quinta-feira, 3 de julho de 2008

Solilóquio

Por Deiber Nunes Martins

Existem dias que parecem noites. Já ouvi esta frase em algum lugar, não me recordo onde, mas é verdade. A essência dela quer dizer que existem dias ruins. Hoje, o meu dia, pareceu uma noite. E confesso, me derrubou.
Tenho andado muito empolgado diante das possibilidades que encontrei em minha vida. A possibilidade de viver um grande amor, é uma possibilidade magnífica. O amor transforma o homem e a cada dia tenho me sentido renovado, de espírito novo, decidido. Outra possibilidade, a possibilidade de construir minha família, junto da mulher que amo, é de fato uma possibilidade animadora. São sonhos que eu sempre sonhei viver. E agora estou vivendo. Então, por que diante das possibilidades que tenho, estou desanimado?
Acho que estou superdimensionando minha euforia. Talvez, os meus sonhos sejam só sonhos e pior, só meus. Talvez não exista ninguém que seja capaz de vivê-los comigo. Esta insegurança que invade minha alma, parece que vai acabar comigo. É como se eu quisesse me estrangular em busca de uma certeza que eu não tenho. Não é fácil caminhar no escuro. E pior ainda é saber a cada dia que este caminho, se faz sozinho. Quem sabe, em minha história de vida, eu tenha sido tão dependente a ponto de não querer andar sozinho?
Ontem, ouvi de uma colega que não há a mínina possibilidade de um amor sobreviver à distância. Partilhei com ela que havia sim, mas que era preciso que Deus estivesse no comando das coisas. Escuto de minha amada que Deus está no comando, Ele realmente está mas não posso ver nos sentimentos dela, a confirmação desta premissa. Posso ver em mim, em meu desejo febril de viver estes sonhos. Assim, dói muito na alma, saber que só eu sou capaz de sonhar. Por que não posso compartilhar meus sonhos?
Eu não me convenço de que não é possível viver este amor à distância. Entendo que se conseguimos chegar até aqui é porque Deus está no leme de nosso barco. Não vou desistir, mesmo que tenha de enfrentar a tempestade sozinho, como se faz parecer. A esta minha amiga, eu consegui convencer da possibilidade ilimitada do amor. Será que posso convencer minha amada também?
É são inúmeras perguntas, inúmeros por quês. Não encontro respostas, não entendo nada. As coisas tem fugido do meu controle e tenho me sentido cada vez mais fraco. Há tempos não consigo viver meus flertes com a inspiração. Ela parece ter se esquecido de mim. Parece ter ido viver com seu amante rico lá bem longe. E com ela, meus amigos e amigas, todas se foram. Sinto falta de escrever, como eu sinto falta! Mas quando chego a frente desta tela branca, não consigo mais. Cresce um imenso nó na garganta, vai brotando do peito esta vontade louca de chorar. Até quando vou suportar?
Em meus pensamentos, a verdade de todo dia e a obscessão do momento. Cerca de três ou quatro idéias fixas a martelar minha mente todo santo dia, e já começo a me sentir ridículo, tentando elocubrar teorias para explicá-las. Começo a contar a todos, minhas querelas enfadonhas. Sinto-me enfadonho. Ninguém se importa. Se eu cair, ninguém vai se importar. Só Deus está perto e não vai embora. Ele se importa e com ele, não me importo em parecer chato. Será que esse monte de remédios que estou tomando está me tirando o juízo, está me enlouquecendo?
Hoje eu não tenho um final feliz. Não tenho respostas para inúmeras perguntas. Tenho esta vontade louca de jogar tudo para o alto e fugir pra Pasárgada. A terra onde eu posso ser feliz. Manoel Bandeira foi mesmo um gênio quando descreveu Pasárgada. Quando o fez, mostrou a todos nós uma válvula de escape à este mundo sombrio e infeliz. Pasárgada é o lugar onde eu, você e todos nós nos encontramos para beber a vida e encontrar nesta o sentido que ninguém quis nos dar. É a minha vontade de hoje. Ir embora pra Pasárgada e me embriagar em suas tabernas mal iluminadas, com seus parcos fregueses. Cada um com seu dilema ou teorema. Minha vontade de hoje é dormir na noite calma de Pasárgada. De vez em quando ouvir o vento abraçando a janela e as copas das árvores. Acordar com gostinho de guarda-chuva na boca sim, não sou de ferro. Mas ter a certeza de que estou no caminho certo. E assim, encontrar pra todas as perguntas mal feitas, as respostas bem dadas.

Belo Horizonte (quem dera se fosse Pasárgada), 03 julho de 2008, 21hrs19min.

Um comentário:

Blog do Deiber disse...

Este texto merece um comentário. Não pode ficar assim tão impune. Discordo em algumas partes dele porque o Deiber não pode se deixar levar pela derrota. O Deiber precisa a cada dia mais, se erguer em Deus. Mesmo que as batalhas sejam perdidas, que os soldados morram pelo caminho, o Deiber continua sua caminhada. E não está sozinho. Deus caminha comigo e meu amor também.