terça-feira, 21 de agosto de 2012

Harmonia da Alma e do Corpo



Por Deiber Nunes Martins

Nossa alma tem sede de Deus mas o nosso corpo, sede do alívio. Corpo e alma muitas vezes possuem interesses conflitantes porque um quer o menor esforço e o outro, precisa da porta estreita. Um homem ou uma mulher que comete o adultério, talvez o faça porque nutre de forma inadequada a alma em seu matrimônio e assim desequilibra sua alma do corpo. Vive-se dentro de casa às agruras da vida a dois, sem que possam de fato compreender que tais agruras são necessárias ao crescimento espiritual também. Afinal, ninguém diz que vai ser tudo fácil, um mar de rosas. Então esta pessoa encontra dentro de casa sofrimentos e provações e fora dela, uma maneira de se livrar de tudo isso, o alívio.
Nem tudo o que posso, me convém. É preciso ter em mente que o mundo abre todas as portas mas nem todas elas nos convém adentrar. Nossas vontades e desejos são norteadores das nossas ações mas é à luz do Espírito Santo que nossas escolhas devem se pautar, para que possamos nutrir nossas almas. Alma e corpo não convivem separados, alheios, como o mundo nos quer ensinar. É preciso saber que nossas atitudes têm de estar coerentes no corpo e na alma. Daí a batalha entre nossas virtudes e vícios. Muito do que fere nosso corpo está enraizado em nossa alma, por meio de traumas e sentimentos ruins. Enquanto os vícios aliviam o corpo, as virtudes alimentam a alma.
Uma forma de alívio do corpo é o imediatismo. Pessoas se perdem no consumismo desenfreado, como forma de aliviar o corpo. Compulsões e outros vícios nos levam ao pecado ferindo a nossa alma, mas são mecanismos de alívio do corpo. O imediatismo nos faz querer passar por cima do tempo celestial e nos leva ao erro em nossas atitudes. Muitas pessoas mudam de religião por conta do imediatismo. Queremos as pessoas prontas ao nosso modo em nossos relacionamentos. E quando não encontramos, as enchemos de defeitos. Elas tornam-se imaturas e incapacitadas para o nosso crivo. Como não possuem o que precisamos naquele momento, às descartamos. Assim são construídas nossas amizades estragadas: no imediatismo. E assim também se constrói a inconstância de nossas ações.
Da mesma forma vemos a vaidade, as compulsões em geral, os vícios nas drogas, álcool, fumo e todos mais como formas estragadas de proporcionar alívio para o corpo, fruto de um desequilíbrio arraigado em nós mesmos. São os traumas. Muitos deles oriundos a partir da nossa concepção, adquiridos no ventre materno. Desequilíbrios que necessitam de um processo de cura interior.
O importante desta história é que corpo e alma precisam conviver de maneira harmônica. O que sacia o corpo precisa nutrir também a alma. Uma alma equilibrada se reflete em um corpo sadio e vice-versa. É preciso saber que a alma vai padecer para remodelar o corpo e este vai sofrer, no processo de construção da alma. Muitas vezes, um perde para o outro ganhar e tudo se compensa, logo a seguir. Corpo não precisa de alívio, precisa de alimento. A si mesmo e para a alma.


Belo Horizonte, 21 de Agosto de 2012.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Evolução Religiosa no Brasil: O Arrefecimento do Catolicismo



Por Deiber Nunes Martins

O texto anterior abordou o avanço das religiões sob a ótica delas mesmas. Cada um procura abordar seu posicionamento perante o Censo 2010 de acordo com suas convicções. Este texto que se segue talvez vise tratar a redução do povo católico com o mesmo estratagema, sob a ótica católica.
Nos últimos 30 anos, a Igreja Católica perdeu seu maior número de fiéis. Ao olhar o gráfico da evolução religiosa no Brasil, percebe-se claramente como o catolicismo foi sangrado neste período. Observando o contexto, pode se dizer que as novas denominações religiosas passaram a angariar como devotos os filhos de seus recém-convertidos. É uma explicação.
Mais razoável ainda são as políticas evangelizadoras adotadas por católicos e evangélicos. No primeiro caso a cisão entre católico praticante e católico não praticante é algo praticamente impensável no meio crente. Daí, a sublime diferença entre a abordagem proselitista do cristão católico para o evangélico. Enquanto o segundo se esforça para difundir sua nova crença, o primeiro se escusa desta responsabilidade agindo até com receio de proferir sua fé na sociedade.
O católico praticante, a cada dia que passa tem seu número reduzido, como pode se comprovar durante as Missas. Cresceu entre os católicos o mito de que a fé se define dentro de casa e não na Igreja. Daí o fato de muitas pessoas se dizerem católicas mas não freqüentarem suas paróquias, não celebrarem as missas. A falta de conhecimento acerca da fé, da vida em comunhão, em comunidade amplia o horizonte do católico não praticante.
A falta da vida em comunidade, a falta do encontro com os irmãos, a falta do banquete eucarístico pode não retirar do católico o conhecimento dele acerca da fé. Mas certamente o afasta do pensamento da Igreja. A vivência de uma fé individualizada contribui para que o católico não praticante fique à mercê de vícios e modismos da sociedade moderna. Como exemplo desse fenômeno tem-se a formação de grupos divergentes da doutrina católica, mas católicos, como a ONG “Católicas pelo direito de decidir”. Ainda exemplificando, tem-se o chamado “católico light”, ou aquele(a) que se diz católico mas enche seu mural no Facebook e sua timeline no Twitter de posts espíritas (vide Chico Xavier e suas frases) e outras doutrinas, horóscopo, etc.
É possível considerar o “católico-light” o próximo recém-convertido a uma seita evangélica, a um grupo espírita ou ao grupo dos “sem religião”. E a razão para isso está no fato deste católico estar totalmente alheio à sua fé e ao seu batismo. Longe das missas, da mesa da palavra, o católico pouco ou nada pode discernir acerca de seu papel na estrutura social e na modernidade. Torna-se uma pessoa facilmente alienável e embarca na primeira canoa furada que lhe oferecerem. O exercício da fé acontece em comunidade. E isto vale para todas as religiões. E como comunidade, entenda-se aqui a sua paróquia, a região onde você pratica a sua fé, ou não.
Diante dessa problemática se insere o arrefecimento da Igreja Católica na sociedade brasileira. No entanto, a migração do povo católico para as denominações evangélicas ou demais religiões não é algo que se possa concluir como definitivo. O “novo convertido” não é uma personalidade passageira até mesmo porque o católico afastado de sua fé, na grande maioria das vezes parte em busca de respostas existenciais para os seus problemas. Seria muita presunção da parte de qualquer religião, proclamar-se dona da verdade e detentora de todas as respostas para os problemas da vida. Aliado a isso está o fato de que a suposta teologia da prosperidade não mais funciona como válvula de escape à problemática social. Além disso, a degradação familiar é fator constante de desgaste da estrutura humana e não encontra remédio em nenhum meio religioso. Com isso, converter-se a uma nova fé não significa necessariamente permanecer nesta nova fé pelo restante da vida.
Portanto, o êxodo dos fiéis católicos, mesmo que comemorado pelas outras igrejas e seitas, não deve ser tratado como a queda da Igreja Católica, tampouco avanço da religião A ou B. O que se pode concluir diante deste fenômeno é o profundo esfriamento da fé em todas as suas formas. Comprovando tal situação tem-se o alto índice de católicos não praticantes ou católicos light e o aumento do grupo dos “sem religião”. O esfriamento da fé deve ser o cerne das discussões acerca da religião no Brasil e no mundo. E esta deve ser feita de forma ecumênica.

Belo Horizonte, 26 de julho de 2012.

