quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Vivendo a Vida Simples de um Dia Só

Por Deiber Nunes Martins


Há uma música do Pe. André Luna que tem tocado muito a minha vida. Esta música chama-se “Uma Vida Só”. E ela fala sobre viver o essencial, as coisas mais simples da vida. Por muito tempo, passei achando justamente o contrário. Achava que deveríamos adquirir conhecimento suficiente, para arrancar tudo da vida. E seria um absurdo viver uma vida simplista, se existem as possibilidades de ir adiante.
Percebo que não estava errado, mas o engano estava em meu foco. A partir do momento em que focamos em nosso Eu, as nossas metas, corremos o risco de viver para o imediatismo do mundo. Viver conforme a teologia da prosperidade, pregada por algumas seitas religiosas, onde a Graça de Deus, está naquilo que você adquire na vida. Assim, as pessoas que vivem uma vida simples, acabam sendo condenadas pelas outras, por não terem vontade de crescer. Como se viver o complexo fosse uma glória, um privilégio de poucos.
Já parou pra pensar como as pessoas de mais posses, vivem uma vida complicada? Certa vez, quando adolescente, comparei o meu dia, com o de um amigo meu, filho de um empresário poderoso, dono de muitas coisas. Enquanto ele saía do colégio, ia pro curso de inglês, depois a aula de natação, mais tarde, curso de violão, depois ia pro Mc Donald com os amigos, e por fim chegava em casa já a noite, eu saía do mesmo colégio, ia pra casa, almoçava a comidinha gostosa de mamãe, depois tirava um cochilo, levantava, estudava o que tinha de estudar, fazia um lanchinho, depois ia ouvir o programa de esportes do rádio com meu pai, via novelas com mamãe, curtia meus irmãos, ia bater papo na porta de casa com os amigos e tudo mais. Depois voltava pra dentro de casa, tomava um banho, comia uma coisinha e ia dormir. Eu percebi que passava mais tempo em casa que meu amigo. Teve um dia que ele se escandalizou comigo, quando lhe disse que tinha batido um papo com meu pai. Ele não vivia esta realidade. Via o pai, de vez em quando nos fins de semana. E aí, eu me escandalizei com ele...
Então cheguei ao que sou hoje. Fiz faculdade, mudei vários hábitos, fiz novas amizades, vivi várias experiências... enfim, minha vida ganhou ares de vida adulta. E como tal, foi ficando mais complicada. Percebi que não tinha mais todo o tempo que me sobrava na infância e adolescência. Percebi também que as conversas ficaram diferentes e que na maioria das vezes as pessoas que conversavam comigo esperavam algo mais de minhas respostas. Elas passaram a ter mais importância para quem perguntava. E aos poucos comecei a perceber que minha vida estava bem complexa. Meus problemas ganharam complexidade e passaram a exigir bem mais de mim. A vida ficou mais cansativa e logo começaram os sintomas do estresse: mau humor, dores de cabeça, nervosismo e tudo mais que esta enfermidade oferece.
Então, percebi que, quando mais complexa fosse a minha vida, quanto mais eu buscasse a prosperidade, o sucesso financeiro e o conforto material, mais eu teria com o que me preocupar, porque uma vez você consegue, precisa se ocupar de como manter o que tem e como conseguir mais. E a vida vai virando um saco sem fundo, onde nada o completa. Nada te satisfaz.
Então, esta música entrou em minha vida. Eu não conhecia este padre, mas por intermédio de uma linda pessoa que entrou em meu coração para torná-lo mais belo, fui conhecendo não só esta nova realidade, mas também as implicações que ela me trazia. Viver uma vida simples, a vida simples de um dia só. Porque eu preciso respirar de novo. Antes, no estresse da vida cotidiana, eu não sabia nem respirar, aliás, eu ainda não sei. E assim como eu desaprendi a respirar, desaprendi muitas coisas simples da vida, como sorrir por exemplo.
Viver a vida simples de um dia só, me remete a voltar a minha infância. Aos momentos de criança. E quer um ser mais simples que criança. Criança, só pensa em sorrir, em brincar, em chorar, em pular, em berrar... tudo coisa simples! Criança não guarda rancor. Se um amiguinho lhe dá um pontapé, mais tarde ela lhe responde com um sorriso chamando pra brincar. Enfim, criança vive a vida simples de um dia só. A vida que eu preciso viver. Talvez para chegar onde Deus quer que eu chegue. E o mais importante: viver uma vida simples, implica em amar de verdade. E eu quero amar de verdade por toda a minha vida. É um pouco do que tenho hoje, no meu coração e com essas palavras, compartilho com vocês.
Vivamos a vida simples de um dia só. Quem quiser, venha comigo! E que Deus nos ensine a cada dia, sermos bem mais Dele, que de nós mesmos.

Belo Horizonte, 14 de Fevereiro de 2008.

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