quarta-feira, 13 de maio de 2009

Coitada da Rotina...


Por Deiber Nunes Martins

As pessoas se reúnem nos bares, nos clubes ou em programas de televisão para discutir a crise. Mas a crise que estou falando é outra: não é a crise financeira e sim a crise da família, a crise do casamento.
Não conheço as estatísticas, mas ouvi de uma amiga, uma mulher bem feminista e radical em relação às famílias, que o número de divórcios hoje é superior ao de casamentos na maior parte do mundo. Eu que sou um cético convicto, não creio muito neste lance de amostragem e margem de segurança: acho que a amostra sempre pode estar manipulada, enviesada, contaminada.
Mas ficam algumas idéias em minha mente. Por que o casamento é hoje uma instituição falida, como apregoam artistas e personalidades importantes na TV? Eu que estou prestes a me casar, não tenho respostas para esta pergunta. Mas tenho idéias...
Primeiramente, o casamento tem sido mostrado e evidenciado como um contrato social. Um contrato onde as duas partes se comprometem a realizar cada um a sua parte no acordo, sob a vigilância até mesmo extremada de órgãos e agências de regulação e controle. E neste ponto, saem de cena as ANAC, ANATEL e ANEEL da vida para tomarem suas posições, pais, mães, sogros, sogras, irmãos, irmãs, tios, tias, primos, primas, enfim, família. A cada casal que se decide pelo casamento é uma luta! O pai pressiona de um lado, a sogra pressiona do outro. O sogro se coloca indiferente quando na verdade está querendo esganar o genro intruso que lhe rouba o diamante precioso. A sogra se enche de mimos com a nora, quando na verdade gostaria de esganá-la pelo mesmo crime. Família...
Mas na verdade, a família exerce certo tipo de pressão sobre os noivos porque ela (família) sabe que está em xeque. Os tempos modernos, a era digital, o Big Brother, as mulheres-fruta, enfim, tudo representa oposição a família e esta padece. Está falida. Com os dias contados, a cada casal de namorados que decidem ficar noivos, um fio de esperança renasce.
A vida é rude, o sistema, brutal. Casais enfrentam crises antes mesmo de se casarem. No noivado, as brigas já aparecem. As crenças se misturam e viva a maldita diferença! Um correndo para um lado o outro para o outro. Ninguém se entende. Acabam se casando. E acabam se separando a seguir.
Quando não se separam, ficam a filosofar sobre a existência deste ser único, formado por dois - marido e mulher. A seguir um típico modelo "receita de bolo", um texto apócrifo cunhado na internet, um libelo de auto-ajuda aos casais:
O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo.
Renovar o casamento e não procurar um novo. O que isso quer dizer? Fugir da rotina, o bode expiatório dos divórcios. É fácil dizer: não suporto rotina. É um daqueles chavões de pessoas em estado completo de mediocridade tipo, "meu defeito é ser perfeccionista".
É fácil colocar a culpa na rotina quando um casamento não dá certo. Quando um casal se divorcia, é comum uma das partes dizer que a rotina matou o casamento. Mas será que esta mesma parte que se queixa da rotina, experimentou a Graça da empatia (colocar-se na posição do outro)? Se na Igreja, junto do padre, o casal se transforma em uma só carne, porque tamanha dificuldade em serem empáticos um com outro? Talvez seja porque quando casam, o fazem por si mesmos e não pelo outro a quem dizem amar...
O texto apócrifo ainda fala sobre sair pra dançar, viajar em segunda lua de mel... Bom, eu não sei dançar, então to lascado! Quantas famílias vivem com um salário mínimo, menos de quinhentos reais? Viajar como? Ainda mais em lua de mel? Existem situações profiláticas que não se aplicam ao todo. É como o médico que insiste naquela dieta de comer frutas raras e caras, como se o paciente tivesse nascido em berço esplendido. Ninguém pensa que o cara pode ser um capitão de indústria. Então as soluções apresentadas são fantasiosas, ou então pra serem vividas no País das Maravilhas.
Falta pensar um no outro. Não é preciso pensar que estão de caso novo quando na verdade o caso é único. O "papo é reto" quando Deus une, nada separa. Eu vou ficar inventando bobeira? Caso novo com a mesma mulher? Bobagem desvairada... A cada dia que passa mais casais se rendem as práticas mundanas. Acreditam que uma relação apimentada pela pornografia, pela prostituição, pelas casas de swing, orgias e afins, renovarão o casamento. Quantos casais geram lucros aos sex-shops, pelo simples ato de pensar o sexo como um processo de renovação contínua, de mudança contínua. Tipo aquelas tecnologias japonesas que infestaram as empresas na década de oitenta.
Enfim, tudo em busca de matar a rotina. Matar a tal repetição diária. A vida é uma rotina. Deus criou o sol para marcar o dia e a lua para marcar a noite e nunca mudou isso. Se Deus não gostasse da rotina, cada dia começava com um sol diferente.
É preciso aos casais viverem a harmonia do amor. É preciso viver o matrimônio, a doação. Um precisa carregar o outro sempre. Hoje eu não estou bem, respeite o meu mal-humor, amanhã eu te compenso com o carinho que faltou hoje... É preciso voltar-se para o outro, envolver-se no universo do outro, para que ele(a) não se sinta sozinho(a). A pior solidão é aquela que você vive com você mesmo. E o outro não se importa. A pior dor é aquela que não dói, mas que gera indiferença. O pior amor é aquele que não se vive, se diz. Ou nem isso.
O casamento tem falido porque o egocentrismo tem lucrado. Enquanto se coloca a culpa na rotina da vida que nada tem a ver, o mundo egoísta vai ensinando suas práticas nefastas, cultivando a mágoa, o ressentimento, o divórcio, advogados, argh! E coitada da rotina... acaba pagando o pato.

Belo Horizonte, 13 de Maio de 2009


Belo Horizonte, 13 de Maio de 2009

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