A Evolução Religiosa no Brasil: as “Meias Verdades”



Por Deiber Nunes Martins

Se observarmos atentamente os dados do Censo 2010, perceberemos que de 1980 aos nossos dias, a Igreja Católica teve sua maior queda em relação ao número de fiéis. E a partir de 1990 aos nossos dias, os evangélicos tiveram seu maior avanço. Analisar a evolução das religiões no Brasil deve ser um trabalho desafiador, visto que os dados estatísticos refletem apenas uma parcela do comportamento social ao longo do tempo. Sobre esta temática, cabem algumas reflexões.
Em uma reunião paroquial, um dos participantes comentou que a religião que mais avançava no Brasil era a espírita. Esta informação, de fato é verdadeira, mas só em parte. Algumas semanas atrás um conceituado jornalista em seu programa de rádio afirmou que a religião evangélica ainda é a que mais avança no Brasil. Esta informação, de fato também é verdadeira, mas só em parte. Aqui vai o primeiro comentário: segundo as estatísticas, o contingente que mais avançou no Brasil, em percentuais, é o dos sem religião. Informação verdadeira, mas também só em parte.
Ao contrário do que se possa pensar, não se trata aqui do relato de “meias verdades” sobre a evolução das religiões. Todas as informações acima são verdadeiras retiradas do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. O que transforma cada uma das informações em verdade parcial são o contexto, o período da análise e o mais importante, o volume do contingente analisado.
A nível de contexto, a tendência de crescimento dos evangélicos. É muito interessante falar que a religião evangélica avançou mais no Brasil, sendo que por evangélico conhecemos diversas religiões e seitas. Por exemplo existe a Igreja Batista, os Adventistas, a Igreja Universal do Reino de Deus. Sob o rótulo de evangélicos tem-se diversas denominações religiosas que não se misturam e muitas vezes nem se toleram. Então, agrupá-los sobre uma mesma variável, a evangélica é uma falácia. Se desmembrá-los, cada um em sua religião ou seitas será possível ver percentuais irrelevantes de crescimento e até mesmo retrocessos. Então, como se pode explicar o avanço expressivo dos evangélicos no Brasil? Aí vai uma hipótese. A cada dia que passa, aparecem novas seitas evangélicas, principalmente nos bairros mais pobres das grandes cidades. Quanto maior o número de seitas evangélicas, maior será o crescimento desta população se for considerado que boa parte de seus integrantes são compostos por recém-convertidos, oriundos do catolicismo.
Os espíritas são os que mais crescem no Brasil de 2000 a 2010 e aqui tem-se a problemática do período de análise. Se for considerada a última década, então os espíritas foram os que mais avançaram: de 1 para 2%, ou seja 100%. Considerando ainda a última década, nenhuma outra crença religiosa cresceu mais que isso. Todavia é um curto período de analise, em um contingente pouco expressivo.
Em nível de contingente de análise, tem-se o crescimento dos sem religião. Aqui se incluem inclusive os ateus, mas não somente eles. Nos últimos trinta anos, estes saíram de 1 para 8% da população. É o maior crescimento em um espaço de 30 anos. E isto impressiona, se considerarmos os avanços da sociedade neste período. Hipóteses, várias.
Percebe-se que as verdades tratadas são apenas “meias verdades”. E aqui está o perigoso cenário das religiões. Cada um discute o assunto sobre a sua ótica. E cada um analisa os dados do censo conforme lhe convém. Uma análise científica dos dados talvez se aproxime do avanço dos “sem religião” no Brasil. A possibilidade aqui é maior em virtude do período avaliado, do contingente e do contexto. E no tocante aos “sem religião” ainda há um agravante: o contexto lhes permite serem agregados em um só número porque não defendem nenhuma denominação religiosa, apenas a falta de fé. Portanto, falar de religião é algo espinhoso mas também essencial para o entendimento da sociedade moderna. Analisar a evolução religiosa de um país ou de uma região, pode ser o ponto de fusão entre a ciência e a fé.

Belo Horizonte, 26 de Julho de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Escusa do Guma


Por Deiber Nunes Martins

Grande Guma, peça rara. Gumercindo Rodrigues, o Guma, é daquelas pessoas que na simplicidade genuína de ser nos ensinam mais que os “dotores da vida” arranjados por aí.  É a prova viva de que o saber não se resume a academia, ao conhecimento teórico, mas a experiência de vida que muitos não possuem. Mas se julgam no direito de prestar atestado moral a qualquer um.
Certa vez dizia o Guma entre uma e outra cerveja gelada, num boteco copo sujo qualquer, que os amigos lhe chamavam direto e reto pra farrear. A toda hora lhe aparecia um, com o convite pronto, de bate - pronto. Às vezes, Guma se escusava, não com freqüência, mas tinha hora que se cansava da vida.
Normal pra qualquer um.
E num desses arroubos de vontade, Guma respondeu aos amigos que lhe convidavam pra gandaiar:
“O mundo está se acabando, as pessoas sofrendo por todos os cantos do planeta e vocês me chamam pra festejar, festejar o quê?”
Mais do que o discurso daquele momento valia o jeito de Guma falar. E ficou claro para os amigos tudo aquilo que ele quis dizer no desabafo. Tanto que não insistiram.


Às vezes é preciso parar de curtir tudo e pensar um pouco. Refletir sobre os rumos que estamos dando às nossas vidas. Será que há algum sentido. Será preciso eu me molhar sempre na chuva? Será preciso eu compartilhar sempre o sorriso com os outros? Tem horas que o recolhimento é a melhor das diversões, o melhor dos prazeres. Nem sempre a vida deve ser oba-oba. Só de vem em quando...
A palavra de ordem hoje é correria. Tudo é corrido e superficial. Pra não ficarmos no vazio é preciso calma. Diversão é bom e eu gosto! Mas tem horas que o momento requer um passo mais lento, cadenciado, um planejamento, uma reflexão. Se não estamos em allegro nossos amigos não precisam sair deste estado pra nos agradar. É preciso entender. E a recíproca é verdadeira.
Grande Guma! Qualquer hora conto mais sobre ele e sobre sua mulher. Outra peça rara...

Belo Horizonte, 13 de Julho de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

