Por Deiber Nunes Martins
Sempre gostei da Semana Santa por causa da manifestação de fé do povo. Durante essa semana, as pessoas se voltam mais para as coisas de Deus. Além disso, acontecem procissões e eu sempre gostei de procissões. Sempre representaram para mim um acontecimento único. Mas as vezes, em uma santa procissão acontecem situações cômicas...
Por mais que o padre peça o respeito das pessoas, sempre tem um que não entenda muito bem. Como o caso daquelas senhoras que passaram a caminhada toda tagarelando, contando as novidades da vida de um de outro. Às vezes uma se assusta e emenda um pedaço de uma Ave Maria meio destoante. Por mais que o padre oriente, sempre tem um desavisado. Mas a procissão segue.
Em seu curso, passa-se por algumas ruas do bairro. Sempre tem um jovem ou uma jovem, que sempre se envergonha de estar seguindo a procissão. E muitas vezes, tem aquele que disfarça, quando vê um conhecido:
"Ora, ora, seguindo a procissão?"
"Não, não. Estou de passagem e esta procissão insiste em me seguir!"
Bom, existem também alguns dos nossos irmãos evangélicos que num ímpeto de rivalidade, acham um absurdo a procissão passar na porta da igreja deles. Muitas vezes, quando a procissão avança, entoando músicas sacras, ou mesmo o Terço Mariano, o som dentro dos templos evangélicos é aumentado. Como se Deus sofresse algum problema de audição... Engraçado, não?
Aliás, sobre os nossos irmãos evangélicos e me perdoem os leitores protestantes, eles sempre afirmam que seguimos a um Deus morto, ao seguirmos uma procissão. Não tenho conhecimento teológico suficiente para ficar esclarecendo as posições destes meus amigos, todavia eu digo que o Deus que seguimos não é morto, porque ressuscitou ao terceiro dia. Acontece que para que Ele pudesse ressuscitar e manifestar assim a Glória dos Céus, foi preciso a Cruz. Sem a Cruz, não haveria ressurreição. No mais, vida que segue e procissão também.
Avançamos agora para junto de um bar. É engraçado a postura dos donos de bares e botequins diante da Procissão. A maioria deles, se não todos, abaixam as portas de seus estabelecimentos pela metade, num sinal claro de respeito. Pena que as duas comadres que estavam conversando lá no início não concordem e digam:
“Vejam só que falta de respeito! Podiam fechar tudo!”
“É... realmente podiam. Mas será que vocês também não podiam fechar a boca?”
Enquanto deixam a porta aberta pela metade, os donos de bares e botequins estão respeitando a fé de um povo. Talvez nunca tenham adentrado uma Igreja, ou talvez não comunguem da nossa religião católica. Porém o gesto deles é de total respeito, em minha opinião. Pior o desrespeito de quem segue a procissão. Vida que segue, procissão também.
Ao longo do caminho, as pessoas enfeitam as ruas por onde a procissão passa. Um senhor mais atrasadinho, acaba por acender as velas tão logo a procissão passa a frente de sua casa. Atabalhoado, ele quase derruba os castiçais e chama muito a atenção de tão engraçado que é o seu desespero para não deixar Jesus passar sem nenhuma vela acessa. Ao final, ao menos uma o desajeitado senhor consegue acender, e a procissão passa.
A caminhada com Jesus continua e vai se aproximando do local de destino. Neste momento me impressiona a figura de uma senhora caminhando junto da gente. Ela caminha de muletas pois lhe falta uma das pernas. Uma outra senhora, acompanha toda a procissão em cadeira de rodas. Fico admirado com as pessoas que seguem Jesus ao meu lado, muitas delas, caminham sem ter nenhuma condição. São pessoas idosas que caminham acima de tudo, na fé.
A procissão chega finalmente ao seu destino e a satisfação é muita. Durante a longa caminhada, podemos sentir Deus caminhando conosco. Muitas vezes no olhar compenetrado das pessoas. No esforço de cada um. Na voz seca e imperiosa do padre, tentando fazer-se ouvir nas orações proferidas. Na emoção de quem chega ao destino, tendo como companheiro, ninguém menos que Jesus Cristo!
Senhor, que possamos não só segui-lo mas também andar contigo, caminhar do teu lado, obedecendo-te em tudo o que nos pedir. Que o Senhor nos dê a força necessária para não desanimar-mos diante das dificuldades do caminho. E que ao vermos nossa incapacidade de continuar, que continuemos na fé. Que a fé nos mova, ao imenso amor de Deus, amém.
Belo Horizonte, 18 de março de 2008.
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