Por Gonçalves de Magalhães in "Suspiros Poéticos e Saudades"
Bem quisera, oh bela virgem,
Hoje extrair de meu peito
Algum suave perfume,
Em sinal do meu respeito.
Quisera na minha lira
Cadenciar algum hino,
Com que louvasse os encantos
Desse teu rosto divino.
Mas temo, temo que o peito,
De gemer já fatigado,
Em vez de cantar, exale
Um suspiro magoado.
Ah! temo, temo, acredita,
Que a minha fúnebre lira,
Em vez de entoar um hino,
Só triste nênia desfira.
Ah! tu cuidas, bela virgem,
Que é feliz todo o vivente?
Inda estás no albor da vida,
Tens uma alma inda inocente.
Não; tu me vês peregrino,
Errando de terra em terra:
Mas, oh virgem, tu não sabes
Que dor o meu peito encerra.
Veneza, maio, 1835
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