A Descriminalização do Aborto de Anencéfalos Parte 2: Tristes Conclusões

Por Deiber Nunes Martins

O período pascal tem servido ao propósito de infindáveis reflexões. Dissensões pessoais que não couberam na quaresma e vieram parar no tempo da alegria. Por algumas razões. Impressionou-me o fato da aprovação do aborto pela Suprema Corte, ter acontecido justamente nas oitavas da Páscoa. Terrível. Estranheza também me causou o apelo midiático a aprovação do primeiro passo a cultura da morte em nosso país. E o que veio a seguir, discussões bioéticas, teológicas, omissão dos legisladores... náusea.
Tenho percebido com sincera tristeza a degradação humana e moral no Brasil. País abençoado por Deus, onde a Graça habita, um país santo e de muita fé. Mas que vem sendo vilipendiado por verdadeiras aves de rapina, travestidas de autoridades e posses. Discute-se o aborto no país onde o adulto já não tem direito à vida garantido pela lei. E pouca gente pensa nisso. Mas aventure-se sair num fim de semana a noite pelas ruas das cidades, de carro. Um bêbado ao volante pode te achar como alvo. Cadê o seu direito à vida?
O argumento dos abortistas é a infame retórica do direito de escolha da mulher. Mas mulher, que escolhas você tem? Você escolhe o salário que vai ganhar, a aposentadoria que vai ter? Você escolhe, para os filhos que escolher ter, o futuro que terão? Você pode escolher o melhor para os seus? Mesmo se você, for "abençoada" pelo sistema, você pode escolher seu amanhã? Mulher, você mulher que pensa em ter o direito de decidir pelo aborto ou não, você pode escolher viver sem o remorso? Você pode escolher não ter sangue correndo em suas veias, nem coração, somente razão? Você pode escolher viver sem alma? Abortistas, fora com a falácia de vocês!
A quem interessa a cultura de morte no Brasil?
Aos mesmos que se locupletam no sistema. Aqueles que vivem às custas das benesses dos poderosos, puxa-sacos e bajuladores. Covardes que não têm receio em esconder debaixo do tapete os pecados dos seus protegidos. Idiotas que defendem a morte sem ao menos pensar que a morte um dia atravessa a vida. E custa caro, muito caro! Um preço maior que as posses de vocês! Fora com vocês covardes!
Tento imaginar a perplexidade do Bom Senhor em sempre dar o melhor para esse povo e em troca sempre receber o pior. Como é triste perceber que não aprendemos nada! Como é triste saber que mesmo na Igreja, não aprendemos nada! Somos tolos a ponto de aceitar que os falsos pastores nos conduzam. E aqui cabe um fato: o homem que se diz mais poderoso deste Estado, prepara-se para apoiar um católico da Renovação Carismática de um lado e um neopentecostal de outro, na luta pela prefeitura de Belo Horizonte.  E tudo por que? Porque é mais conveniente a seus projetos rumo ao Palácio do Planalto... Como é triste ver que os caras que decidem nossas vidas, as decidem mediante suas próprias conveniências.
Outro fato: casal processa padre por recusar-se a batizar o filho. A notícia correu Belo Horizonte neste final de semana. A Igreja considera inadequada a postura do padre. Mas antes de dizê-lo, porque a Igreja não acolhe esta família, que desconhece o real sentido do Batismo, desejando-o somente por conta da tradição de ter seus familiares sempre batizados naquela Paróquia? Porque ninguém aparece para orientar o casal a respeito da fé e da necessidade de se viver o matrimônio cristão, de se viver conforme Deus nos ensinou, conforme nos ensina o catecismo, a doutrina de nossa fé? Por maior que possa ser o erro do padre em recusar-se a batizar (e em minha ignorante posição seu erro é mínimo), o mesmo deveria, juntamente com a família ser acolhido pela Igreja.
E pra terminar só mais um fato: reconhecida personalidade do meio católico, um sacerdote, admirado por milhões de brasileiros, cobra mais de cem reais em um show. Será esta a evangelização que este povo precisa? Será que o povo de Deus pode pagar por ela?
Pensar nestes fatos e situações, me faz refletir no quanto a humanidade está distante de Deus. Pensar na cultura da morte, nos efeitos do aborto e da eutanásia para a sociedade brasileira é ver apenas a ponta do iceberg na qual nossa embarcação está para colidir. Vejo com tristeza que a falta do diálogo, da informação, da evangelização, está fazendo com que o jovem consuma cada vez mais o álcool e deste às drogas se faz um pulo. A falta desse diálogo cristão, faz com que os casais cogitem não aceitar o(a) filho(a) que o Senhor lhes deu. Uma vida é uma vida. A partir da concepção. Mas a falta deste diálogo é algo que assombra, entristece. O que estamos fazendo em favor da vida? É o mesmo que estamos fazendo em favor do diálogo cristão, da evangelização. É o mesmo que estamos fazendo em relação ao papel de aproximarmos nosso próximo de Deus.
Pensemos nisso.

Belo Horizonte, 08 de maio de 2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A Descriminalização do Aborto de Anencéfalos Parte 1: Transferimos o Poder a Eles

Por Deiber Nunes Martins

Acompanhei com sincera expectativa a decisão da Suprema Corte brasileira sobre um tema polêmico: o aborto. No caso em questão, o de crianças anencéfalas. No primeiro dia de julgamento, goleada dos abortistas, 5 votos contra 1 em favor da vida. Mas este voto único do primeiro dia, pertencente ao ministro Ricardo Lewandovski, foi muito bem argumentado. O que gerou certa esperança de que os demais ministros fossem acompanhá-lo. Dolorosa ilusão, para aqueles que ainda esperavam da justiça uma palavra em favor da vida. Dos 4 votos que faltavam, apenas o último, do ministro César Peluso foi categórico a favor da vida. Os 3 primeiros, defenderam o aborto, de forma até surreal, com o ministro Ayres Brito chegando ao cúmulo de dizer que o embrião não é um ser humano e que seria um ato de amor, abortar.

Causa estranheza entretanto, não o fato dos ministros decidirem a questão mas o precedente. Sim, porque no Estado democrático que vivemos cabe ao Poder Legislativo o mérito de definir a vida e seus limites. Cabe ao Poder Legislativo, as decisões sobre todas as demandas da sociedade. E neste caso, latente omissão por parte dos parlamentares foi verificada. E a Poder Judiciário, de forma até anti-democrática, coube a incumbência de decidir sobre a questão. E este o fez, sem rodeios.

O aborto antes de mais nada é um atentado contra vida de um indefeso. Isto é fato. Independente de religião, de crença, é um ato que gera traumas para a mãe pois interfere na lei natural dos seres humanos. De modo que para uma mãe de verdade, não é preciso ser católica ou de qualquer outra religião para entender que abortar seu filho, gerará dor e sofrimento pelo resto da vida. Mesmo assim, os abortistas, de forma capciosa utilizaram-se do argumento do sofrimento, da tortura, para defenderem o aborto nos casos de anencefalia. Esqueceram de argumentar sobre a lei natural da vida. Lei a qual os doutores da lei não podem dominar.

Entrando no âmbito da Igreja, vejo que a Igreja Católica, assim como as demais denominações cristãs que lutam em favor da vida, contra o aborto, o têm feito de forma desastrada, desorganizada. Não percebem o quão manipuladas têm sido por uma minoria que detém o controle do sistema. Minoria esta disposta a fazer de tudo, para permanecer no poder. Há que se lembrar que o segundo turno da última eleição presidencial resumiu-se na frívola discussão sobre o aborto, com os dois candidatos disputando quem era menos abortista que o outro, para então abarcar os votos dos fiéis.

Neste ambiente político, deputados e senadores elegeram-se dentro das Igrejas e seitas com votos de fiéis preocupados com o avanço da cultura da morte no país. Agora, que um sindicato de profissionais de saúde inicia o debate sobre o aborto de anencéfalos, estes políticos se calam, evitando chamar pra si a responsabilidade de levar a discussão para o plenário e assim, legislarem contra ou a favor da matéria. Mas o medo da opinião pública, ilustrado não só na pressão popular, mas acima disso até, de setores da mídia e da minoria que chefia o sistema, fez com que transferissem esta decisão para os ministros do Supremo. O objeto da discussão é mascarado e passa a ser uma demanda judicial. Tudo para a manutenção do poder. Tudo para alimentar o sistema.

Como exemplo disso, temos a participação de um deputado federal aqui de Minas, militante da Igreja Católica, em um programa de rádio, manifestando-se de forma lacônica e pouco convincente contra o aborto. Ora, se este deputado, eleito por fiéis de sua Igreja para defender os princípios que a norteiam, gagueja na hora de fazê-lo publicamente, é sinal que algo anda errado. É sinal de que os representantes eleitos não estão de fato comungando dos mesmos interesses de seus eleitores. E então se escondem atrás do Judiciário, para não se comprometerem.

O povo brasileiro, independente de sua crença, está nas mãos de salteadores que, a serviço de uma minoria que prega a cultura da morte traem os ideais daqueles que os elegeram. Estes deputados, senadores, salteadores, fingem-se servos do Senhor, mas são na verdade, servos do sistema. O sistema que defende a cultura da morte de forma lenta, gradual e politicamente correta, para não assustar os incautos. Sistema este que oprime o povo brasileiro, obrigando-o a aceitar senhores de quinta categoria, cingidos em togas e vestimentas reais a decidirem sobre questões que caberiam a nós, pela prerrogativa do voto. Mas o sistema é esperto. E sabe que precisa agir também no voto de cada um, para se perpetuar sistema. Por isso, é preciso que a sociedade se manifeste, escolhendo melhor seus representantes. E aqui, falo para minha Igreja Católica, é preciso uma participação mais incisiva do clero, evangelizando, e orientando os fiéis na escolha do voto. Não como tem feito hoje em dia, lançando leigos engajados e até sacerdotes como candidatos políticos. Mas como fonte de saber e formadora de opinião.

Hoje, aprovaram o aborto de anencéfalos, sob a égide de uma falsa liberdade de escolha da mulher. Talvez mais tarde, aprovem a eutanásia, como Holanda e Bélgica o fizeram, obrigando os idosos a morrerem em casa, visto que nos hospitais se faz dever dos médicos matá-los, para reduzir os custos para o Estado. Hoje, são as crianças que têm seu direito a vida questionado. Quem será amanhã?

