domingo, 30 de março de 2008

Estação das Flores

Por Djanira Silva - Missionária Canção Nova

A sábia natureza ensina que é preciso respeitar o processo de espera

Quem já plantou uma semente e esperou os dias passarem para vê-la germinar, crescer e frutificar, certamente sabe dar mais valor a um campo florido. É que se leva um tempo determinado para cada coisa acontecer também na natureza, e as flores são sinais de etapas superadas. Apontam um novo tempo, uma nova estação.

Como é certo que colhemos o que plantamos, contemplar as flores nos encoraja a viver à espera do fruto. A sabia natureza nos ensina que é preciso respeitar o processo de espera; o problema é que muitas vezes nos esquecemos disso e queremos “colher” imediatamente, sem considerar o tempo certo para cada coisa.

Seria cômico ver que alguém plantou uma semente de abacate e, no dia seguinte, já quisesse colher seus frutos. Pior ainda, se essa pessoa ao não encontrar abacates se irritasse e arrancasse a semente da terra, ignorando o processo necessário para o seu desenvolvimento.

O que diríamos de uma situação assim? Talvez a achemos estranha, mas, muitas vezes, é isso que acontece conosco! Queremos colher no dia seguinte ou na mesma hora o que ainda estamos plantando, e quando não acontece como esperávamos, ficamos irritados, destruímos a “semente” e desistimos dos sonhos.

A Palavra do Senhor garante-nos que: “O que semeia com fartura, com abundância também ceifará” (II Coríntios 9, 6b). Mas também afirma que há um tempo para cada coisa debaixo dos céus: Tempo para plantar e tempo para colher... (cf. Eclesiastes 3, 1-15).

Aqui na Europa já é primavera, chegou a estação das flores! Estes dias passando por um campo bem florido, sentindo o frescor do entardecer, respirei fundo enquanto constatava que, com a natureza, também vivo uma nova estação, a “estação das flores”. O inverno passou, o deserto floriu e as flores que colho são sinais de que valeu a pena semear, cultivar e esperar.

É interessante perceber que saí desta terra no final do outono e voltei no início da primavera, Deus poupou-me do inverno, levou-me a viver o verão, com sua intensidade, em outro país. Seria tudo isso coincidência? Certamente não. Para nós que temos fé nada nesta vida é coincidência, tudo é fruto da Providência Divina. É preciso ter um olhar de fé e esperança em tudo o que vivemos e isso é também respeitar cada etapa da vida.

Reencontrando os amigos, constato que as sementes lançadas germinaram, cresceram e deram frutos... Vale a pena semear o bem, mesmo que seja com lágrimas e entre espinhos. No exercício da missão que assumo, no contato com diversas pessoas, infelizmente, encontro muita gente sem esperança, sem paciência e sem um sentido na vida. Muitas vezes, cansadas ou paralisadas em decepções ou sonhos perdidos. Pessoas que pararam de semear por não contemplarem de imediato o fruto de seus esforços.

Tenho certeza de que não é essa a vontade de Deus para nenhum de seus filhos. Mas compreendo também que, na verdade, o Senhor sempre respeita a nossa liberdade e espera de nós o mínimo de abertura para realizar a obra d’Ele. É preciso sair do comodismo!

Creio que temos muita força de vontade, disposição e coragem para serem utilizadas. É hora de reagir!

A cultura do imediatismo, na qual estamos inseridos, vai aos poucos minando em nós a disposição para cultivar e esperar o tempo de contemplar o milagre do germinar, crescer e desabrochar. Dá-se a impressão de que o homem pode tudo e na hora que ele determina. No entanto, o curso natural da vida nos ensina que não é bem assim. Os sábios já descobriram isso!

Estes dias conheci a história de um menino que compreendeu bem esse segredo, acredito que seu exemplo ilustra minhas palavras. Seu nome é Nike. Ele tinha apenas dez centavos no bolso quando procurou um fazendeiro e apontou para um tomate de aparência deliciosa, pendendo do pé. Disse-lhe:

"Dou-lhe dez centavos por aquele tomate", ofereceu o menino.

"Esse tipo de tomate custa vinte centavos", afirmou o fazendeiro.

"E aquele ali?" perguntou Nike, apontando para um tomate menor, mais verde e menos atraente. O fazendeiro concordou: “Aquele custa dez centavos”.

"Está bem", disse Nike, e fechou o negócio colocando o dinheiro mão do fazendeiro.

"Venho apanhá-lo daqui a duas semanas", conclui o garoto.

Podemos aprender com Nike, que investiu dez centavos em um tomate que valeria vinte no futuro. Se estivermos dispostos a semear agora – o bem que desejamos colher no amanhã e soubermos respeitar as etapas do desenvolvimento –, certamente veremos nosso campo florir e a estação das flores virá até nós.


Fátima, Portugal, em 30/03/2008

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