terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ecos do Amanhã

Por Deiber Nunes Martins

Certa vez, disse sabiamente o poeta Renato Russo:
“È preciso amar, as pessoas como se não houvesse um amanhã
Porque se você parar pra pensar, na verdade não há...”


Como é profunda esta idéia e como às vezes não damos a mínima para ela. Em um mundo marcado pela intolerância e pelo desamor, a prática cristã precisa ser apurada. É preciso amar mais. Sempre deixamos pra depois o envolvimento com as pessoas, porque nossas vidas sempre são postergadas. Como é bom pensar como o grande Paulinho da Viola, “Meu tempo é hoje”. O tempo é o hoje, o que importa é o hoje. Mas infelizmente, as pessoas se aglomeram a porta do amanhã.
E se aglomerar na porta do amanhã nos leva a perder a essência do hoje. A essência do hoje é o que move as nossas vidas. O hoje é o momento onde podemos fazer a diferença em nossas vidas e na vida dos outros. Quando vivemos o amanhã, vivemos com a incerteza em nossas vidas. O amanhã, por ser incerto, faz incerto o nosso querer, o nosso agir. E quando paramos para pensar, percebemos as oportunidades reais que perdemos. Muitas delas mudariam as nossas vidas.
Recordo-me de Analu. Aquela morena belíssima que um dia apaixonou-se por Breno e guardou consigo este sentimento. Pensava ela, “quem sabe um dia ele não possa me dar atenção? Quem sabe amanhã, ele possa ser meu?” E enquanto ela assim pensava, Breno sofria o processo da rejeição, sentia-se só e mal amado, porque Vanessa havia rompido com ele. Então naquela mesma época ele falou a um amigo: “Por que uma pessoa assim como a Analu não me ama?” E assim Analu e Breno nunca se encontraram, apenas viveram uma amizade de fachada, onde poderiam ter vivido um romance. Se não fosse o amanhã...
As pessoas hoje pensam nas contas a pagar de amanhã, no resumo da novela de amanhã, no que fazer para o jantar de amanhã, na reunião com o chefe de amanhã, no que dizer ao namorado ou a namorada, amanhã. As pessoas pensam e planejam ações para o amanhã, que cursos fazer, que lugares conhecer, o que fazer amanhã. E enquanto se estressam com a incerteza do amanhã, perdem a certeza do hoje. É hoje o dia em que eu posso fazer, que eu posso agir. O amanhã eu posso planejar. Apenas planejar. Viver é hoje, amar é hoje.
Portanto, que Deus possa nos conduzir e nos fazer melhores a ponto de amarmos as pessoas intensamente, sem nenhuma medida. Como se não houvesse amanhã. Porque o amanhã, na verdade, não existe.

Belo Horizonte, 26 de fevereiro de 2008.

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