Belo Horizonte, 13 de abril de 2012.

terça-feira, 27 de março de 2012

Práticas de Jejum - Quinta Semana da Quaresma: O Jejum dos Pensamentos

Por Deiber Nunes Martins

O bom pensamento é o motor para nosso sucesso e o nosso crescimento. Já o mau pensamento é o motor para nosso fracasso e as nossas quedas. As nossas atitudes boas ou más começam em nossa mente. Antes de agir, o nosso pensar age por nós. Por isso, a dicotomia entre o bem que sonhamos fazer e o mal que na realidade fazemos. O nosso pensamento nos dirige para o bem e para o mal.

Creio que seja impossível decidir-se por não pensar certa coisa. E mesmo se eu estiver errado, o controle que se deve ter para evitar este ou aquele pensamento deve ser terrível e de conseqüências severas para nossa vida. Não dá pra evitar o mau pensamento, quando se percebe, já pensou. No entanto, podemos combater o mau pensamento em nossa vida.

Esta é a proposta de jejum, com certo atraso, para a quinta semana da quaresma. O jejum do pensamento.

Não proponho deixarmos de pensar. Mas proponho nos esforçamos para combater o mau pensamento. Por mau pensamento, entendo ser tudo aquilo que nos oprime, nos causa desânimo, tristeza, depressão; tudo aquilo que nos faz pecar, nos leva a voltar-se para o mal.

No intuito de combater o mau pensamento, proponho orarmos com fervor, a cada momento que ele ameaçar surgir. Mas nada de desanimarmos ao percebermos más idéias povoando nossa mente: no momento em que percebermos o mau pensamento, paremos e façamos uma oração sincera a Deus, reconhecendo nossas incapacidades e imperfeições. A conversa sincera com Deus é um bálsamo que nos livra do mal, nos edifica, nos torna íntimos Dele e minimiza a ocorrência dos maus pensamentos, pois quanto mais próximos do Pai estamos, mais próximos ainda queremos ficar.

Outra sugestão é combater o mau pensamento com boas idéias. Para cada mau pensamento, substituí-lo por um bom. Seja pela oração ou pela prática de substituir os pensamentos ruins, nos tornamos vigilantes dos nossos pensamentos e atitudes.

E talvez seja por isso, o cuidado com nossos pensamentos seja o diferencial para o nosso crescimento como pessoas, nosso crescimento espiritual, nossa conversão.

Senhor Jesus, aproxima-se a Semana Santa e com ela, vai se chegando ao fim a quaresma, o tempo de conversão. Não sei se estou vivendo bem este tempo, mas confesso que esta tem sido uma das quaresmas mais intensas que tenho vivido. Quanto mais o tempo passa, Senhor, mas eu reconheço as minhas fragilidades e mais eu reconheço que a conversão deve ser contínua, todo dia. Porque todo dia eu tenho maus pensamentos, todo dia eu peco. Por isso, Senhor, que todo dia também eu busque esta conversão sincera. Para que um dia, ao final de minha caminhada, eu possa estar pertinho de Ti. Amém.

Belo Horizonte, 27 de março de 2012

quinta-feira, 15 de março de 2012

Práticas de Jejum - Quarta Semana da Quaresma: O Jejum dos Ouvidos

Por Deiber Nunes Martins

Nossa quaresma vai passando pelas práticas de jejuns e vamos aprendendo a medir nosso passo, cuidar do que olhamos, falar menos... enfim, vamos aprendendo a nos doar para Deus. Doar nossos passos, nossos olhos, nossa língua, tudo em prol do Senhor, que no deserto privou-se de tudo, para depois se privar da vida, por nós. Para nos salvar. Nesta quarta semana, vamos fazer o jejum dos ouvidos. Vamos aprender a ouvir e escutar.
E há diferença entre ouvir e escutar. Enquanto a primeira é involuntária, fisiológica, para sermos simplistas na análise, a última envolve nossa compreensão, nosso processo de raciocínio e também nossas emoções. Tudo ouvimos mas nem tudo escutamos. Já ouvimos em algum momento, alguém dizer: "É melhor ouvir isso que ser surdo." e também já escutamos: "Sou todo(a) ouvidos." No primeiro dizer se ouve e no segundo se escuta. Ouvimos o som alto do apartamento do vizinho e nos esforçamos para escutar um amigo ao telefone, em meio a tanto barulho. O ato de ouvir é involuntário enquanto que o de escutar, requer um maior esforço.
Nos Evangelhos, percebemos que Jesus não fazia milagres involuntariamente. Era preciso alguém buscar os pães e os peixes, as talhas d'água... Sempre é preciso algo mais. Fazer uma lama com terra e saliva e passar nos olhos, passar a cama pelo teto da casa, tudo envolve esforço, como o esforço que fazemos para escutar, compreender. Como às vezes é difícil compreender o outro, escutar o outro! Como é difícil escutar o aviso de quem nos ama, sobre o caminho errado que estamos percorrendo! A pessoa diz e nós ouvimos. Mas não escutamos. Ouvir é fazer entrar por um ouvido e sair pelo outro. Escutar é fazer entrar pelos ouvidos e não sair mais.
O jejum desta semana consiste em escutar mais e ouvir menos. Mas este ouvir menos significa selecionar mais as conversas que prestaremos atenção. Será que aquela fofoca da hora do café, contada pelo(a) colega de trabalho é importante de se escutar, de se ouvir? Será que aquele programa fútil do rádio ou da TV é mesmo necessário de ser ouvido? Aquele comentarista chato, será que merece nossos ouvidos? Começamos selecionando o que ouviremos para então selecionarmos do que ouvirmos, o que vamos de fato escutar.
Quando digo que o jejum desta semana requer que escutemos mais, estou querendo dizer que escutamos pouco e ouvimos tudo. Precisamos equilibrar esta balança. Precisamos escutar mais nossos amigos, nossos pais, a pessoa amada. Escutamos pouco o que vale a pena escutar. Aquela conversa que você achou que não daria em nada com sua mãe, que tal retomá-la? Aquela música inconveniente e grudenta que você optou ouvir em troca de escutar o "sermão" do seu pai, que tal deixá-la de lado?
É preciso termos consciência de que o ato da escuta nos faz compreender o mundo lá fora. Escutar nos faz perceber que Deus nos fala. E que o barulho que o encardido tem feito em sua vida é só um barulho que você pode aos poucos reduzir o volume e ouvir cada vez menos. Deus fala a quem o escuta. O Diabo fala a quem dá ouvidos a ele. Precisamos selecionar o que escutar e o que ouvir também. Nosso ouvido não é pinico, como se diz. Quem escuta, escuta o silêncio porque compreende as coisas mais simples e tão essenciais. Mas quem somente ouve, é dependente do barulho e se fia nele para agir. Quantas pessoas solitárias chegam em suas casas, ligam a TV, o rádio e tudo mais que faça barulho, para não escutar nada! Mas ouvir que tem barulho. Precisamos acabar com isso.
Senhor, nossas vidas têm se tornado uma barulheira danada. Não escutamos. Ouvimos. Ouvimos o que não devemos. Às vezes, Senhor, com base no que ouvimos e não escutamos, nós julgamos comportamentos, atitudes do outro. Como temos pecado com os ouvidos, Senhor!
Senhor Jesus, vós que calastes os poderosos, os ditos entendidos com o teu silêncio, dá-nos a capacidade de neste jejum, aprendermos a escutar. Aprendermos a usar nossos ouvidos e o nosso dom da audição com sabedoria e qualidade. Venha em nosso socorro Senhor, impedir nossas quedas! E louvado sejas, Meu Bom Deus, pelo dom da escuta que nos dás. Pelo dom da vida. Amém.

