A Liturgia de hoje nos traz uma passagem contundente sobre os males que nossa língua pode produzir. O trecho a seguir, extraído da passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 18, 18-20) mostra o profeta nas mãos dos homens a quem tentava abrir os olhos, a serviço do Senhor. Mas os insensatos de coração conspiravam contra ele:
Naqueles dias, 18disseram eles: “Vinde para conspirarmos juntos contra Jeremias; um sacerdote não deixará morrer a lei; nem um sábio, o conselho; nem um profeta, a palavra. Vinde para o atacarmos com a língua, e não vamos prestar atenção a todas as suas palavras”.
19Atende-me, Senhor, ouve o que dizem meus adversários. 20Acaso pode-se retribuir o bem com o mal? Pois eles cavaram uma cova para mim. Lembra-te de que fui à tua presença, para interceder por eles e tentar afastar deles a tua ira.
Os homens queriam atacar Jeremias com a língua. Queriam caluniá-lo. Muitas vezes a língua humana se faz a mais mortal das armas. Quantas intrigas, quantas maquinações, maldades, calunias, enfim quanto pecado pode conduzir nossa língua?
É pensando nisso que vamos a partir de agora, iniciar o jejum da língua, o jejum da fala. Este jejum não significa ficar sem falar por uma semana. Mas nos remete a pensar um pouco mais antes de dizer qualquer coisa. Este jejum nos impede de dizer por dizer, falar por não ter assunto e muitas vezes, é a falta de assunto que nos faz falar o que não devemos, magoar, ofender, difamar, caluniar.
Uma pessoa que se perde no vício da fofoca é uma pessoa intranqüila. Insatisfeita, está sempre em busca de saber da vida alheia, ultrapassando muitas vezes o limite do conveniente e do correto. Na falta de informações, inventa-se, mente-se, calunia-se.
Quantas famílias são destruídas por se falar de mais? Quantos amizades desfeitas por conta de um mal entendido, uma conversa que poderia ter sido evitada, que não precisava ter existido?
Acredito que muitas de nossas fragilidades e pecados, nós expomos aos outros falando mal de alguém, reclamando, usando mal este dom maravilhoso da comunicação, da fala, que Deus nos deu. Quando uma pessoa fala mal de outra, muitas vezes ela está a alertar seu interlocutor de que o problema pode estar nela e não no outro, a quem ela ataca.
Jeremias estava a pregar para os homens de Judá e estes queriam atacá-lo com a língua. O intento deles era por pra fora seus podres, na conta do pobre profeta, com a calúnia. Quantas vezes não fazemos isso? Vemos defeito em tudo! E falamos estes defeitos pelos quatro cantos. Às vezes agredimos o outro severamente por conta de uma palavra mal proferida. Uma conversa desnecessária.
Assim como as práticas anteriores de jejum, esta prática nos remete ao uso do nosso dom (a fala) somente quando necessário. Devemos nos silenciar não só em jejum mas por toda a nossa vida, quando o que tivermos pra falar não acrescentar nada ao nosso ouvinte. Portanto, cada um que participar deste jejum viva-o com a perspectiva de adotar o silêncio por toda a vida. Esta é uma mudança de hábito que nos faz ganhar tempo, uma vez que ocupamos realmente com o que importa que no caso somos nós mesmos. Que ninguém ache que precisa ficar uma semana sem falar. Mas, com este jejum, que possamos atentar para a conversa somente do que é necessário, deixando de lado as "últimas notícias" do vizinho, as "novidades" da sogra... Enfim, todo tipo de assunto que nos faz falar demais. Isto não é fácil. Requer lutar contra si próprio muitas vezes para fazer prevalecer o que Deus nos pede. Para não caluniar, não humilhar, não ferir, não difamar.
Senhor, que possamos aprender com teu silêncio no calvário. Que possamos nos silenciar diante daquilo que não interessa ao outro e que achamos ser nosso dever revelar. A ti, Senhor queremos seguir. Dá-nos a capacidade de compreender teus ensinamentos e a adotá-los não só como jejum mas também uma prática de vida. Amém.
Belo Horizonte, 7 de março de 2012.
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