domingo, 6 de abril de 2008

A Busca Pelo Divino

Por Dalton González

“A senhora poderia aproveitar que está rezando aí com seu terço e este livrinho e rezar por mim também!”, disse o jovem sentado ao lado de uma senhora, já idosa, no metrô de São Paulo, em visível tom de deboche.
“Eu não vou rezar pra você não! E pare de me incomodar!”, disse a senhora, visivelmente transtornada.


A cena vista no metrô de São Paulo pode relatar duas situações adversas: a primeira, intolerância da velha para com o jovem, que lhe pedia orações. A segunda, que o jovem estava fazendo troça com a senhora, visto que esta se sentia incomodada por ele. Em ambas situações, a negativa da senhora não soa bem.
Estamos em um tempo onde a vida espiritual é colocada em evidência. E no entanto, nas grandes cidades, poucas pessoas são vistas freqüentando as Igrejas e os templos religiosos. E no entanto o homem moderno revela-se um homem espiritualizado. Um homem capaz de perseguir suas crenças e devoções mas sem o mesmo engajamento de outros tempos. A cultura do imediatismo têm minado as relações humanas com o Criador e aqui se abre um parêntese para afirmar, este não é um fato próprio desta ou daquela religião. Em todas as crenças se observa isso. Há uma superficialidade na busca pelo divino, o que acaba por gerar frustrações e desespero. O homem, em sua busca superficial por Deus acaba se fragilizando ao não encontrá-lo.
Ao mesmo tempo em que o homem se apega a espiritualidade por meio de seitas fantasiosas, amuletos e outras práticas que não levam a lugar nenhum, em relação ao verdadeiro encontro com o Criador, este mesmo homem torna-se cada vez mais intolerante. O homem em meio a insegurança e a total falta de tempo, não se abre para o diálogo e não se permite conhecer outras pessoas. O estranho é sempre estranho. Desta forma, o que se vê em lugares públicos é o império do silêncio. As pessoas não conversam, não se mostram e quando alguém se aproxima, se tornam arredias.
Há uma idéia no qual não se pode discordar: o homem está se abrindo à realidade de encontro com Deus. Infelizmente, ainda é um busca tímida e inadequada, mas já é um bom sinal. Deus está no lugar certo – em todos os lugares! Mas só pode ser encontrado no coração. O homem se afasta de Deus procurando por amuletos e falsa sorte.
Em minha busca pelo Divino, posso dizer que sou bem sucedido pois o encontro em todos que encontro por este mundo. Em todas as pessoas! Desta forma, posso dizer que não me simpatizo com a velha senhora do metrô, mas que vejo Jesus, o Filho de Deus, nela. Ou talvez não me simpatize com o rapaz debochando da fé da senhora no metrô, mas mesmo assim, eu vejo Jesus nele. E ao encontrar Deus nos outros por onde ando, eu posso concluir que não tenho o direito de julgar ninguém. Mesmo que seja fato: a resposta da senhora foi indelicada e o deboche do rapaz também tenha sido inadequado, não me permito julgar. Porque Jesus se faz presente nos dois e em mim também. Esta presença de Jesus me leva a imaginar o que não vejo. Por exemplo: eu não sei o que aquela senhora passou antes de adentrar aquele metrô, tampouco sei de sua vida. E assim é com o rapaz também. Então, quem sou eu pra julgar?
Talvez, ela esteja orante pela saúde de alguém, ou abalada por uma situação pessoal, algum problema que não a deixa dormir ou quem sabe, alguma coisa que ela esteja precisando e por isso clama aos céus com todas as suas forças, esquecendo-se de quem está ao seu lado lhe pedindo orações, naquela composição de metrô.
Talvez, o rapaz realmente esteja precisando de oração. Talvez não seja deboche. Mas ele está tão de bem com a vida, que bem humorado satiriza a busca espiritual daquela senhora. Ou então ele satiriza aquela senhora por ainda não ter tido a oportunidade de em sua busca espiritual, encontrar com o Criador. E quantos não estão assim?
Quantos de nós não frequentam as Igrejas, os grupos de oração, ou até membros de outras religiões ou seitas, outros são membros ativos da Renovação Carismática Católica. Outros, adeptos de práticas de ocultismo, bruxarias e afins; outros até são ateístas, não acreditam em Deus; ou talvez pior, sejam membros de grupos e entidades que cultuam os demônios, enfim, todas as raças e religiões, quantos de seus membros buscam incessantemente Deus e não encontram?
Muito da maldade de nosso mundo é cometida por pessoas que têm como um de seus objetivos, a busca pelo divino. Muito dos maiores inimigos da sociedade têm em comum com a própria sociedade a busca por Deus. E nesta busca, encontram-se com os erros, com os pecados, com as injustiças e com a maldade. É preciso compaixão, misericórdia com essas pessoas e Jesus nos ensina isso a todo o tempo.
Quando buscamos a Deus e o encontramos, entendemos muito do que parece impossível de se entender. Então começamos a entender a intolerância, a ambição e a maldade desmedida desse mundo. Tudo isso começa, quando a busca pelo Sagrado é apenas uma busca, e não o encontro com Ele.
Sou Dalton González e este o meu recado!

São Paulo, 04 de Abril de 2008.

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