo menos eu respeite a sua dor e trabalhe em mim, uma maneira de quebrar o meu egoísmo. E é tão difícil!

Muitas vezes chegamos perto de quem tem sofrimento maior que o nosso e derramamos todas as nossas dores, como se fosse ele/ela, um coletor de lixo, à espera dos nossos lixos. Lidamos com o problema como se ele fosse um lixo, um entulho. Mas o problema nada mais é que uma oportunidade de crescimento à nossa porta. Sofrer não vai te fazer bem, mas certamente, lhe fará ser melhor com você e com os outros.

Quando eu olho minha dor, eu preciso estar preparado pra saber que a dor do outro, ainda pode ser maior que a minha. Mas quando está doendo a gente murmura porque não quer estar sozinho diante da dor.

Então, diante desta dor persistente, meu Senhor, eu digo que estou aprendendo com ela. Aprendendo a entregar a Ti todo o meu fardo e não ao meu irmão, aos meus amigos. Eu preciso respeitá-los, pois não sei qual o momento em que vivem. Pai de amor e de bondade, eu te entrego nesta madrugada, a dor que sinto, toda dor que sinto. E vos louvo, pela dádiva de colher frutos também em minhas misérias. Eu não sei como será amanhã cedo, Senhor. Mas sei que contigo, certamente eu poderei caminhar com esta dor. Muito obrigado, meu Deus!

Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ENEM, a próxima estação


Por Deiber Nunes Martins

G'day mate!

Caríssimo(a), que Deus abençoe sua jornada e te mantenha perseverante rumo ao teu sonho de passar no ENEM e ter sua vaga garantida em uma boa universidade. Dica de quem já viveu tudo isso: mantenha a calma e não deixe nada te abalar, nem mesmo a dificuldade da prova.

Eu tentei a UFMG no tempo do Vestibular (ENEM ainda não tinha sido inventado) por 3 vezes. Nas duas primeiras estava despreparado, mas na 3ª coloquei como estação de minha vida, a matrícula na UFMG. E quando você define sua próxima estação de parada, você toma o fôlego da locomotiva, nada te pára. Obviamente, uma locomotiva não chega sozinha, precisa de um condutor e este só pode ser Jesus. Mantive meu foco em Deus e deixei Ele me guiar pelas trilhas tortuosas rumo a Universidade.

No caminho, muitas pedras. Um assalto, onde reagi e quase fui morto pelos assaltantes, me tirou os livros do cursinho e meu caderno com todas as anotações preciosas para as provas. O foco em Jesus, me fez perceber que não conseguiria sozinho, que precisava jogar fora todos os meus orgulhos e vaidades tolas e recorrer aos colegas que ali no cursinho eram também meus concorrentes. Quando você está em Cristo você está aberto a amizade, a acolhida. Seus gestos não são falsos e as pessoas reconhecem autenticidade em suas ações. É nessa hora que a cada pessoa que passa por seu caminho, avista o farol de Jesus, a estrela de Belém em sua testa. Então, mesmo aqueles que concorriam a mesma vaga de Administração Noturno comigo, me ajudaram emprestando livros e cadernos.

Mas ainda assim, as pedras no caminho sempre aparecem. Lembro que na semana do vestibular, a namorada que tinha, resolveu romper comigo. Então no dia da prova de primeira etapa, fui de coração partido fazê-la. Mas o foco firme no meu Guia: o Bom Jesus.

Na segunda etapa, meu inimigo mortal parecia ser a matemática. E era uma terrível prova aberta, putz que loucura! Parecia que eu não sabia nada. Mas meu foco estava ali, firme. Sabia que tinha feito as outras provas de modo perfeito e sabia que nada podia deter a minha locomotiva. Segui em frente, mesmo sendo um dos últimos a entregar uma prova com 3 (três) questões em branco. Detalhe: a prova tinha 8 (oito) questões. Quando entreguei ao monitor minha prova de matemática, parecia que estava sem cor, sem pulso e sem qualquer sinal vital aparente. Eu parecia estar fora de mim.

Minha cor voltou quando ao sair do prédio do ICB onde fazia a prova, vi uma multidão saindo junto comigo, parecendo um batalhão ao final de uma terrível batalha: cansaço, choro, desolação, decepção, frustração. Deus do Céu! Eu estava bem, todos estavam no mesmo barco que eu.

A partir dali, a certeza da aprovação, me fez caminhar em paz. A certeza da aprovação naquele funil me fez bater o olho na lista dos aprovados e ver o meu nome antes de qualquer outra coisa. E a sensação de ver o seu nome na lista dos aprovados em vestibular é uma das coisas mais lindas que podemos ter na vida. Enfim, saí dali sem rumo, vitorioso, feliz. Prudente como sempre procuro ser e já fugindo dos amigos que me caçavam com a máquina de raspar cabeça nas mãos, fui ao salão e declarei decidido ao meu barbeiro: rapa tudo, pode passar a zero. Ele, acreditando estar diante de alguém que perdeu o juízo disse:

"Tudo bem, o freguês sempre tem razão."

