Por Ângelo Prazeres
Na agitação da pizzaria, naquele ambiente barulhento e fervilhante os dois velhos parecem surpresos com os bons modos e as caras fechadas dos rapazes da mesa ao lado. Um deles comenta, visivelmente encantado: “Nem parece que são jovens. Veja como são sérios.” E o outro retruca, visivelmente impressionado: “Nem tudo está perdido.” Envolvidos em tensa discussão, todos os moços concordam quando uma voz se ergue e lança a previsão: “O fim está próximo! Não há como esconder a realidade!” Tristonho e abatido, um dos jovens lamuria: “E o pior é que não podemos fazer nada.” Na mesa ao lado, depois de uma bicada no chope e outra na pizza, um dos velhos observa: “Eles estão preocupados com o apocalipse. Estão falando do fim do mundo, da explosão do planeta.” E o outro resmunga, solidário: “Coitados. Na flor da idade e já enxergando o fim dos tempos.”
Na flor da idade e da desilusão, como comprovam os lamentos do mais novo da turma: “E o pior é que não tem saída! Não tem escapatória!” Um dos velhos se emociona, e desabafa: “Ainda bem que já vivemos muito. Mas essa molecada aí, veja só. No auge da mocidade vão testemunhar o fim do mundo.” E quando um dos moços se exalta um profundo sentimento de piedade se apossa das almas dos dois velhos. Tanto que um suspira, comovido: “Eles não mereciam isso...” E o outro, mal contendo das lágrimas e abordando um dos jovens: “Estou orgulhoso de vocês, pela preocupação de todos com a extinção do planeta.”A reação do rapaz é imediata: “Quem disse que estamos preocupados com o planeta? Nós estamos assustados é com a extinção do Atlético!” E finaliza, com o olhar congelado: “Sem o Galo, dane-se o planeta!”
Belo Horizonte, 16 de Julho de 2008.
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