Belo Horizonte, 15 de Março de 2012.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Práticas de Jejum - Terceira Semana da Quaresma: O Jejum da Língua

Por Deiber Nunes Martins

A Liturgia de hoje nos traz uma passagem contundente sobre os males que nossa língua pode produzir. O trecho a seguir, extraído da passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 18, 18-20) mostra o profeta nas mãos dos homens a quem tentava abrir os olhos, a serviço do Senhor. Mas os insensatos de coração conspiravam contra ele:

Naqueles dias, 18disseram eles: “Vinde para conspirarmos juntos contra Jeremias; um sacerdote não deixará morrer a lei; nem um sábio, o conselho; nem um profeta, a palavra. Vinde para o atacarmos com a língua, e não vamos prestar atenção a todas as suas palavras”.

19Atende-me, Senhor, ouve o que dizem meus adversários. 20Acaso pode-se retribuir o bem com o mal? Pois eles cavaram uma cova para mim. Lembra-te de que fui à tua presença, para interceder por eles e tentar afastar deles a tua ira.

Os homens queriam atacar Jeremias com a língua. Queriam caluniá-lo. Muitas vezes a língua humana se faz a mais mortal das armas. Quantas intrigas, quantas maquinações, maldades, calunias, enfim quanto pecado pode conduzir nossa língua?

É pensando nisso que vamos a partir de agora, iniciar o jejum da língua, o jejum da fala. Este jejum não significa ficar sem falar por uma semana. Mas nos remete a pensar um pouco mais antes de dizer qualquer coisa. Este jejum nos impede de dizer por dizer, falar por não ter assunto e muitas vezes, é a falta de assunto que nos faz falar o que não devemos, magoar, ofender, difamar, caluniar.

Uma pessoa que se perde no vício da fofoca é uma pessoa intranqüila. Insatisfeita, está sempre em busca de saber da vida alheia, ultrapassando muitas vezes o limite do conveniente e do correto. Na falta de informações, inventa-se, mente-se, calunia-se.

Quantas famílias são destruídas por se falar de mais? Quantos amizades desfeitas por conta de um mal entendido, uma conversa que poderia ter sido evitada, que não precisava ter existido?

Acredito que muitas de nossas fragilidades e pecados, nós expomos aos outros falando mal de alguém, reclamando, usando mal este dom maravilhoso da comunicação, da fala, que Deus nos deu. Quando uma pessoa fala mal de outra, muitas vezes ela está a alertar seu interlocutor de que o problema pode estar nela e não no outro, a quem ela ataca.

Jeremias estava a pregar para os homens de Judá e estes queriam atacá-lo com a língua. O intento deles era por pra fora seus podres, na conta do pobre profeta, com a calúnia. Quantas vezes não fazemos isso? Vemos defeito em tudo! E falamos estes defeitos pelos quatro cantos. Às vezes agredimos o outro severamente por conta de uma palavra mal proferida. Uma conversa desnecessária.

Assim como as práticas anteriores de jejum, esta prática nos remete ao uso do nosso dom (a fala) somente quando necessário. Devemos nos silenciar não só em jejum mas por toda a nossa vida, quando o que tivermos pra falar não acrescentar nada ao nosso ouvinte. Portanto, cada um que participar deste jejum viva-o com a perspectiva de adotar o silêncio por toda a vida. Esta é uma mudança de hábito que nos faz ganhar tempo, uma vez que ocupamos realmente com o que importa que no caso somos nós mesmos. Que ninguém ache que precisa ficar uma semana sem falar. Mas, com este jejum, que possamos atentar para a conversa somente do que é necessário, deixando de lado as "últimas notícias" do vizinho, as "novidades" da sogra... Enfim, todo tipo de assunto que nos faz falar demais. Isto não é fácil. Requer lutar contra si próprio muitas vezes para fazer prevalecer o que Deus nos pede. Para não caluniar, não humilhar, não ferir, não difamar.

Senhor, que possamos aprender com teu silêncio no calvário. Que possamos nos silenciar diante daquilo que não interessa ao outro e que achamos ser nosso dever revelar. A ti, Senhor queremos seguir. Dá-nos a capacidade de compreender teus ensinamentos e a adotá-los não só como jejum mas também uma prática de vida. Amém.

Belo Horizonte, 7 de março de 2012.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Práticas de Jejum - Segunda Semana da Quaresma: O Jejum do Olhar

Por Deiber Nunes Martins

Caríssimos, entramos na segunda semana da quaresma e o jejum desta semana, não é menos difícil que o anterior. Aliás, não há isso de grau de dificuldade, quando falamos de jejuar. O jejum não foi feito para nos consumir em algo que não damos conta de fazer. Mas o jejum, é uma forma de entrarmos em sintonia com o que Deus quer para nós. E Deus quer a conversão, a transformação do homem/mulher velho em homem/mulher novo. O jejum desta semana é o do olhar.
O que é o jejum do olhar?
Assim como o da caminhada, é um jejum de atitude e por esta razão, muito difícil de se conseguir cumprir. O jejum do olhar é como o da caminhada, é buscar olhar somente para o que interessa. E deixar de lado aquilo que não convêm. Eu decido o que olhar e como olhar. O jejum do olhar vem ao encontro de necessidades bem mais profundas da nossa humanidade. Tem gente, que tem compulsão em olhar o que o outro está fazendo. Em bisbilhotar a vida alheia. O jejum do olhar é uma boa hora pra se evitar este tipo de postura. Tem gente que busca encontrar um erro a todo custo na conduta do outro. Este tipo de olhar maledicente antes mesmo do jejum, deve ser evitado, assim como o olhar de cobiça para a mulher/homem alheios. Não há nada de errado em olhar uma mulher bonita na rua, ou no caso das mulheres um homem. Admirar a beleza é algo saudável. Mas, o mau uso dos nossos olhos, o olhar com intenções obscuras é nefasto para a nossa humanidade. Assim, cada um deve conduzir sua postura do modo como Deus o ensina. No jejum do olhar, se eu posso evitar, contemplar a beleza de uma mulher, evitarei. Evitarei olhar situações que não me dizem respeito e que muitas vezes nossa humanidade vai se calejando em assistir. É o colega de trabalho que chega pra contar o que o colega do outro setor fez. Nós podemos nos privar de saber. Eu não preciso olhar a vida do outro. No jejum, começo a aprender isso.
O jejum do olhar também é uma forma de evitar tomar conhecimento daquilo que não me afeta de modo primário. Atualmente, o noticiário seja ele televisivo, radiofônico, impresso ou digital, parece ter 95% de notícias ruins, e 5% de informes publicitários, comerciais. A cultura do negativismo, da notícia ruim, da tragédia tomou conta do ideário humano. Um amigo meu postou esta semana no facebook que as novelas globais agora, seguem a tendência de mostrar num dado momento a surra que a mocinha dá na vilã. O público quer ver o circo pegar fogo. Todo mundo quer ver a tragédia. Porque não evitar?
Se eu posso evitar de ver aquilo que agride o meu olhar, por que não fazer este bem a mim mesmo?
No jejum do olhar, eu devo fazer a seguinte pergunta: será que o que tenho à minha frente para ver é mesmo necessário que eu veja?
A decisão de olhar é nossa. A decisão de olhar uma mulher passando na avenida; a briga no trânsito, a polícia prendendo o bandido, o vizinho traindo a esposa, o vídeo postado no You Tube, ou no facebook é nossa. Neste jejum, a intenção é não olhar. Não olhar para o que não nos interessa de fato.
É comprometermos a olhar para o horizonte que Deus nos chama a olhar. Olhar de verdade para as necessidades do irmão. Ao invés de perder tempo no facebook, porque não visitar um doente no hospital? Ao invés de perturbar meu colega com as "novas" fofocas do dia porque não aprender algo novo? Porque não revisitar algo bom que o outro fez? Olhar o lado bom ao invés do ruim? Porque não trocar o telejornal mais-do-mesmo por um documentário? Ou um bom filme? Talvez levar a namorada ao cinema, desligar o iphone, iphad ou sei lá o que... Olhar para o que de fato interessa, que é a vida que corre em nossas veias. A dádiva que Deus nos oferece.
Senhor, que neste jejum do olhar, eu consiga de fato, olhar para as maravilhas que Tu criaste. Que eu consiga olhar para o que de fato interessa e assim, deixar de lado os vícios e compulsões de olhar para o lado ruim das coisas, ou buscar o inconveniente para lançar meus olhos. Que eu consiga ao longo desta semana, aprender que Teu Filho Jesus foi tentado a olhar para uma outra realidade, a realidade do pecado. E resistiu, nos ensinando a resistir com Ele. Que eu consiga, Senhor Jesus, ao final desta semana, ter um novo olhar, renovado por Ti. Amém.