No que respondi de bate-pronto:

"Fica tranquilo, rapaz! Passei no vestibular!"

Eu queria estar de cabeça raspada e de alma lavada. Fui até a Igreja onde sempre rezava e agradeci copiosamente aquele presente do Senhor em minha vida. E nessas horas, mais que em todas as outras, Deus é a melhor companhia que alguém pode ter. Procuramos a Deus na hora do infortúnio, do medo, da angústia e seu Amor, seu carinho para conosco é inquestionável. Mas só conhecemos de fato a imensidão deste Amor, quando na hora da alegria, buscamos a Ele em primeiro lugar para agradecer. E em seguida vamos em cada santo ou santa com o qual pedimos intercessão, agradecendo. Foi o que fiz.

Deus foi tão bom, que colocou meu pai, minha mãe e meus irmãos no meio do quintal de casa à minha espera. Para que ao se depararem com o filho chegando com a cabeça raspada, pudessem pular de alegria e soltarmos juntos aquele grito de vitória guardadinho na garganta por todo aquele tempo...

Nesta hora, na hora da vitória, da comemoração, na hora em que o trem chega a sua estação, os pedregulhos, as dores, as fadigas e todas as dificuldades do caminho se tornam tão pequenas que nos vemos fortalecidos o suficiente pra reviver tudo aquilo de novo.

E é esta força que nos faz seguir, estação a estação, destino a destino. É uma força espiritual, não vem da gente, mas vem Daquele que muito nos ama e que grita conosco a nossa alegria, a nossa felicidade: Jesus!

É meus caros amigos, a cada vitória nossa, a cada conquista, Deus faz uma festança no Céu.

Belo Horizonte, 19 de outubro de 2011.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Cuca e a Categoria de Base do Galo



Por Deiber Nunes Martins

O plantel do Galo é bom e ouso dizer até que no momento, é melhor que o dos nossos rivais. Estava faltando profissionalismo. Cuca de início vai conseguir motivar os caras. Quem estava de sacanagem com o Dorival vai querer dar um "sanguinho" a mais, jogador que machucar após o estouro da regra 3, vai segurar a onda até o final pra fazer média com o treinador, enfim, as coisas vão se acalmar. Até a próxima crise chegar, a diretoria insistir em morrer abraçada com o Cuca, e o suplício do torcedor voltar... Minha torcida, é que esta crise venha no início do ano, antes das finais do Mineiro, pois aí dá tempo de consertar.

Torço ainda, para o Cuca fugir da mesmice e ter uma visão mais ampla sobre o Atlético. Assim, ele perceberá boas oportunidades na categoria de base e preparará os meninos para entrarem no grupo, nos momentos propícios, e não em verdadeiras fogueiras. Este lateral direito Roger, por exemplo. É o cara pra resolver este problema crônico do Galo. Porém, precisa ser preparado. É o cara pra entrar no time nas primeiras rodadas do ano que vem, no Mineiro, ganhar confiança e aí assumir a titularidade. Pra isso, o técnico tem que ser inteligente. Tudo bem, Patrik não dá mais. Mas o Mancini não joga no meio ou ataque nem em time de várzea. Então, que o Cuca exija que ele jogue como ala, pela direita. Assim, podemos usar os três zagueiros, que pra mim devem ser Lima, Leo Silva e Réver. Luis Eduardo e Werley são boas opções para o banco. E ano que vem, tragam de volta o Welton Felipe! Ao mesmo tempo em que a dupla de zaga campeã da Taça BH seja preparada pra ascender aos profissionais. Os meninos são bons. Tomara que não sejam fritados. Na lateral esquerda, vamos quebrar a cabeça com o que temos de momento. Pensemos em preparar o Pavão, menino da base, que fez uma boa Taça BH para o ano que vem.

No meio, Felipe Soutto volta e ao lado dele, tanto faz Toró, Richarlysson ou Serginho. Tenho preferência pelo último, por ser quase cria da casa, e ter mais compromisso com o Glorioso. Na frente, seria interessante ver Dudu Cearense e Daniel Carvalho, se motivados estiverem. Caso contrário, a porta da rua é a serventia da casa. Guilherme pode também ser uma alternativa interessante, afinal foi jogando no meio pra frente, que ele se destacou na raposa.

E no ataque, André provou ser um atacante de talento, mas frio. Dificilmente vingará no Galo. Todavia, se conseguirmos achar um "Marques" pra ele, se torna artilheiro ainda desse campeonato. Talvez a dupla Magnata e Berola, um em cada tempo, possam não dar um "Marques", mas se aproximar disso. Obina também é uma boa opção para ser a sombra de André. A turma da base, Paulinho, Bernard, Leleu e alguns outros da frente, podem ser aproveitados sem compromisso em jogos da Sul Americana ou em determinados momentos do Brasileirão, entrando no fim das partidas. A responsabilidade sobre eles é bem menor que sobre a turma da defesa, assim, a preparação pode começar ainda este ano.

