Por Deiber Nunes Martins
Edmo estava cansado. Realmente cansado. Era fim de noite e agora ele se recordava de tudo o que havia feito no fim de semana. Tinha sido um final de semana corrido. Muitas atividades, muitas pessoas, muitos momentos, enfim tanta coisa pela qual ele havia passado!
Ele abriu a porta de seu apartamento, já pedindo por sua cama. Apenas encostou a porta, olhou ao redor, toda bagunça. Avistou o divã na pequena sala de TV e se jogou nele. Havia uma mesinha ao lado, com um balde de pipocas pela metade. Devia ser ainda o resultado da noite da última sexta-feira, em que passara boa parte do tempo assistindo filme e comendo pipocas. Sozinho.
Embaixo do balde de pipoca, havia um pedaço de papel. Edmo, a princípio não deu muita importância a ele. O ideal era descansar. Ele sabia que precisava de um bom banho, mas não tinha coragem de erguer-se e atravessar o modesto apartamento rumo ao banheiro. Também precisava se barbear, mas definitivamente, deixaria isso para a manhã seguinte, manhã de segunda-feira, quando começaria tudo de novo.
O cansaço definitivamente falou mais alto e Edmo adormeceu. Mas o divã não era o lugar mais confortável ao repouso do rapaz e ele logo agitou-se, esticando o braço mais do que deveria e derrubando no chão o balde de pipoca. O barulho foi suficiente para acordá-lo e isto o irritou profundamente. Sentindo o corpo doer, finalmente ergueu-se e ficou olhando a pipoca derramada no tapete da sala. Então mirou o pedaço de papel na mesinha. Tomou-o e pôs-se a ler em voz alta, a frase que nele estava escrita:
“Volta pra casa!”
Neste momento, veio a mente de Edmo, muitas realidades da sua vida. Inúmeros momentos e situações que estava vivendo naqueles dias. Percebeu que estava vivendo no limite de suas forças. E percebeu também que não estava sendo correto consigo mesmo, nem com as pessoas do seu convívio. Na verdade, Edmo estava sendo a algum tempo infiel às pessoas que muito o amavam e estava flertando com um mundo que não lhe pertencia. Estava migrando de um lugar para o outro, de uma realidade para a outra. E percebia também o estrago que isto poderia causar mediante a influência que ele exercia sobre as pessoas.
Edmo era um rapaz muito carismático e suas idéias seduziam as pessoas do seu grupo. Entretanto, estar flertando com outro mundo, estava maculando tais idéias e fazendo com que ele colocasse em risco o seu próprio grupo, o grupo ao qual pertencia desde o início de sua vida.
Definitivamente, aquilo lhe perturbou severamente. Mas, o mundo que estava almejando e as realidades que ele lhe proporcionava estavam causando em sua vida um alívio que ele nunca tinha experimentado. Era uma realidade nova e isto o seduzia. Mas, ele não podia negar o quão perigoso poderia ser aquele flerte. Não dava para transitar em dois mundos.
Aquela frase, o incomodava. Para muitos, seria uma frase qualquer, sem nenhum sentido aparente. Mas para Edmo, era diferente. Ele sabia muito bem o significado daquela frase e na verdade, seu subconsciente já aguardava ansioso por ela. No entanto, Edmo tinha dúvidas e queria saber. Ele tinha muito a saber e perguntar. E assim o fez. Olhando para o papel, perguntou a si mesmo: “Não seria arriscado voltar pra casa? Será que eu serei bem recebido? Eu que errei tanto em minha vida, cometi tantos erros, no encontro com esse mundo em que estou vivendo, será que tenho volta? Será que posso voltar para casa?”
E imediatamente, as respostas saltaram a seus olhos. Era preciso voltar para casa. E quando o fizesse, não seriam necessárias justificativas, desculpas, ou explicações. Não haveria necessidade de se consertar os erros, reparar os males. Tudo aquilo que havia sido feito no final de semana poderia ser apagado, sem maiores perguntas. Bastaria, voltar pra casa. Era só a sua volta pra casa que interessava. E na verdade, é a volta pra casa, o mais importante. O essencial.
Nesta quaresma, todos nós somos chamados a voltar pra casa, o nosso lugar ideal de repouso. O lugar onde nenhum mal pode nos atingir. É um tempo de conversão, um tempo de volta pra casa e assim como Edmo, talvez estejamos há muito tempo longe de casa, vivenciado realidades que não são as nossas.
Portanto, se temos o Céu como nossa casa, pra que vamos ficar morando de aluguel no inferno?
Belo Horizonte, 10 de Março de 2008.
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