Belo Horizonte, 29 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Aquele estranho dia que nunca chega: o católico-light

Por Deiber Nunes Martins

Ao ler o mais novo texto do blog “O Catequista”, sobre a nulidade matrimonial, me vem o desejo de escrever um pouco sobre uma erva daninha a consumir nossa espiritualidade, o católico-light. Ouvi este termo pela primeira vez da boca do saudoso Pe. Léo, em uma de suas maravilhosas pregações e hoje tenho percebido dentro das paróquias, nos grupos e movimentos da Igreja, como o catolicismo light vem estragando as pessoas. Católico-light é aquele que professa a doutrina católica mas comunga de certas práticas contraditórias à religião católica. Vamos falar um pouco sobre isso.

Se fizermos uma enquete entre os grupos pastorais, muitos deles de sólida espiritualidade e outros de catequese, aos quais deveriam ter a obrigação de conhecer a fundo a doutrina católica, perceberemos que um expressivo número de pessoas integrantes destes grupos, acreditam em reencarnação, são favoráveis ao aborto em casos extremos, acreditam e lêem horóscopo, além de seguirem certas ideologias da nova era.

É sério? De onde você tirou isso, Deiber?

Elementar meu caro leitor, basta dar uma corrida pelas timelines do Facebook, por exemplo. Aliás, é nas redes sociais (orkut, facebook, twitter, etc) que se encontra um terreno fértil à disseminação das práticas de catolicismo light. Quanta porcaria o povão compartilha!

Mas, na maioria das vezes, a pessoa não vai na crista da onda desse movimento da web. É assim mesmo que pensa. Muito por desconhecimento da sua fé. Estes incautos são muitas vezes formadores de opinião dentro da paróquia, influenciam e lideram pessoas em grupos pastorais. Ou simplesmente exercem a popularidade que lhes é peculiar e mesmo sem saber, disseminam um catolicismo que não é nosso.

Por isso não é de se estranhar quando o blog “O Catequista” fala sobre nulidade matrimonial, ancorado no desconhecimento da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio, sexualidade fecunda e a educação dos filhos na fé da Igreja. Este tripé que legitima o matrimônio na maioria das vezes não é ensinado na catequese, passa despercebido no momento de preparação para o Crisma e em tantas vezes é negligenciado na preparação dos noivos. Tão grave quanto isto é o fato de os casais não aproveitarem o curso de noivos como deveriam e assim compreenderem a essência do matrimônio.

Como se pode perceber, o católico-light vai sendo formado ao longo de sua caminhada dentro da Igreja muitas vezes por outros católicos-light. Católicos que não aprenderam ao longo de suas formações a riqueza da doutrina de nossa fé. Assim, transmitem a experiência de vida que tiveram. Deste círculo vicioso, surgem aberrações como o movimento “Católicas-pelo-direito-de-decidir” ou coisa parecida.

Caríssimo(a), infelizmente o catolicismo light bate à nossa porta. Há pouco tempo tive sérias dissensões com membros de grupos pastorais adeptos da Teologia da Libertação e derivados. Também já vi pessoas bem firmes na fé, pregando suas crenças na reencarnação e em valores espíritas. A TV é um poderoso instrumento do catolicismo light, a serviço do encardido. Na TV valores são corrompidos, o sexo antes do casamento é valorizado, assim como o aborto, a eutanásia e o divórcio são aconselhados, mesmo que implicitamente. E nesta toada vai se formando o católico-light, cercado de argumentos questionáveis.

É preciso que tenhamos zelo e carinho com a nossa fé. Deixar de ser um católico-light é antes de tudo abraçar os ensinamentos de Jesus presentes na Sagrada Escritura. É aprofundar-se nos assuntos de nossa fé, procurar ler as Encíclicas papais e os demais documentos da Nossa Igreja. É ter o Catecismo da Igreja Católica como livro de cabeceira e consultá-lo sempre que uma dúvida surgir. E além de tudo isso, meus leitores, é reconhecer nossas limitações e o nosso pouco conhecimento da fé. Com este espírito de humildade, somos capazes de crescer na fé e defendermos de verdade a nossa Doutrina Católica. Que o nosso Bom Deus nos ajude a sermos fiéis e a deixarmos o catolicismo light, se neste estivermos imersos. Amém.

Belo Horizonte, 24 de fevereiro de 2012.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Práticas de Jejum - Primeira Semana da Quaresma: O Jejum da Caminhada

Por Deiber Nunes Martins

Amigos, nesta primeira semana da quaresma, uma semana mais curta, de quarta de cinzas até o primeiro domingo da quaresma, quero praticar o jejum da caminhada. Um jejum que talvez esteja sendo cunhado por mim (risos) mas que pode ser valioso para a vivência deste tempo.

Mas em que consiste o jejum da caminhada?

Afirmo que não se trata de abrir mão de caminhar. Mas sim, evitar o “caminhar à toa”, em vão. Evitar ir onde não precisamos ir. Parece simples mas como este é um exercício duro para a nossa vida! Como é difícil evitar aquela caminhada desnecessária à mesa de trabalho do(a) colega para falar mal de alguém, para fazer aquela intriga, aquela fofoca!

O jejum da caminhada também nos permite evitar ir à casa de alguém sem um motivo real, apenas para falar mal da vida alheia. Podemos evitar de ir ao shopping fazer uma compra desnecessária. Podemos jejuar aquela caminhada àquele lugar inconveniente. Podemos nos abster de ir a um lugar que sabemos que não estaremos bem. Podemos nos abster daquela visita desnecessária. Enfim, podemos jejuar aquela caminhada que não nos levará a lugar nenhum, não representará crescimento em nossa vida. Como disse no post anterior, este é um jejum de ação. De modo que busco nele deixar de caminhar rumo ao pecado. E como é difícil este tipo de jejum!

Fazendo o jejum da caminhada, quero selecionar nesta semana, os passos que darei em minha vida. Começando do físico, partirei para o espiritual. Não quero andar errante, perdido, sem rumo. Mas quero gastar minha energia com o que de fato importe. Se neste período, houver um doente a quem eu deva visitar e levar conforto, alento, então não será uma caminhada infrutífera e devo sim ir. Mas não quero caminhar sem propósito definido.

Senhor, Tu que caminhaste rumo ao calvário carregando a Cruz dos nossos pecados, dá-me a graça de viver bem este primeiro jejum da quaresma, que me proponho fazer. Que ao mesmo tempo em que abdique de andar rumo a lugar nenhum, eu deixe de lado a preguiça de ir onde realmente preciso ir. Que caminhe firme na fé e persevere no intento de fazer somente a Tua Vontade, onde quer que eu esteja. Amém.


Belo Horizonte, 23 de fevereiro de 2012.

O Tempo Quaresmal

Por Deiber Nunes Martins

Nesta quarta de cinzas, iniciamos o tempo quaresmal que são quarenta dias de reflexões, jejuns e orações em busca de mudança de vida, conversão. Infelizmente, por desconhecimento das coisas de nossa fé, nós nos abdicamos de viver este tempo como ele deve ser vivido. Muita gente, acha que passar quarenta dias sem fazer aquilo que gosta e que muitas vezes é um vício, como o álcool, vai purificar todos os dias restantes do ano em que fizer o que gosta e que se faz muitas vezes um vício em sua vida. Muitos fazem deste pseudo-sacrifício, uma justificativa para um ano cheio de libertinagens. Quero neste texto e nos próximos que postar sobre o tema refletir sobre este assunto e mais, construir junto com vocês, meus leitores, boas práticas de vida para este tempo de profundo recolhimento e reflexão.