Finalizo sugerindo a diretoria trazer de volta o Nicão, que está escondido, acho que no Bahia e pode render muito neste time do Galo. Quanto ao Giovanni Augusto, o cara é bom, mas precisa saber o que é o Glorioso Galo e sua maravilhosa torcida, pegando bagagem em outros times. Como o Brasileirão está bem adiantado, talvez uma passagem pela Série B lhe faça voltar com todo gás em 2012. E quanto a eterna promessa Renan Oliveira, é o tipo de jogador que falta ao América. Não sei se ele jogou mais de seis vezes no Galo, caso não, pode ajudar a salvar o Coelho da degola. E se consagrar lá. No Galo acho que pra ele não dá mais.

Enfim, é triste ver entrar ano e sair ano e o Galo nesse marasmo, envolto em crises e mais crises. Todavia, sou um dos poucos a estarem otimistas com o Cuca. Espero que dê resultado. Espero também que a parte da imprensa mal intencionada com o Clube coopere e não plante crise logo no primeiro revés do novo treinador atleticano. Que Deus possa abençoar esta torcida apaixonada que não existe em lugar nenhum da Terra e possamos ter algum alento doravante.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Matrimônio, o Sacramento da Criação

O casamento é uma entrega mútua de amor
Por Pe. Paulo Ricardo

A "Teologia do Corpo" faz parte dos ensinamentos proferidos pelo saudoso Papa João Paulo II; é um conjunto de 129 catequeses que dizem respeito ao amor humano.

Nós nos voltamos para o dom extraordinário da Santa Missa, na qual Deus se entrega por nós. O que a Eucaristia tem a ver com o matrimônio? O saudoso Pontífice polonês viu, com clareza, a existência de um nexo, uma ligação entre a comunhão que vivemos na Eucaristia e no ato conjugal, unindo ambos.

Nas 129 catequeses, João Paulo II nos fala de duas uniões: O casamento de Adão e Eva, no livro de Gênesis, e as núpcias do Cordeiro, no livro do Apocalipse, no casamento em que Deus se une à humanidade. Hoje os casamentos duram pouco, pois logo se deterioram em função da cobrança. Qual é a cobrança no casamento? A felicidade; o casamento está mal porque essa cobrança é injusta. Ninguém é capaz de fazer o outro feliz; fomos feitos para Deus.

Santo Agostinho nos recorda: "O coração é inquieto até que se encontre em Deus". Na terra, somos como uma pessoa que viajou à noite toda, coloca a cabeça de um lado e de outro sem ter como repousá- la. A vida neste mundo é uma viagem, na qual nós não temos onde repousar a cabeça. Não podemos transformar o outro no porto seguro, pois somos companheiros de viagem.

Papa João Paulo explica que, antes da vinda de Jesus, o matrimônio era uma espécie de sacramento da criação. O homem e a mulher ajudam nessa criação, no ventre da mulher acontece o milagre de criar do nada a alma do ser humano [com a graça do Espírito Santo]. A Igreja não é contra o sexo; ela aprecia tanto a sexualidade e dá tanto valor a isso que lhe dá um valor sagrado. Por sua natureza, o sexo tem algo de divino, mas isso ainda não é o suficiente para torná-lo sacramento.

O casamento entre dois batizados é um sacramento, porque é uma participação na redenção, é salvífico porque é uma entrega. É a entrega da sua vida para fazer com que o outro chegue à felicidade, que é Jesus. Você não é a fonte da felicidade, mas deve entregar a sua vida para alcançar a felicidade, um se faz sacrifício ao outro.

O ato da união sexual entre o marido e a mulher é prazeroso, faz com que ambos fiquem satisfeitos, mas também é uma entrega. O esposo entrega o seu corpo à esposa, e ela se entrega ao esposo, é uma doação. Essa entrega em Cristo é um sacramento, não simplesmente pela criação de Adão e Eva, mas no ato da cruz.

Quando pagãos se unem no casamento participam da criação. Mas, quando batizados se unem em matrimônio eles participam da Igreja. Essa união maravilhosa de entrega mútua entre Cristo e a Igreja se torna visível na entrega pela sua esposa e pelo seu esposo.

Na Eucaristia vivemos o grande mistério em que o Esposo [Nosso Senhor Jesus Cristo] entrega o Seu Corpo pela Esposa [Igreja]. O Esposo dá tudo o que é por amor. O matrimônio é uma "cruz", pois é uma entrega de amor. O mundo perdeu a noção do amor, ele não é subjetivo e pessoal.

