Por Erick Santiago
Amigos são aqueles que se colocam o bem estar do outro acima da própria amizade. Foi pensando nisso que rompi relações há algum tempo com minha melhor amiga, a Lídia. Uma amizade de mais de quase duas décadas, rompida por uma questão de princípios. E quando Lídia se enamorou de Pedro, um colega de faculdade, eu já imaginava que o fim de nossa amizade estava próximo. E olha que nossa amizade sempre foi em preto-e-branco.
Lídia, essa mineira dengosa, entrou na minha vida nos anos oitenta, no tempo do colégio. Éramos colegas de classe, mas logo ficamos marcados como os amigos inseparáveis do cinema. Sempre loucos pela sétima arte, matávamos aula pra assistir aos lançamentos, sempre muito aguardados. Com o passar do tempo, nos formamos e tomamos rumos diferentes na vida. Ela foi ser médica, numa cidade próxima a Belo Horizonte, e eu, bem, eu sou um caso a parte. Mas a distância não diminuiu nossa amizade. A internet se encarregou de dar um jeito nisso e ao menos nos feriados, nos encontrávamos, para pôr o papo em dia, curtir um cineminha ou ir ao teatro, ou ficar de bobeira no Parque Municipal, aos domingos. Um programa que ela muito gostava.
Certo dia, recebi um e-mail de minha amiga, dizendo que estava namorando o Pedro. Um colega de faculdade, ela me dizia, mas eu sabia que já havia alguma coisa, ainda no tempo em que cursava medicina. Ela não deixava de falar nele. Era na época que eu namorava a Sandra, aquele poço de insensibilidade e ciúmes. Assim, não tínhamos muito contato, mas eu aproveitava a toda oportunidade pra saber dela, como estava, como ia levando a vida e os flertes que tinha...
Logo quando terminei com Sandra, liguei pra ela. Marcamos cinema no shopping e após a sessão, conversamos sobre tudo. Foi quando ela me disse que estava apaixonada. Eu já suspeitava e não me importava. Mas queria saber quem era o tal do Pedro, num instinto fraterno, do irmão que quer proteger a irmã. Descobri que o Pedro era gente boa e que também gostava muito dela. Foi ali que percebi que perderia minha melhor amiga.
Sempre tive muitas amigas, mais amigas que amigos. E isso sempre foi um problema. Porque os respectivos namorados acabavam não vendo com bons olhos minha amizade, mesmo que ela fosse desinteressada, como era na maioria das vezes. Mas eu sempre sabia o meu lugar e sempre agia com muito respeito. Mas o respeito que você dá, nem sempre recebe e não foram as poucas vezes que tive de passar por situações constrangedoras com a insegurança e o ciúme dos namorados das minhas amigas. Então, depois de dar muitas cabeçadas, acabei por tomar uma importante decisão: todas as minhas amigas seriam mulheres solteiras, livres e desimpedidas. Isso reduziu e muito meu círculo de amizades, mas já não me causava aborrecimentos. Entretanto, esta postura sentenciara o fim da amizade mais bela que eu tinha: Lídia.
Ainda tentei manter o mínimo de contato com minha amiga e tentei uma amizade pelo Orkut com o tal do Pedro. Mas nada feito. Acabei entendendo o rapaz, quando comecei a namorar Silvia, com sua lista de infindáveis amigos. Dentro e fora do Orkut. Certo dia, vi um recadinho curioso de um dos muitos amigos de minha namorada e fui vasculhar na página dele, pra ver se encontrava uma resposta dela a este recadinho. Puro ciúme de minha parte reconheço. Mas que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu assim. Quando entrei na página do rapaz e cliquei no menu de recados fui barrado. O infeliz havia bloqueado os acessos aos recados que recebia o que me fez pensar que onde a fumaça, há fogo.
Isto me fez entender a situação com Lídia e Pedro. Não era mesmo possível manter-se amigo dela, se seu namorado, não me via com bons olhos. A insegurança que senti em relação à Silvia deveria ser a mesma que ele sentia em relação a Lídia. Assim, acabei lhe dando razão. Não queria conflitos entre minha amiga e seu amado. E também deveria manter-me fiel a meu princípio. Deste modo, acabei rompendo com a amizade de Lídia, em prol da felicidade dela. Também rompi com Silvia, por entender que uma mulher como ela, bem a frente do seu tempo, como uma lista infindável de amigos em sua maioria homens, não merecia um homem obtuso como eu. Incapaz de aceitar uma amizade entre homem e mulher.
Amigos são aqueles que colocam a felicidade do outro acima da dele. Sinto falta de Lídia, de poder me abrir a ela. Dizer tudo o que sinto. Como fazem os amigos. Hoje digo a minhas poucas amigas do peito que a amizade delas tem prazo de validade. As preparo para o fim. Talvez seja porque tudo aquilo que está sob o controle do homem seja perecível. É por estas e outras que eu entendo que o homem é um ser com prazo de validade vencido...
Belo Horizonte, 05 de Julho de 2008.
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