terça-feira, 29 de abril de 2008

Já Não Se Fazem Domingos Como Antigamente

Por Deiber Nunes Martins

Domingo de sol. Pra muitos dia de namorar, ir à praia, correr para o sítio, bater aquela bolinha, assistir a Santa Missa... Para outros dia de curtir preguiça, ir fazer compras, visitar a sogra... Domingo é um dia diferente de todos os outros, porque é o dia de fugir da rotina. Mesmo que a própria fuga já seja uma rotina. No entanto, já não se faz mais domingos como antigamente.
As manhãs de domingo sempre foram para mim, sagradas. Para ir à Igreja, agradecer a Deus pela semana que passou. E também pra assistir as corridas de Fórmula 1 pela TV. Saudosista, lembro-me dos tempos do Piquet (o pai), o Ayrton, grande Ayrton Senna, os grandes duelos com grandes pilotos como Prost, Mansell, Berger... Ah, que saudade. Manhãs deliciosas aquelas, após as Missas, em que chegava e ia me grudar na frente da TV, esperando pelo famoso "Bem amigos, da Rede Globo...". Isso, no tempo em que o Galvão não era o louco fanático de hoje. Que saudade...
Saudade também do gostinho do domingo. Aquele dia animado, com as corridas de carro, o futebol na parte da tarde. Domingos onde o Galo reinava absoluto, sem dar espaço para os rivais, sobretudo o Cruzeiro. Domingos que a gente anseava loucamente, esperando que chegasse o momento: "Vai ter jogo no Mineirão, você vai?" Domingos alegres. Almoçávamos com a família e depois íamos ao campo, ver o Glorioso. A gente sabia que o time era bom e que não ia decepcionar. E não decepcionava. Vencia sempre. E quando não vencia, saíamos chateados, mas logo passava, pois o time era bom. Valia a pena esperar pelo próximo domingo, que a revanche fatalmente viria. A alegria do domingo esportivo começava de manhã, com a vitória do Senna, seguida daquela indefectível musiquinha, que hoje as vezes até toca, mas sem graça nenhuma. A alegria seguia o restante do dia, culminando a tarde, com o futebol e o Galo ganhando mais uma.
Hoje, domingo dá medo.
A Fórmula 1 não é mais a mesma. De tanto inventarem, tiraram o prazer do esporte. Os embates de velocidade, as ultrapassagens, os nós que o Senna dava nos adversários. Nenhum outro conseguiu chegar perto do que este nosso ídolo fazia. Você pode me questionar sobre o Schumachaer, mas eu logo te respondo: O Senna não ganhava corrida no Pit Stop, ganhava no braço, brigando lado a lado muitas vezes com carros mais velozes que o dele. Se você tiver boa memória, vai se calar diante disso. Infelizmente, as corridas hoje são um espetáculo mercadológico, com carros surreais, pilotos velozes mas é só e brigas intensas de bastidores. Dentro da pista, nada além da monótona perseguição Ferrari-McLaren-BMW-Renault. Coisa medonha. E no fim ainda somos obrigados a achar normal que o brasileiro, pra quem ousamos torcer, não pode ultrapassar o companheiro de scuderia, porque tem de guardar o jogo de equipe. Pavoroso.
Como se não bastasse as corridas, o Atlético é mais um arremedo de time do que propriamente um time de futebol. Sou obrigado a concordar com os torcedores cruzeirenses. O Galo é mesmo um time "meia boca". Não assusta hoje mais ninguém. É um Galo sem esporas, vítima dos desmandos de dirigentes amadores, que se intitulam atleticanos, mas não abrem o clube para os atleticanos de verdade governarem. Se interessam pelo poder e não montam os times que a Massa tanto merece. Enfim, ter de aguentar esse timeco do Atlético, no ano de seu centenário é o pior presente que a Massa adorável poderia receber.
Foi triste o domingo ontem. Estar inerte em frente a TV, vendo o inimigo passar como queria pelos nossos defensores trapalhões. Bateu saudade dos tempos áureos, onde o Galo merecia respeito. Hoje merece condolências... Foi triste estar sozinho à noite. Contradizendo Roberto Drummond em sua Oração do Atleticano, a amada ficou exilada na Conchinchina, mas a defesa atleticana capitulou cinco vezes. E o que é pior, diante do medíocre time do Barro Preto. É preciso ser forte pra não chorar.
É preciso ser forte pra sobreviver a estes domingos modernos. Domingos onde a felicidade do adversário é a nossa completa derrocada. E o que é pior, com a amada exilada, resta-me o travesseiro, como amigo e confidente. O domingo não foi sangrento, mas ensanguentado está meu coração. Alquebrado, incapaz de respirar diante do peso da infâmia, da ousadia. Já não se fazem mais domingos como antigamente. Uma pena.

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