Quando os namorados se unem sexualmente, muitos criticam a Igreja dizendo que julgamos o amor deles, mas isso não é amor, é egoísmo. Nós católicos sabemos que amor não é sentimento, mas existe um sentimento que acompanha o amor, pois o amor é uma entrega e não é um sentimento subjetivo, pois, você pode se sentir bem tomando um veneno, como as drogas. O mundo moderno quer “viajar” no amor, quer se sentir bem, mas o sentimento pode ser gostoso e profundamente egoísta.

O sexo é uma entrega total, o corpo fala, pois é uma linguagem. Se uma pessoa diz: "Eu te amo" – com os lábios cerrados e com gestos negativos – você vai acreditar no corpo ou na palavra dela? O corpo, na relação sexual entre marido e mulher, diz: "O meu corpo é todo seu". Mas quando o sexo está no namoro não há entrega total; quando cada um vai para sua casa é uma mentira. Somente no matrimônio, na entrega para sempre, é que ocorre a entrega total, isso é redentor, sacramento que Jesus nos revelou na cruz.

Você vive uma crise conjugal? Olhe para a cruz no sacrifício do calvário e peça a Deus a força de se entregar, em derramar o sangue pelo (a) seu (sua) esposo (a) e filhos.

Papa Bento XVI afirmou: "O amor-ágape deve buscar forças no amor-erótico", ou seja, no amor que temos. Ao desejar Deus, podemos usar nossos afetos. O amor não é só sentimento, mas ele se expressa no desejo.


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=12433

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Rompa com as tradições mortas para seguir Jesus

Por Pe. Bantu Mendonça

Estamos diante de dois fatos importantíssimos, como cristãos somos chamados a seguir as pegadas do Mestre: “Tu vens e segue-me”. A opção de seguir Jesus não é minha iniciativa pessoal. É Ele quem me chama e me consagra para a missão. Depois que Ele me chamou, eu – sabendo das exigências da missão – devo responder ‘sim’ incondicionalmente. Ora, vejamos o que se segue:

Primeiro, um escriba se aproxima afirmando sua determinação de seguimento incondicional a Jesus: “Mestre, estou pronto a seguir o senhor para qualquer lugar aonde o senhor for”. A resposta de Jesus Nazareno é uma advertência para uma tomada de posição consciente quanto à opção pelo Seu seguimento. Apela para o abandono total de si mesmo e renúncia aos bens materiais: “As raposas têm as suas covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde descansar”.

Quem realmente quer seguir a Jesus Cristo deve abandonar e renunciar a tudo e confiar-se somente nas mãos providentes de Deus Pai. Jesus, ao afirmar “o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”, quer nos ensinar e levar a aderir ao abandono total nas mãos do Pai.

Segundo, é o caso de um dos discípulos que quer ganhar tempo e pede que Jesus permita enterrar o pai: “Senhor, deixe-me primeiro ir enterrar meu pai”.. “Pai”, aqui, não se aplica no sentido biológico, mas na permanência das tradições judaicas dos seus antepassados, presos à Lei que – em vez de salvar e libertar o homem – mata e escraviza.

Para nós, é estarmos preso às nossas idéias egoístas, no orgulho, na vaidade, na preguiça, no individualismo, na nossa tibieza, enfim, nas inúmeras desculpas que nós damos no nosso dia a dia para não nos consagrarmos ao ministério do Senhor como discípulos e missionários d’Ele.

Do mesmo modo que Jesus insistiu com esse homem, assim Ele insiste conosco dizendo:“Deixe que os mortos sepultem os seus mortos e tu vens e segue-me”. O chamado de Cristo não está no futuro, mas sim no presente. O tempo é hoje e a hora é agora! Deixe que os “espiritualmente” mortos cuidem dos seus próprios mortos.

Há pessoas que vivem esperando as coisas se ajeitaram para depois servirem a Deus. Nós, meu irmão, não temos nem o poder nem o dever disso. E tampouco o direito de dizer ‘não’, portanto, levante-se e siga a Jesus. Ele é o seu Deus e o seu Senhor!

Pare de dar desculpas “furadas”! Quero que saiba que, quando obedecemos a um chamado de Deus, Ele é poderoso para suprir nossas necessidades e nos orientar em toda espécie de dificuldades relacionadas ao Seu chamado para nossa vida.

