Por Deiber Nunes Martins
Se observarmos atentamente os
dados do Censo 2010, perceberemos que de 1980 aos nossos dias, a Igreja
Católica teve sua maior queda em relação ao número de fiéis. E a partir de 1990
aos nossos dias, os evangélicos tiveram seu maior avanço. Analisar a evolução
das religiões no Brasil deve ser um trabalho desafiador, visto que os dados
estatísticos refletem apenas uma parcela do comportamento social ao longo do
tempo. Sobre esta temática, cabem algumas reflexões.
Em uma reunião paroquial, um dos
participantes comentou que a religião que mais avançava no Brasil era a
espírita. Esta informação, de fato é verdadeira, mas só em parte. Algumas
semanas atrás um conceituado jornalista em seu programa de rádio afirmou que a
religião evangélica ainda é a que mais avança no Brasil. Esta informação, de
fato também é verdadeira, mas só em parte. Aqui vai o primeiro comentário: segundo as
estatísticas, o contingente que mais avançou no Brasil, em percentuais, é o dos
sem religião. Informação verdadeira, mas também só em parte.
Ao contrário do que se possa
pensar, não se trata aqui do relato de “meias verdades” sobre a evolução das
religiões. Todas as informações acima são verdadeiras retiradas do Censo 2010 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. O que transforma cada
uma das informações em verdade parcial são o contexto, o período da análise e o
mais importante, o volume do contingente analisado.
A nível de contexto, a tendência
de crescimento dos evangélicos. É muito interessante falar que a religião evangélica
avançou mais no Brasil, sendo que por evangélico conhecemos diversas religiões
e seitas. Por exemplo existe a Igreja Batista, os Adventistas, a Igreja
Universal do Reino de Deus. Sob o rótulo de evangélicos tem-se diversas
denominações religiosas que não se misturam e muitas vezes nem se toleram. Então,
agrupá-los sobre uma mesma variável, a evangélica é uma falácia. Se desmembrá-los,
cada um em sua religião ou seitas será possível ver percentuais irrelevantes de
crescimento e até mesmo retrocessos. Então, como se pode explicar o avanço
expressivo dos evangélicos no Brasil? Aí vai uma hipótese. A cada dia que
passa, aparecem novas seitas evangélicas, principalmente nos bairros mais
pobres das grandes cidades. Quanto maior o número de seitas evangélicas, maior
será o crescimento desta população se for considerado que boa parte de seus
integrantes são compostos por recém-convertidos, oriundos do catolicismo.
Os espíritas são os que mais
crescem no Brasil de 2000 a
2010 e aqui tem-se a problemática do período de análise. Se for considerada a última
década, então os espíritas foram os que mais avançaram: de 1 para 2%, ou seja
100%. Considerando ainda a última década, nenhuma outra crença religiosa
cresceu mais que isso. Todavia é um curto período de analise, em um contingente
pouco expressivo.
Em nível de contingente de análise,
tem-se o crescimento dos sem religião. Aqui se incluem inclusive os ateus, mas
não somente eles. Nos últimos trinta anos, estes saíram de 1 para 8% da
população. É o maior crescimento em um espaço de 30 anos. E isto impressiona,
se considerarmos os avanços da sociedade neste período. Hipóteses, várias.
Percebe-se que as verdades
tratadas são apenas “meias verdades”. E aqui está o perigoso cenário das religiões.
Cada um discute o assunto sobre a sua ótica. E cada um analisa os dados do
censo conforme lhe convém. Uma análise científica dos dados talvez se aproxime
do avanço dos “sem religião” no Brasil. A possibilidade aqui é maior em virtude
do período avaliado, do contingente e do contexto. E no tocante aos “sem religião”
ainda há um agravante: o contexto lhes permite serem agregados em um só número
porque não defendem nenhuma denominação religiosa, apenas a falta de fé. Portanto,
falar de religião é algo espinhoso mas também essencial para o entendimento da
sociedade moderna. Analisar a evolução religiosa de um país ou de uma região, pode
ser o ponto de fusão entre a ciência e a fé.
Belo Horizonte, 26 de Julho de
2012
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