terça-feira, 31 de agosto de 2010

Esta Música é de Verdade?

Por Deiber Nunes Martins

Fazendo um vôo panorâmico por alguns sites na internet, percebemos com facilidade a chuva de críticas feitas ao Prêmio Multishow 2010, que premia os “melhores” da música no Brasil. E não se trata de criticar por criticar. O famigerado prêmio é um absurdo dantesco. Recheados por bandas e músicos fabricados pela mídia, o prêmio é uma iniciativa de levantar a bola dos novos heróis nacionais, totalmente artificiais e que não acrescentam nada.
Chega a ser engraçado ver o pessoal reclamando sobre a derrota do “?” NX Zero para uma pseudo-banda chamada Cine. Se juntar tudo em um balaio não sai uma nota musical que preste. Infelizmente, é o que querem nos fazer engolir, goela abaixo, ou melhor ouvido abaixo. Há muito tempo as rádios têm sido em sua grande maioria disseminadoras de porcaria. A começar lá atrás, nos anos 90 com os grupinhos de pagode de sorriso amarelo e nada na cabeça. Geralmente eram grupinhos de cinco carinhas, onde ninguém tocava nada nem um cavaquinho e apenas simulavam cantar e dançar músicas bem sofríveis. Junto com eles, apareceram duplas e mais duplas sertanejas que de sertanejo, não tinham nada. Naquele tempo também, começou a onda do “Axé Music”, que um dia uma rádio aqui de Belo Horizonte, tentou inserir em seu festival anual, voltado para rock, sob o rótulo “Pop Rock”. Foi de doer os ouvidos... Quem achava que “É o Tchan” e “Cia do Pagode” eram o fim do mundo, não tiveram paciência de esperar o que estava por vir...
Já faz algum tempo que procuro evitar contaminar meus ouvidos com a música brasileira atual. O som brasileiro mais atual que escuto é o CD Acústico do O Rappa e já faz algum tempinho que foi lançado. Coisa de anos. Bandas de verdade como Titãs, Skank, Paralamas, Jota Quest e Ira! parecem estar na entressafra e tentam competir no mercado nacional com porcarias contemporâneas como Fresno e Restart. E muitos não entendem o que estas bandas têm que as de verdade não têm. O que acontece é que o gênero “Porcaria Music” cresce no mercado nacional por conta dos modismos, das redes sociais, dos fãs-clubes (que em muitos casos se resumem a meras empresas de marketing, dispostas a difundir aquele lixo nos reality shows, rádios, TV’s e em Premiações anuais como o Prêmio Multishow.
Saudade do tempo do Rock dos anos 80, que representou o comportamento de uma juventude que mesmo massacrada pela censura, pensava. Assistir a esta lavagem cerebral cultural que fazem com os jovens de hoje, apenas nos faz lamentar que gosto não se discute e que o rock brasileiro, este comercial, que dá lucro, representa o politicamente correto, tudo aquilo que o gênero nunca foi.
Os poucos que ainda resistem ao sistema, se refugiam em bolhas onde podem compartilhar um pouco do gosto musical que possuem, armazenados em seus Mp3 e consoles. Estes guetos de gente dotada de bom gosto estão cada vez mais escassos... o que nos assusta, visto que o tempo da censura ficou lá atrás. E olha que naquele tempo, a juventude tinha cérebro, pensava e fazia a diferença...

Belo Horizonte, 31 de Agosto de 2010.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Piada Sem Graça no País da Piada Pronta

Por Deiber Nunes Martins

A piada sem-graça do Stallone sobre o Brasil, no começo causou-me asco. Como podem vir aqui e esculhambar com nosso país? Como podem nos comparar a “macaquitos”? Mas os assuntos e sobretudo os negativos, fermentam em meu estômago cerebral, que fica ali perto do córtex frontal, e fazem com que eu reflita melhor sobre a questão.
Se a princípio aprovei o “Cala a boca, Stallone!” agora estou com o pé atrás. Penso eu:
“E se o Rocky Balboa estiver certo? Porque aqui no Brasil, se explode com os aposentados, vetando em dia de jogo da seleção em Copa do Mundo o fim do nefasto Fator Previdenciário e o povo ainda aprova o governo que tem. Explodimos a notícia com um jornalismo cada vez mais mercantilizado e ninguém faz nada a não ser dar mais pólvora, legitimando o fim do diploma para jornalista. Explode-se a justiça com tantos hábeas corpus, recursos, liminares e outras ferramentas diabólicas dos “adevogados”. Sim! Adevogados com E, dando fala ao D de desonestidade e descompromisso com a ética, a justiça e o bem comum. Explode-se a nossa paciência com a falta de transporte público decente, com a falta de respeito das empresas, sobretudo as prestadoras de serviços essenciais. Explode com o respeito humano onde até pra respirar tem fila, o supermercado virou um martírio com filas intermináveis, desrespeito total ao idoso, a gestante, ao deficiente físico e por aí vai. Explode-se com o nosso sossego, com o início das campanhas eleitorais, o mesmo blá-blá-blá de sempre e as mesmas figurinhas sujas do passado, e olha que aprovou-se a Ficha Limpa! Explode-se com o entretenimento, criando-se o “entretetanimento” com programações de rádio e TV cada vez mais pobres, teatro e cinema cada vez mais elitizados, não pela qualidade mas pelo preço cada vez mais absurdo...
Enfim, no Brasil, explode-se com tudo e o povo fingindo-se inocente de tudo e cada vez mais acéfalo, oferece os “macaquitos” ao não se escandalizar mais, ao não exigir melhorias, ao não protestar e ainda se achar ofendido com uma piadinha babaca que tem todo fundo de verdade. Talvez fosse diferente se tal piada fosse contada pelo Chico Anísio ou pelo Jô Soares, ou ainda na coluna do Veríssimo ou do Jabor. Aí, nós brasileiros, bancaríamos os entendidos e levaríamos na esportiva. Mas como foi feita por um gringo, temos que pagar o mico quixotesco de se escandalizar. A emenda fica pior que o soneto...
Falta a nós brasileiros, um pouco mais de auto-análise. Será que estamos de fato, fazendo alguma coisa por este país? Falta a nós, brasileiros, pensar duas vezes antes de rir ou chorar das piadas, sobretudo as infames, e as piadinhas prontas. Assim, quem sabe daqui a dez anos, tenhamos mesmo a razão em protestar das piadinhas dos gringos. Porque de fato não serão nem infames, serão mesmo sem-graça.

Belo Horizonte, 04 de Agosto de 2010.