Rompa, pois, com todas as barreiras que vedam os seus olhos para não enxergar o projeto de Deus sobre você. Entenda que o “seguir a Cristo” significa uma ruptura pura e simples com as antigas tradições mortas que não favorecem a vida e aderir ao amor vivificante do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Fonte: Homilia Diária de 27.06.2011 in http://blog.cancaonova.com/homilia/

quarta-feira, 15 de junho de 2011

As dez mais de minha playlist nacional

Por Deiber Nunes Martins

10. Ira! – Envelheço na Cidade (Álbum “Vivendo e não Aprendendo” – 1986)

Envelheço na Cidade

Mais um ano que se passa

Mais um ano sem você

Já não tenho a mesma idade

Envelheço na cidade

Essa vida é jogo rápido

Para mim ou pra você

Mais um ano que se passa

Eu não sei o que fazer

Juventude se abraça

Se une pra esquecer

Um feliz aniversário

Para mim ou pra você

Feliz aniversário

Envelheço na cidade

Feliz aniversário

Envelheço na cidade

Meus amigos, minha rua

As garotas da minha rua

Não sinto, não os tenho

Mais um ano sem você

As garotas desfilando

Os rapazes a beber

Já não tenho a mesma idade

Não pertenço a ninguém

Juventude se abraça

Se une pra esquecer

Um feliz aniversário

Para mim ou pra você

Feliz aniversário

Envelheço na cidade

Feliz aniversário

Envelheço na cidade

“Envelheço na Cidade” é meu “Happy Birthday”, minha música predileta de aniversário. Impressionante como uma banda quase punk como o “Ira!” conseguiu esta música com letra tão real e marcante. Improvável pensar que Edgar Scandurra pudesse dar vida a esta música e ele deu.

Muitas vezes, as pessoas comemoram o aniversário não como a dádiva de se ficar mais velho, mas justamente pela esperança de esquecer este fato. Muitos comemoram orgulhosos, por ter um dia do ano, reservado para si.

Mas há quem “comemore” com esta música, o amor perdido. E na verdade a sua essência está aí, em se contar o tempo passado sem o amor que ficou para trás. É uma música de pessoas apaixonadas, vítimas de amores que não deram certo e que precisam dizer pro mundo que estão bem, que superaram, que estão felizes. E então reservam a data “mais um ano sem você”, como se o amor se resumisse na pessoa perdida, não amor não realizado.

Gosto muito de ouvir “Envelheço na Cidade” como uma música-protesto à hipocrisia das relações, às falsidade, os “tapinhas nas costas”, aquela coisa descompromissada que muitos insistem em chamar de amizade.

9. Lulu Santos – Eu sou Outro Você (Álbum “Liga Lá” – 1997)

Eu Sou Outro Você

Tempo é arte, foi o que eu aprendi

Não é dinheiro ou outra coisa que se conte

É uma outra dimensão

Toda vida vive da luz do sol

Que se faltasse tudo então pereceria

Foi o que eu aprendi de tanto ver se repetir

Que anestesia, e eu já nem sentia, ia me destruir

Mas não aconteceu, estou aqui...

Toda vida, eu quis tanto querer

Como se não bastasse o que já me cabia

Na esfera emocional

Na verdade eu sou o outro você

Tanto que enxergo em ti o que em mim não veria

Foi o que eu aprendi de tanto ver se repetir

Que anestesia, e eu já nem sentia, ia me destruir

Mas não aconteceu, estou aqui...


Esta música é de uma profundidade ímpar. Soa em nossos ouvidos como uma reflexão de vida e na verdade ela mostra como nos cercamos de pessoas que se assemelham a nós. Talvez seja por isso que as pessoas diferentes são mais solitárias que as medíocres, pois têm dificuldade em encontrar seus semelhantes.

Esta canção fala sobre a mesmice do nosso tempo, as ambições, o consumismo e coisas que nos sufocam e até nos consomem se damos espaço. Os versos “Na verdade eu sou outro você/ Tanto que enxergo em ti o que em mim não veria” me impressionam porque o outro é muitas vezes como o nosso reflexo no espelho, de tão anestesiado que está pela nossa convivência.

8. Legião Urbana – Quase sem Querer (Álbum “Dois” – 1986)

Quase Sem Querer

Tenho andado distraído, impaciente e indeciso

E ainda estou confuso só que agora é diferente:

Estou tão tranquilo e tão contente.

Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria

Era provar pra todo o mundo

Que eu não precisava provar nada pra ninguém.

Me fiz em mil pedaços pra você juntar

E queria sempre achar explicação pro que eu sentia.

Como um anjo caído fiz questão de esquecer

Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira.

Mas não sou mais

Tão criança a ponto de saber tudo.

Já não me preocupo se eu não sei porquê

Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê

E eu sei que você sabe quase sem querer

Que eu vejo o mesmo que você.

Tão correto e tão bonito

O infinito é realmente um dos deuses mais lindos.

Sei que às vezes uso palavras repetidas

Mas quais são as palavras que nunca são ditas?

Me disseram que você estava chorando

E foi então que percebi como lhe quero tanto.

Já não me preocupo se eu não sei porquê

Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê

E eu sei que você sabe quase sem querer

Que eu quero o mesmo que você

Quem viveu os anos 80, 90 de verdade, tem Legião Urbana em sua playlist. Conhecida como a banda que marcou a geração da qual faço parte. “Quase sem Querer”mostra um pouco da dificuldade em ser incompreendido. Sempre me vejo nesta música, justamente dificuldades que meu temperamento me oferece. Quase ninguém vê o que vejo e isto é uma constante. É angustiante estar no olho do furacão muitas vezes e ter de tomar decisões que nem sempre me julgo capaz de tomar. Mas a vida é feita de erros e acertos e precisamos seguir em frente. Sem dúvida alguma, esta música é um dos meus hinos.