A quaresma são quarenta dias que antecedem a semana santa, precedida pelo domingo de ramos. Neste 2012, tem seu início em 22 de fevereiro e término em 1 de Abril. Durante este período, a cor litúrgica das celebrações é o roxo, que simboliza a penitência. Quaresma é tempo de penitência. A Igreja nos pede neste período que busquemos o recolhimento espiritual, muita oração e jejum. Não é uma imposição, mas se torna salutar viver este momento sem abusar da euforia e dos excessos. Em duas datas torna-se obrigatório abster-se de comer carne: a quarta de cinzas e a sexta-feira da paixão. Nestas duas ocasiões devemos perseverar no jejum de carne, salvo em situações de saúde, onde uma dieta prescrita por médico nos indique o consumo de carne. De todo modo, nestas datas, podemos trocar a carne de boi ou porco, ou mesmo de aves, por peixe. Ou mesmo fazermos o sacrifício de nestes dois dias não comermos carne.

Segundo o Monsenhor Jonas Abib o ato de jejuar vem da Tradição da Igreja Católica e não significa passar fome. “Jejuar é refrear a nossa gula e disciplinar o nosso comer.”(1) Mas o jejum, meus caros não cabe apenas a comida/bebida. O jejum pode ser também de ações. É importante frisar que o jejum é uma forma de penitência, é um modo de buscar a purificação do corpo e o autodomínio de nossas atitudes.

Quero nesta quaresma, assumir o compromisso de semana a semana praticar diferentes tipos de jejum. E ao longo das semanas quero partilhá-los com vocês. Que Nosso Bom Deus nos dê a graça de vivermos de verdade este tempo frutífero e abençoado, e não de tristeza e terror, como muitos dizem.

Senhor Jesus, esteja conosco nesta quaresma, ensinando-nos a jejuar, a orar e a buscar de verdade uma vida nova. Que possamos chegar ao Tempo Pascal revigorados e curados de muitos males e vícios. Que eu possa deixar o homem velho nesta quaresma e ressuscitar contigo na Páscoa, como Homem Novo, cheio de Vossa Graça, sendo luz para o mundo e sal para esta terra. Amém.

Belo Horizonte, 23 de fevereiro de 2012.

(1) ABIB, Jonas Mons. PRÁTICAS DE JEJUM. Ed. Loyola, São Paulo, 1994.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Desperta a minha fé, Senhor, Desperta!


Por Deiber Nunes Martins

Revendo em uma palestra uma cena do filme "Desafiando Gigantes" fiquei refletindo sobre a importância da fé em nossas vidas. As vezes tratamos a fé como um assunto banal, do cotidiano ou simplesmente da espiritualidade de cada um. Em um mundo cada vez menos espiritualizado, conhecer sua fé pode fazer a diferença em sua vida e na dos outros.
Fé é acreditar no que não se vê. Aprendemos muito disso na catequese, para o nosso primeiro contato com Deus. Eu não vejo Deus, mas Ele está presente em minha vida, na minha história. Assim como não vejo o ar, mas sem ele não vivo. Como se pode perceber, fé é algo mais abrangente. Fé é acreditar no que não se vê a ponto de se criar intimidade com o que é oculto aos nossos olhos. Sim, eu falo de Deus. Muitas vezes acreditamos no ar, mas não o seguimos, nem lhe somos próximos. Apenas dependemos dele, para viver.
Deus está presente em nossa história a todo o momento. Às vezes não o reconhecemos, mas certamente Ele nos vê e nos acolhe. A cada um de um jeito diferente. Depende da fé de cada um. Mas a todos com o mesmo amor. É a essência de Deus, ser Amor. Isto é fé.
Acreditamos no amor mesmo quando este nos fere de dor que parece não ter fim e ser mortal. Mesmo diante da desilusão amorosa, da decepção com quem se ama, acreditamos que há algo que valha a pena lutar, um amor que não acaba. Amor infinito é fé. Uns tem, outros... bem outros dizem que o amor acabou.
Amor não acaba, nossa fé nos diz isso. Amor nos leva até o fim. Amor amor. Não só o de mãe. Engraçado que dias atrás a repórter policial entrevistava uma criminosa que tinha no corpo tatuado o dizer: "Amor, só de mãe". Acontece que o amor não é só da mãe para com o filho/filha. Este amor é um amor sublime e também carregado de fé. Mas o amor pode ser de filho para mãe/pai, amor de irmãos, amor de amigos, amor de amantes. Amor de verdade é carregado do tempero da fé. Acredita no outro lado do amor. Quem ama, acredita. Sabe o limite do(a) amado(a). Pois está acostumado a lidar com a essência da pessoa amada. Sabe lidar com os maus e os bons momentos. Compartilha alegria e tristeza, prazer e dor, euforia e angústia. Sentimentos de quem tem fé.
A propósito, a fé nos leva a suportar a dor. Sofre, mas sofre com dignidade e de modo mais tênue quem é cheio de fé. Porque a fé nos leva a contabilizar o propósito. Na cena do filme, o treinador de um time de futebol americano incita o líder do time a carregar um companheiro nas costas por toda a extensão do campo, mais de cem jardas. Com os olhos vendados. Ele o motiva a seguir em frente mesmo com a dor. Sem ver nada, o jovem chega a linha de fundo com o companheiro nas costas, jurando ter percorrido cinqüenta jardas, que tinha sido o combinado com o técnico, aquilo que ele julgava ser capaz de fazer para seu treinador. No entanto qual a sua surpresa ao ver que tinha caminhado por cem jardas e não cinqüenta, com seu amigo nas costas. A fé deste jovem lhe fazia crer que era capaz de rastejar por cinqüenta jardas. Mas acima disso, sua fé mostrou que ele não tinha limites. E precisava encontrar seu caminho.
Muitas vezes nossa fé está adormecida. E precisa de um estalo, para acordar. A dor tem esta capacidade de despertar a fé que há em nós. Quantos testemunhos de pessoas que precisaram passar pelo martírio da dor, para descobrir a fé adormecida que tinham? Parece pouco, pensar que um sentimento fisiológico possa influenciar nossa fé e nossa espiritualidade. Mas não é. É no momento da lágrima que cai, onde reencontramos nossa esperança e o nosso desejo de que o melhor está por vir e vai chegar. Se eu não fizer da minha dor um trampolim para a cura, para o aumento da minha fé, então não terei chance. Serei engolido pelo mundo cada vez mais cético.
Senhor é preciso acordar nossa fé. Somos fracos, vacilantes e muitas vezes nos deixamos levar pelo ceticismo do mundo. Passamos por cima dos Vossos ensinamentos e pecamos. Pecamos por falta de fé. Fé viva que remove montanhas. Dá-me Fé, Senhor. Dá-me alma. Dá-me força, Senhor, para que eu possa percorrer o caminho da minha vida, com quantas pessoas Tu quiser jogar em minhas costas. Sei da dor que preciso enfrentar na caminhada. Mas sei também que sem ela, pouco provada será minha fé. E é esta certeza na tua certeza, que me move, Senhor. Acorda a minha fé. Amém.

Belo Horizonte, 16 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Na Fria Noite

Por Deiber Nunes Martins


Cadeiras espalhadas, garrafas quebradas

Na fria noite em que nada ficou no lugar

Você se perde, devaneio, frio sei lá

Não sabemos onde isso pode parar

A loucura afinal vence o frio

O medo supera a mais torpe razão

Vencemos a sombra da noite

Mas perdemos o calor da ilusão.

Tudo começa e termina nesta noite

E deste sonho nada podemos levar

A uma voz, sombria ficaste de repente

E ao seu gesto não pude deixar de notar.

Ficou na boca o amargor

Sarado na balinha de limão

Mas nada seria como antes

Encravava em meu peito a paixão.

E você saiu pela porta que entrou

Não se termina o que não pode começar

Não se define o que não pode acontecer

E aquela fria noite, tornou-se meu ar.

