quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Evolução Religiosa no Brasil: as “Meias Verdades”



Por Deiber Nunes Martins

Se observarmos atentamente os dados do Censo 2010, perceberemos que de 1980 aos nossos dias, a Igreja Católica teve sua maior queda em relação ao número de fiéis. E a partir de 1990 aos nossos dias, os evangélicos tiveram seu maior avanço. Analisar a evolução das religiões no Brasil deve ser um trabalho desafiador, visto que os dados estatísticos refletem apenas uma parcela do comportamento social ao longo do tempo. Sobre esta temática, cabem algumas reflexões.
Em uma reunião paroquial, um dos participantes comentou que a religião que mais avançava no Brasil era a espírita. Esta informação, de fato é verdadeira, mas só em parte. Algumas semanas atrás um conceituado jornalista em seu programa de rádio afirmou que a religião evangélica ainda é a que mais avança no Brasil. Esta informação, de fato também é verdadeira, mas só em parte. Aqui vai o primeiro comentário: segundo as estatísticas, o contingente que mais avançou no Brasil, em percentuais, é o dos sem religião. Informação verdadeira, mas também só em parte.
Ao contrário do que se possa pensar, não se trata aqui do relato de “meias verdades” sobre a evolução das religiões. Todas as informações acima são verdadeiras retiradas do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. O que transforma cada uma das informações em verdade parcial são o contexto, o período da análise e o mais importante, o volume do contingente analisado.
A nível de contexto, a tendência de crescimento dos evangélicos. É muito interessante falar que a religião evangélica avançou mais no Brasil, sendo que por evangélico conhecemos diversas religiões e seitas. Por exemplo existe a Igreja Batista, os Adventistas, a Igreja Universal do Reino de Deus. Sob o rótulo de evangélicos tem-se diversas denominações religiosas que não se misturam e muitas vezes nem se toleram. Então, agrupá-los sobre uma mesma variável, a evangélica é uma falácia. Se desmembrá-los, cada um em sua religião ou seitas será possível ver percentuais irrelevantes de crescimento e até mesmo retrocessos. Então, como se pode explicar o avanço expressivo dos evangélicos no Brasil? Aí vai uma hipótese. A cada dia que passa, aparecem novas seitas evangélicas, principalmente nos bairros mais pobres das grandes cidades. Quanto maior o número de seitas evangélicas, maior será o crescimento desta população se for considerado que boa parte de seus integrantes são compostos por recém-convertidos, oriundos do catolicismo.
Os espíritas são os que mais crescem no Brasil de 2000 a 2010 e aqui tem-se a problemática do período de análise. Se for considerada a última década, então os espíritas foram os que mais avançaram: de 1 para 2%, ou seja 100%. Considerando ainda a última década, nenhuma outra crença religiosa cresceu mais que isso. Todavia é um curto período de analise, em um contingente pouco expressivo.
Em nível de contingente de análise, tem-se o crescimento dos sem religião. Aqui se incluem inclusive os ateus, mas não somente eles. Nos últimos trinta anos, estes saíram de 1 para 8% da população. É o maior crescimento em um espaço de 30 anos. E isto impressiona, se considerarmos os avanços da sociedade neste período. Hipóteses, várias.
Percebe-se que as verdades tratadas são apenas “meias verdades”. E aqui está o perigoso cenário das religiões. Cada um discute o assunto sobre a sua ótica. E cada um analisa os dados do censo conforme lhe convém. Uma análise científica dos dados talvez se aproxime do avanço dos “sem religião” no Brasil. A possibilidade aqui é maior em virtude do período avaliado, do contingente e do contexto. E no tocante aos “sem religião” ainda há um agravante: o contexto lhes permite serem agregados em um só número porque não defendem nenhuma denominação religiosa, apenas a falta de fé. Portanto, falar de religião é algo espinhoso mas também essencial para o entendimento da sociedade moderna. Analisar a evolução religiosa de um país ou de uma região, pode ser o ponto de fusão entre a ciência e a fé.

Belo Horizonte, 26 de Julho de 2012

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