Por Deiber Nunes Martins
Eram três horas da tarde. O sol a pino queimava a tudo naquela pobre cidade. Seu Joselino, homem de fé, cuidava da sua vendinha, ao mesmo tempo em que fazia uma prece. Havia aprendido com a mãe, a importância da oração das três horas. Exibia orgulhoso no peito, a medalha de Nossa Senhora das Graças e nos fundos da loja era exibida uma estampa da Divina Misericórdia, os santos de devoção do pobre Joselino.
Naquele momento, dois homens desceram de uma motocicleta e adentraram a loja anunciando um assalto. Era insano pensar que naquele fim de mundo, uma simples bodega teria alguma renda pra ser roubada. Todos viviam com o pouco e viviam felizes. Era fim de mês e os únicos fundos de seu Joselino eram os recebíveis da cadernetinha de fiado.
Mas os homens não se importaram com isso. Afinal, ninguém se importa mesmo, é assim a vida. Mas não se importando, invadiram o estabelecimento e exigiram do pobre homem todo o dinheiro da loja. Espancaram-no, humilharam-no. Deixaram-no impotente mediante a realidade torpe da violência mundana, invadindo as pequenas cidades do interior. Enfurecidos, foram quebrando a pequena mercearia, sem encontrar o que chamavam de caixa registradora. Não encontrariam mesmo. Seu Joselino não tinha um caixa propriamente dito. O dinheiro surrado das vendas ia direto para o seu bolso da calça, ou então, para uma pequena caixa de sapatos, onde ficava o dinheiro miúdo. Era assim, o pobre comércio de Seu Joselino.
Cada vez mais nervosos, os homens tentavam a todo custo descobrir onde estava o dinheiro. Ao mesmo tempo, espancavam fortemente Joselino que não conseguia dizer nada. Balbuciava palavras desconexas, incompreensíveis. Estava debilitado demais pela surra que levava. No entanto, não tentava discutir com seus algozes. Apenas rezava.
No ato de desespero, um dos homens sacou uma arma e descarregou toda a sua munição no pobre Joselino.
Estirado totalmente ensangüentado, Joselino tinha perfurações no peito, no ombro, abdômen e perna. Estava morto, concluíram os bandidos. Evadiram-se do local desesperados pelo fracasso do assalto. Logo que saíram em disparada pelas ruas empoeiradas da cidade, o irmão de Joselino, Seu Jairo, chegou. Entre desespero e decisão, Jairo preferiu decidir-se pela vida do irmão. Tomou-o nos braços e colocou-o na camionete. Chegaram ao hospital da cidade vizinha cerca de uma hora depois.
Quando os enfermeiros se depararam com Joselino e tomaram conhecimento do ocorrido tiveram a certeza que Jairo não teve: Joselino estava morto. Também o médico que o socorreu julgou assim. Mas logo percebeu que estava enganado.
Parecia que Joselino tinha entrado numa espécie de choque. Na verdade, os tiros que o alvejaram não haviam atingido nenhuma parte vital de seu corpo. E alguns deles vararam o corpo daquele homem sem atingir nenhuma artéria ou órgão vital. Logo, logo, após as cirurgias necessárias para a retirada dos projéteis, Joselino recuperou todos os sinais vitais e aproximadamente dez dias após o ocorrido, estava de volta a seu armazém, trabalhando. Trabalhando e rezando.
Para muitos há um segredo na história de Joselino. Para outros, um acaso do destino. Para outros ainda, milagre de Deus. Mas para seu Joselino, ele mesmo foi o milagre. Deus, em toda aquela situação de violência, usou Joselino como instrumento. E este, sabedor disso, se deixou usar. Então tornou-se milagre. Milagre que salta aos olhos de quem quer ver.
A fé de Joselino não impediu que ele fosse vítima de seus algozes. Também não impediria que ele sucumbisse a violência. A diferença é que Joselino não tem uma fé sem base, uma fé de aparência. Sua fé foi tomada por obras, pela certeza da bondade de Deus. A fé daquele homem foi uma fé viva. Baseada em sua entrega total a Deus. Assim, Joselino é um milagre de Deus a serviço da humanidade, para que essa possa se voltar ao Deus Amor que tanto nos ama.
Belo Horizonte, 02 de junho de 2008.
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