7. Lulu Santos – Tempos Modernos (Álbum “Tempos Modernos” -1982)

Tempos Modernos

Eu vejo a vida melhor no futuro

Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia

Que insiste em nos rodear

Eu vejo a vida mais clara e farta

Repleta de toda satisfação

Que se tem direito

Do firmamento ao chão

Eu quero crer no amor numa boa

Que isto valha pra qualquer pessoa

Que realizar

A força que tem uma paixão

Eu vejo um novo começo de era

De gente fina, elegante e sincera

Com habilidade

Pra dizer mais sim do que não, não não

Hoje o tempo voa, amor

Escorre pelas mãos

Mesmo sem se sentir

Que não há tempo que volte, amor

Vamos viver tudo o que há pra viver

Vamos nos permitir

Outra pérola do Lulu é esta música. “Tempos Modernos” fala da esperança na juventude, nas nossas reais chances de mudar o mundo. É um convite a aproveitar a vida, se permitir. Quantos jovens hoje andam por aí, deprimidos, trancados no quarto enquanto a vida pede passagem, indulgente com nossos erros e benfazeja aos acertos. Sem dúvida, Lulu Santos fez desta música, um hino à juventude.

6. Almir Sater – Ando Devagar

Ando Devagar

Ando devagar porque já tive pressa,

E levo esse sorriso, porque já chorei demais,

Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,

Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou

Nada sei, conhecer as manhas e as manhãs,

O sabor das massas e das maçãs.

É preciso amor pra puder pulsar, é preciso paz

Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida, seja simplesmente

Compreender a marcha, ir tocando em frente,

Como um velho boiadeiro, levando a boiada

Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou,

Estrada eu sou, conhecer as manhas e as manhãs,

O sabor das massas e das maças,

É preciso amor pra puder pussar, é preciso paz

Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,

Um dia a gente chega, no outro vai embora,

Cada um de nos compõe a sua história, cada ser em si

Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz,

conhecer as manhas e as manhãs,

O sabor das massas e das maças,

É preciso amor pra puder pussar, é preciso paz

Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa,

E levo esse sorriso, porque já chorei de mais,

Cada um de nos compõe a sua história, cada ser em si

Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz

Talvez seja esta a letra mais bonita de toda a música brasileira. E mais significativa também. A vida é um aprendizado. Se no começo andamos aos atropelos, o sofrimento, as marcas da vida vão nos ensinando a parar, a recomeçar e a seguir num ritmo mais moderado. A experiência é a nossa história de vida, tudo o que levamos conosco ao longo do caminho. É ao longo da jornada também que vemos nossa soberba ser vencida pela humildade de se reconhecer sabedor de nada. Pois assim, de fato, experimentamos todos os sabores da vida, vivenciamos todas as emoções, sem o orgulho próprio da nossa imaturidade. Esta música, como toda sua cadência, todo o seu ritmo, mostra como a vida deve ser levada sem atropelos, aproveitando cada dia como se fosse o último e aprendendo dia a dia a ser feliz hoje.

5. Barão Vermelho - Meus Bons Amigos (Álbum “Carne Crua” – 1994)

Meus Bons Amigos

Meus bons amigos, onde estão

Notícias de todos quero saber

Cada um fez sua vida de forma diferente

Às vezes me pergunto: Malditos ou inocentes?

Nossos sonhos, realidades

Todas as vertigens, crueldades

Sobre nossos ombros aprendemos a carregar

Toda a vontade que faz vingar

No bem que fez pra mim

Assim, assim, me fez feliz, assim

O amor sem fim

Não esconde o medo

De ser completo e imperfeito

Meus bons amigos, onde estão

Notícias de todos quero saber

Sobre nossos ombros aprendemos a carregar

Toda a vontade que faz vingar

No bem que fez pra mim

Assim, assim, me fez feliz, assim

O amor sem fim

Não esconde o medo

De ser completo e imperfeito.

Um dos expoentes do rock nacional brasileiro, o Barão Vermelho tem algumas músicas que me fazem pensar muito. “Meus Bons Amigos” é uma delas. Retrata como nos distanciamos dos amigos, das pessoas que gostamos, com o passar do tempo. E é assustador perceber que muitas vezes nós somos culpados por isso.

Seja por medo, timidez ou mesmo por nos faltar confiança, deixamos de fazer a coisa certa, fazer a diferença na vida dos outros. Talvez o momento em que eu viva, de estar perdendo a fé nas pessoas, na capacidade de mudança, talvez este momento um tanto quanto sombrio, esteja me fazendo refletir sobre os valores básicos da vida. Amizade é um deles. Mas é muito difícil ser amigo hoje em dia. Infelizmente estamos perdendo a capacidade de compreender que amigo não é só aquele que pode nos fazer um favor. Estamos deixando a falta de tempo e as seduções do mundo moderno nos dominar a ponto de não curtirmos mais a companhia das pessoas queridas, sem alguma coisa estar por trás disso. De positivo, fica a esperança em nossa capacidade de virar o jogo. Só depende da gente. Mas é preciso dar o primeiro passo...

4. O Rappa - Rodo Cotidiano (Álbum “O Silêncio que Precede o Esporro” – 2003)

Rodo Cotidiano

Ô Ô Ô Ô Ô My Brother (4x)

A ideia lá comia solta

Subia a manga amarrotada social

No calor alumínio

Não tinha caneta nem papel e uma ideia fugia

Era o rodo cotidiano

Era o Rodo cotidiano.

O espaço é curto quase um curral

Na mochila amassada uma quentinha abafada

Meu troco é pouco É quase nada (2x)

Ô Ô Ô Ô Ô My Brother (4x)

Não se anda por onde gosta

Mas por aqui nao tem jeito todo mundo se encosta

Ela some ela no ralo de gente

Ela é linda mas não tem nome

É comum e é normal

Sou mais um no Brasil da Central

Da minhoca de metal que corta as ruas

Da minhoca de metal

Como um Concorde apressado cheio de força

Voa, voa pesado que o ar

E o avião, o avião, avião do trabalhador

Ô Ô Ô Ô Ô My Brother (4x)

Ô Ô Ô Ô Ô My Brother (4x)

Um diário no front da batalha de classes no Brasil. “Rodo Cotidiano” tem um pouco disso. A discrepância entre os mais ricos e os mais pobres mostra vários países num só Brasil. E é no relato sobre o transporte coletivo que conhecemos este Brasil marginalizado, feio e pobre, onde o trem urbano é o avião do trabalhador.

Nós muitas vezes ignoramos a essência do país em que vivemos. Este país de dimensões e culturas continentais tem como essência, aqueles que de fato o sustentam, que é a massa trabalhadora. O Brasil é daquele que leva sua quentinha abafada e é menosprezado em seu próprio país.

Enquanto a mídia quer nos empurrar o Brasil dos estrangeirismos, de uma pseudo-classe média, o Brasil de verdade passa a nossa porta, conduzido pela minhoca de metal que entorta as ruas...

3. Lulu Santos – Casa (Álbum “Lulu” – 1986)

Casa

Primeiro era vertigem omo em qualquer paixão

Era só fechar os olhos

E deixar o corpo ir

No ritmo...

Depois era um vício

Uma intoxicação

Me corroendo as veias

Me arrasando pelo chão

Mas sempre tinha a cama pronta

E rango no fogão

Luz acesa, me espera no portão

Pra você ver

Que eu tô voltando pra casa

me ver

Que eu tô voltando pra casa

Outra vez

Às vezes a tormenta

Fosse uma navegação

Pode ser que o barco vire

Também pode ser que não

Já dei meia volta ao mundo

Levitando de tesão

Tanto gozo e sussuro

Já impressos no colchão

Pois sempre tem a cama pronta

E rango no fogão

Luz acesa, me espera no portão

Pra você ver

Que eu tô voltando pra casa

me ver

Que eu tô voltando pra casa

Outra vez

Primeiro era vertigem

Como em qualquer paixão

logo mais era um vicio

me arrasando pelo chão

pode ser que o barco vire

também pode ser que não

já dei meia volta ao mundo

levitando de tesão

pois sempre tem a cama pronta

E rango no fogão

Luz acesa, me espera no portão

Pra você ver

Que eu tô voltando pra casa me ver

Que eu tô voltando pra casa

Outra vez

Lulu Santos é daqueles músicos que flertam com a diversidade de sons. Este, sem dúvida foi o seu melhor momento, com o álbum “Lulu” de 1986, sendo considerado uma referência para os anos 80. “Casa” é uma de suas melhores composições e retrata a realidade de muita gente. Por inúmeras vezes me vejo nesta música.

Sempre precisamos de um retorno, de uma volta, que seja pra casa, ou pra dentro de nós mesmos. Um recomeço ou simplesmente, um retorno. Retorno ao conforto, ao nosso lugar, onde encontramos alguém à nossa espera, a comida quente no fogão. A minha geração tem esta sede por aventura, e sempre estamos arriscando, indo além. É como sabemos viver. Todavia, toda aventura tem seu preço, que nem sempre estamos dispostos a pagar...

O bacana disso tudo é a certeza de poder voltar. Mesmo que o custo seja alto, nos é permitido voltar. Feliz aquele que não faz de sua jornada um caminho sem volta. Feliz aquele que segue, que arrisca, que vive entre acertos e erros, mas que sempre almeja o retorno pra casa, seu lugar de descanso, de repouso. Seu aconchego.

