domingo, 7 de setembro de 2008

Visita Indesejada


Por Deiber Nunes Martins

A tristeza chegou dias atrás. Veio de mansinho, como quem não quer nada. Mais uma vez. Chegou confiando em minha bondade de deixá-la ficar. E assim foi. Veio de mala e cuia. Ninguém a pegou no aeroporto, mas ela já sabia o caminho. E mesmo se não soubesse, descobriria. É amigos, a tristeza é fogo! O que ela quer, ela consegue.
A tristeza é uma morena linda. Cabelos lisos, brilhantes, voam com o vento. Pele alva, macia, sedosa. Tem um olhar sedutor e um corpo envolvente. É difícil resistir a ela. Tem de ser muito homem pra conseguir. E mesmo assim, mesmo resistindo, ela arruma um jeitinho de ficar. As vezes, envolvente, fica até na nossa cama, passa a noite com a gente. Não se faz de rogada, promete fazer de nossas noites um paraíso. Para ela. Nos olha as vezes nos olhos, com jeito de menina e malícia de mulher. Ela sabe muito bem o que quer de nós. Quer que nos entreguemos a ela. Diz que quer um filho de nós. Em ocasiões até, ela consegue.
A tristeza chegou e já foi se abancando em minha casa. Desfez as malas, colocou suas roupas no guarda-roupa. Roubou-me a paz. Levou minha calma. Levou meu sorriso. A tristeza é uma ladra. Conquista as pessoas próximas a nós, pelo olhar. E quando pensamos, todos estão do lado dela. Contra nós. A tristeza é mestra em criar conflitos, confusões. Desgasta nossos relacionamentos, mata nossos sonhos. Quantas namoradas eu já perdi por culpa desta danada? Quando ela consegue seu intento, acaba indo embora. Depois volta, com a cara deslavada, se fazendo de vítima, conquistando as pessoas a nosso redor. Quantas e quantas vezes, a tristeza aprontou comigo e eu a perdoei? Não tem jeito, é difícil resistir a lábia daquela mulher...
Mas a tristeza chegou aqui em casa, e já está de saída. Antes que faça mais estragos, estou a fazer uma grosseria. Invado o quarto, pego suas roupas, as coloco na mala, e a despacho para o aeroporto. Até compro a passagem dela. Primeira classe. Só sossego quando o avião está no ar, indo pra bem longe. Com ela dentro.
A tristeza é visita indesejada. Vem quando menos se espera. E faz estragos. A tristeza deve ser banida de nossa lista de amigos. Deve ser banida do nosso convívio. Infelizmente, eu não aprendo, acabo recebendo esta mulher em minha casa. Mas vou tomando jeito. Já consigo ser indelicado a ponto de colocá-la porta afora. Mulher faceira, surreal. Que consigamos colocá-la no seu devido lugar. Que não a recebamos. Que sejamos deselegantes, mal educados com esta tal. Que esta visita indesejada, nós possamos botar pra fora da nossa casa. Do nosso coração. Da nossa alma.

Belo Horizonte, 07 de Setembro de 2008.

Nenhum comentário: