terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Aquele estranho dia que nunca chega: as chuvas


Por Deiber Nunes Martins

As chuvas têm aprontado bastante aqui em BH. Parece que já choveu mais no período que nos últimos cem anos. É chuva pra dar e vender. E por falar em vender, quem vende guarda-chuva está bem na fita. Entretanto, quem não vive desse comércio está sofrendo e não é pouco. BH virou uma imensa área de risco. Antes na chuva caía água, muita água. Hoje cai água, cai árvore, cai carro no buraco e cai prédio. Ontem caiu um no Caiçara. Tragédia. Uma morte. Anteontem, um daqueles do Buritis. Engraçado que o que ficou de pé a justiça ordenou nesta segunda que continue de pé, embargando a demolição. A justiça faz o que pensa que sabe. A chuva faz o que sabe, chove. E chove muito. Mas será que a culpa é de São Pedro?
Belo Horizonte hoje é uma cidade sitiada. Não é preciso ir muito longe debaixo de chuva pra perceber que a cidade virou um queijo suíço. Buraco pra todo lado. Dirigir à noite virou tarefa pra piloto de rally. O pior é que mesmo nas ruas iluminadas, existem idiotas que insistem em jogar o farol alto na sua cara. Aí você não enxerga nada. E não vê o buraco. Lá se vai sua roda, lá se vai sua suspensão. Aí quem fica bem na vida é o cara do alinhamento, balanceamento e suspensão. E como ganha dinheiro! Uma cidade esburacada não é culpa do santo. Aliás, sua participação na gestão das chuvas é mais que controverso. Chove por conta do clima, não do santo.
Não tem muito tempo em que eu via verdadeiros temporais em BH e a Cristiano Machado sobrevivia, firme e forte. Hoje não pode cair um chuvisco e já avisam que a avenida está alagada. Já não sabemos o que fazer! Quem mora nas regiões de Venda Nova, Pampulha e Norte, depende da Cristiano Machado pra chegar ao Centro. Com ela alagada, sobrecarrega-se a Antônio Carlos. Que pra nosso azar está em obras, por conta de um tal BRT que a Bhtrans empurrou pra gente goela abaixo, em troca do metrô de superfície e subterrâneo que resolveria a novela do transporte coletivo na cidade. A Cristiano Machado alagada é culpa de São Pedro? Não é o santo que tenta agradar as empresas de ônibus com o BRT, isso eu garanto... Também não é o santo que fez um arremedo de obras no Córrego do Onça, que insatisfeito vomita suas águas barrentas e fétidas na avenida.
Fiquei surpreso ao ver no telejornal a imagem do Anel Rodoviário completamente parado por conta do afundamento da pista na proximidade do Viaduto São Francisco. Tudo ali parece querer deslizar, desmoronar. Moradores da vila às margens ali do Anel, foram aconselhados a deixar seus barracos o quanto antes. Aborrecimento...
Avenida Nossa Senhora do Carmo com problemas! A Raja também, ali nas imediações do Hospital Madre Tereza. Tudo parece querer cair. E os pseudo-bacanas e ricos de mentirinha do Belvedere, Buritis e toda Zona Sul também aborrecidos. Sabem que se descer pro Centro, vão agarrar no trânsito. Helicóptero é pra rico com R maiúsculo e estes são poucos. A imensa maioria dos pobres mortais anda é de carro e o que é pior, cada um no seu, congestionando toda a cidade numa pura falta de planejamento urbano. São Pedro também está inocente nessa...
Portanto querer culpar São Pedro pelas águas que estão caindo é no mínimo agir de má fé, apostando numa ingenuidade que não cola mais num mundo antenado às redes sociais. A chuva é um somatório de questões climáticas e sempre é esperada para esta época do ano. Acontece, que a prefeitura não se prepara para o período, ocupada demais com as briguinhas políticas PT e PSDB. Como vivemos num país banhado pelo mar da democracia, é de se presumir que seria papel dos nobres vereadores anteverem-se ao problema das chuvas, propor e aprovar medidas concretas e urgentes antes do período chuvoso. Mas estão eles todos preocupados com o salário que seus sucessores (?) receberão em 2013. E quando tomam projetos de planejamento urbano, onde poderiam agir diretamente na problemática, é para defenderem a verticalização e os interesses de empreiteiras, muitas delas financiadoras de campanhas. A culpa não é do santo e sim da porcaria de sistema democrático que temos.
Chegará o dia em que sofreremos as tragédias das chuvas e responderemos à altura nas urnas. Votando conscientemente para prefeito e vereadores que estejam de fato compromissados com a cidade. Chegará o dia em que teremos uma cidade sem áreas de encostas e morros, nem córregos encaixotados em caixas de concreto prestes a estourarem tão logo caiam as primeiras gotas de chuva. Chegará o dia em que voltaremos a ter terra e asfalto e não só o asfalto nas ruas, fazendo com que as águas penetrem no solo. Chegará o dia que BH voltará a ser a capital dos botecos e não dos buracos, como vem sendo.
Chegará esse estranho dia. Mas está demorando...

Belo Horizonte, 03 de janeiro de 2012.

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