Belo Horizonte, 27 de janeiro de 2012.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Aquele estranho dia que nunca chega: as chuvas


Por Deiber Nunes Martins

As chuvas têm aprontado bastante aqui em BH. Parece que já choveu mais no período que nos últimos cem anos. É chuva pra dar e vender. E por falar em vender, quem vende guarda-chuva está bem na fita. Entretanto, quem não vive desse comércio está sofrendo e não é pouco. BH virou uma imensa área de risco. Antes na chuva caía água, muita água. Hoje cai água, cai árvore, cai carro no buraco e cai prédio. Ontem caiu um no Caiçara. Tragédia. Uma morte. Anteontem, um daqueles do Buritis. Engraçado que o que ficou de pé a justiça ordenou nesta segunda que continue de pé, embargando a demolição. A justiça faz o que pensa que sabe. A chuva faz o que sabe, chove. E chove muito. Mas será que a culpa é de São Pedro?
Belo Horizonte hoje é uma cidade sitiada. Não é preciso ir muito longe debaixo de chuva pra perceber que a cidade virou um queijo suíço. Buraco pra todo lado. Dirigir à noite virou tarefa pra piloto de rally. O pior é que mesmo nas ruas iluminadas, existem idiotas que insistem em jogar o farol alto na sua cara. Aí você não enxerga nada. E não vê o buraco. Lá se vai sua roda, lá se vai sua suspensão. Aí quem fica bem na vida é o cara do alinhamento, balanceamento e suspensão. E como ganha dinheiro! Uma cidade esburacada não é culpa do santo. Aliás, sua participação na gestão das chuvas é mais que controverso. Chove por conta do clima, não do santo.
Não tem muito tempo em que eu via verdadeiros temporais em BH e a Cristiano Machado sobrevivia, firme e forte. Hoje não pode cair um chuvisco e já avisam que a avenida está alagada. Já não sabemos o que fazer! Quem mora nas regiões de Venda Nova, Pampulha e Norte, depende da Cristiano Machado pra chegar ao Centro. Com ela alagada, sobrecarrega-se a Antônio Carlos. Que pra nosso azar está em obras, por conta de um tal BRT que a Bhtrans empurrou pra gente goela abaixo, em troca do metrô de superfície e subterrâneo que resolveria a novela do transporte coletivo na cidade. A Cristiano Machado alagada é culpa de São Pedro? Não é o santo que tenta agradar as empresas de ônibus com o BRT, isso eu garanto... Também não é o santo que fez um arremedo de obras no Córrego do Onça, que insatisfeito vomita suas águas barrentas e fétidas na avenida.
Fiquei surpreso ao ver no telejornal a imagem do Anel Rodoviário completamente parado por conta do afundamento da pista na proximidade do Viaduto São Francisco. Tudo ali parece querer deslizar, desmoronar. Moradores da vila às margens ali do Anel, foram aconselhados a deixar seus barracos o quanto antes. Aborrecimento...
Avenida Nossa Senhora do Carmo com problemas! A Raja também, ali nas imediações do Hospital Madre Tereza. Tudo parece querer cair. E os pseudo-bacanas e ricos de mentirinha do Belvedere, Buritis e toda Zona Sul também aborrecidos. Sabem que se descer pro Centro, vão agarrar no trânsito. Helicóptero é pra rico com R maiúsculo e estes são poucos. A imensa maioria dos pobres mortais anda é de carro e o que é pior, cada um no seu, congestionando toda a cidade numa pura falta de planejamento urbano. São Pedro também está inocente nessa...
Portanto querer culpar São Pedro pelas águas que estão caindo é no mínimo agir de má fé, apostando numa ingenuidade que não cola mais num mundo antenado às redes sociais. A chuva é um somatório de questões climáticas e sempre é esperada para esta época do ano. Acontece, que a prefeitura não se prepara para o período, ocupada demais com as briguinhas políticas PT e PSDB. Como vivemos num país banhado pelo mar da democracia, é de se presumir que seria papel dos nobres vereadores anteverem-se ao problema das chuvas, propor e aprovar medidas concretas e urgentes antes do período chuvoso. Mas estão eles todos preocupados com o salário que seus sucessores (?) receberão em 2013. E quando tomam projetos de planejamento urbano, onde poderiam agir diretamente na problemática, é para defenderem a verticalização e os interesses de empreiteiras, muitas delas financiadoras de campanhas. A culpa não é do santo e sim da porcaria de sistema democrático que temos.
Chegará o dia em que sofreremos as tragédias das chuvas e responderemos à altura nas urnas. Votando conscientemente para prefeito e vereadores que estejam de fato compromissados com a cidade. Chegará o dia em que teremos uma cidade sem áreas de encostas e morros, nem córregos encaixotados em caixas de concreto prestes a estourarem tão logo caiam as primeiras gotas de chuva. Chegará o dia em que voltaremos a ter terra e asfalto e não só o asfalto nas ruas, fazendo com que as águas penetrem no solo. Chegará o dia que BH voltará a ser a capital dos botecos e não dos buracos, como vem sendo.
Chegará esse estranho dia. Mas está demorando...

Belo Horizonte, 03 de janeiro de 2012.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Feliz Ano Novo!


Por Deiber Nunes Martins

2012 chegou! Hora de executarmos tudo aquilo que planejamos nos últimos momentos de 2011. É chegada a hora de ser feliz. E é agora! A maravilha do ano novo está na possibilidade enorme de se fazer a diferença. A metade do ano costuma dar preguiça e o final deste nos faz esperar o início do que virá, para mudarmos alguma coisa. O começo do ano então é o momento!

Momento de se começar novos hábitos. Abolir os vícios, os velhos hábitos. Construir novas pontes, duradouras e sólidas em nossos relacionamentos. Reconstruir os corações partidos da nossa vida. O ano novo é o momento! Visitar um amigo, saber como está, desejar fazer de cada dia do novo ano um novo dia de fato.

Vivemos cercados de coisas para concluir, projetos a executar, que nunca o fazemos! O ano novo é o momento. Preciso fechar cada porta que me leva às tentações. Muitas vezes são projetos mal terminados. A vida é o projeto de Deus para cada um de nós. E dentro deste projetão que é a nossa vida, estão os projetos menores, os subprojetos, que perpassam nossas vidas. Talvez um curso, uma viagem, um desejo de vida, algo que queremos dar seqüência, mas deixamos pra depois. O ano novo é agora! É o momento!

Neste 2012 eu desejo pra mim, e pra você, meu irmão, minha irmã, um ano produtivo. Que possamos concluir nossos projetos em andamento, e iniciar outros. Uns talvez ambiciosos, como a compra de uma casa, ou uma total mudança de vida; outros de médio porte e outros pequeninos, como uma simples arrumação de quarto. Sim, este pode ser o projetinho a terminar na vida de muita gente. Mas é nos projetinhos que vislumbramos a vida. Todas as nossas possibilidades. É arrumando o quartinho bagunçado no primeiro dia do ano, que arregaçamos as mangas para executar os projetões que Deus tanto espera de nós. É arrumando o meu coração bagunçado, que eu posso ajudar o outro a arrumar o dele também. Tudo tem seu momento, sua hora. O ano novo está ai. A hora é agora. Que Deus nos dê um ano novo cheio de saúde, de harmonia interior, de muito trabalho e também de muitas conquistas! Precisamos conquistar muito em 2012. Que assim seja!

Meu bom Deus me ajude no dia de hoje, a arrumar o quartinho bagunçado do meu coração. Ajuda-me a colocar em ordem meus sentimentos, minhas relações, a minha vida! Ajuda-me a perdoar quem me ofendeu, e a pedir o perdão pra quem ofendi. Ajuda-me a abolir os maus hábitos, todos eles. Ajuda-me a ser bom, se eu não sou. Ajuda-me a ser melhor, se já sou bom. Ajuda-me a ser melhor esposo, melhor pai, melhor filho, melhor irmão, melhor amigo, melhor colega de trabalho, melhor cristão. São nestes pequenos projetos que a vida se renova. Se faz nova! Como este ano que aí está. Obrigado, Senhor, por começar este 2012. Louvado seja! Amém!

Belo Horizonte, 01 de janeiro de 2012.