2. O Rappa – Minha Alma (Álbum “Lado B Lado A” – 2000)

Minha Alma

A minha alma tá armada

E apontada para a cara

Do sossego

Pois paz sem voz

Paz sem voz

Não é paz é medo

Às vezes eu falo com a vida

Às vezes é ela quem diz

Qual a paz que eu não quero

Conservar pra tentar ser feliz (x4)

As grades do condomínio

São para trazer proteção

Mas também trazem a dúvida

Se é você que está nessa prisão

Me abrace e me dê um beijo

Faça um filho comigo

Mas não me deixe sentar

Na poltrona no dia de domingo, domingo

Procurando novas drogas

De aluguel nesse vídeo coagido

É pela paz que eu não quero

Seguir admitindo

É pela paz que eu não quero, seguir

É pela paz que eu não quero, seguir

É pela paz que eu não quero, seguir

Admitindo

Já disse Tony Stark, o Homem de Ferro: “Paz é quando nossa arma é maior que a do outro”. Na verdade, cada um tem seu conceito formado sobre a paz. Mas a como a música diz, “Qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz”. A paz vem do interior de cada um, é algo intrínseco ao homem. Não se pode dar aquilo que não se tem.

O Rappa mostra nesta música toda a hipocrisia da sociedade brasileira, escondida atrás dos muros dos condomínios de luxo, procurando drogas de todos os tipos na TV sempre manipuladora, enquanto a vida corre lá fora, com seus medos, seus riscos e desafios. Não é possível privar-se da vida, privar-se do mundo lá fora, mesmo que traga consigo toda espécie de riscos e malefícios.

A “minha alma” é um reflexo de como nos armamos interiormente em gestos egoístas e nos desarmamos exteriormente, deixando que o mundo, os governos, o politicamente correto, as tendências tomem as rédeas da situação. Assim somos manipulados, manietados e dependentes de um sistema opressor e excludente. Isto é a realidade só não ver quem não quer.

1. Legião Urbana – Há Tempos (Álbum “As Quatro Estações” – 1989)

Há Tempos

Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade.

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão

E o descompasso e o desperdício herdeiros são

Agora da virtude que perdemos.

Há tempos tive um sonho, não me lembro

não me lembro...

Tua tristeza é tão exata

E hoje o dia é tão bonito

Já estamos acostumados

A não termos mais nem isso.

Os sonhos vêm e os sonhos vão

O resto é imperfeito.

Disseste que se tua voz tivesse força igual

À imensa dor que sentes

Teu grito acordaria

Não só a tua casa

Mas a vizinhança inteira.

E há tempos nem os santos têm ao certo

A medida da maldade

Há tempos são os jovens que adoecem

Há tempos o encanto está ausente

E há ferrugem nos sorrisos

E só o acaso estende os braços

A quem procura abrigo e proteção.

Meu amor, disciplina é liberdade

Compaixão é fortaleza

Ter bondade é ter coragem

Lá em casa tem um poço

mas a água é muito limpa.

De uns tempos pra cá, vejo “Há Tempos” como minha trilha sonora. Ao mesmo tempo que esta música traz consigo uma verve depressiva, ela revela a realidade do nosso meio. Percebo esta música como a realidade de muita gente. E Renato Russo imprimiu nela toda a insatisfação com o modo como levamos nossa vida. Em cada verso uma verdade que funciona como um soco no estômago no falso moralismo e toca fundo na alma. Há cada vez que escuto esta canção, percebo uma mensagem nova, atual e sincera. O mundo é mal e as pessoas cada vez mais estão se vendendo a ele, cercadas de egoísmo e vaidade.

“Há Tempos” fala da perda da fé no homem contemporâneo, cada vez mais escravo dos vícios e do mundo. Um homem carregado de frases prontas sobre tudo e sobre todos, sobre seus sonhos. Um homem de cerviz dura e pragmática, cada vez mais intolerante e inflexível. Hedonismo e positivismo completos.

Até mesmo dentro da fé, dentro dos grupos religiosos, vemos este homem, vemos esta descrença na vida, nas atitudes e no amor. Cada vez mais estamos vivendo na indiferença em relação a quem sofre. Por isso, ter bondade, de fato, é um gesto corajoso frente a este mundo cruel e implacável que nos consome.

A escolha, graças ao Bom Deus, depende hoje e sempre de nós. E se baseia no que buscamos. Enquanto muitos aqui no mundo buscam ser trigo, agradando a todos, fazendo concessões em suas crenças e caráter e com isso sendo consumidos por este mesmo mundo, ainda há quem busque ser joio, sendo excluído e colocado à margem, sem no entanto perder a fé e a autenticidade.

Esta aí a minha playlist nacional. Em breve, as internacionais. Até lá!

Belo Horizonte, 15 de Junho de 2011.