terça-feira, 27 de novembro de 2007

Notas Sobre Um Encontro

Por Dalton González*

Eu ainda não entendo o que aconteceu aquela noite. Noite fria, gelada, chovia. Chovia em minha alma. Nosso encontro foi tão fugidio, tão sem nexo que eu não percebi nada. Apenas senti aquela dor aguda no coração. Uma dor lancinante que nascia pequena, e morria atroz, nefasta. Tão nefasta quanto a frieza do teu olhar, a secura do teu beijo.
Ainda não entendo o porquê daquele encontro. Não querias me ver. Por que mantiveste o combinado? Era melhor eu ir pra casa, tomar meu banho, meu conhaque, depois a xícara de chocolate quente na cabeceira da cama e dormir. Seria melhor do que sentir a indiferença de um encontro que não aconteceu, ou que prefiro que não tenha acontecido. Seria melhor ser melhor que tudo e passar sem sentir por tudo aquilo.
A noite seguia rápida e fria. E no compasso da espera, esperei longo tempo por ti. Cheguei a perceber que não viria. Liguei. Você, com seu ar de sabida, eu pressenti, confirmou o encontro. Estavas chegando. Esperei mais um pouco. Que custava?
Estavas linda! Que mulher linda você é! Sua beleza me contagia, me encanta, me faz ser bonito também! Mas não estavas radiante como de todas as vezes. Seu olhar perdido trazia um recolhimento que não entendia muito bem. Uma postura belicosa que não combinava com você. Passaste todo o jantar respondendo minhas perguntas tolas. Comeste quase nada e evitaste o meu carinho. Lógico, você disfarçava, mas eu não percebi que fazias força para receber meus afagos, meus beijos. Que estava acontecendo?
Tão logo terminaste de comer, foste incisiva: "Peça a conta. Precisamos ir." Quem precisava ir? Eu não tinha pressa. Você? O que queria fazer? Onde queria ir? Perguntas que me fiz e não tive resposta naquele momento.
Deixei-te em casa ainda bem cedo. Nem bem freei o carro, quiseste abrir a porta para sair. Que desatino! Evitei a custo, para que não fosse brusca sua saída, mas partiste meu coração. Após aquele seu intento, nunca havia desejado estar distante de você. Queria que soubesse que não senti vontade de te segurar ali nem mais um pouquinho. Então você me disse que estava indisposta e que no dia seguinte, não me veria, porque faria compras com as amigas. Amigas e amigos que sempre prezaram minha companhia. E agora, você os abstinha de mim. Rapidamente, abriu a porta do carro sem dar explicações. E com um selinho seu, fechamos a noite. Você entrou sem ao menos olhar para trás.
Ainda não entendo a vontade que tive. Ainda não entendo o nada que senti. Apenas sei que não me fiz merecedor de tanta indiferença. Pode parecer natural a qualquer um, mas em nossa história de amor, a falta de carinho nunca teve lugar. Sinto-me sozinho mas sei que é passageiro. O que eu não sei é o motivo. Sofro. Porque eu queria mais. Eu mereço mais.
Mas é como me dizem os homens mais experientes. Não se pode dar tanto carinho a uma mulher. Mulheres enjoam fácil do que é doce. Gostam do sabor amargo do amor. Um lugar onde tenham de exercitar a verve combativa contra nós, pobres homens. Mulher não gosta de trova, romantismo todo dia. Mulher gosta de arroubos. Arroubos funestos de quem não se importa, como elas não se importam. Por isso, os canalhas sempre se dão bem. Porque não se preocupam. Porque não amam. Mulher gosta disso, de não ser amada todo dia. Só as carentes anseiam um amor doce. As demais não gostam. Querem o gostinho da desconfiança, querem o cheiro da lascívia e da lábia que todo homem tem. Ao pensar em agradar uma mulher, não pense como homem, mas como mulher, agradando outra mulher, ou seja, com o sarcasmo de sempre. Mulheres se tratam sempre com sarcasmo. E por isso são tão leais, tão amigas umas das outras, tão corporativas. Este é o mistério. O mistério que homem nenhum entende. Eu também não entendo.
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* Amigo meu, mora em Valparaíso, no Chile. E assim como eu, é um amante das palavras. (Deiber//)

Um comentário:

serra disse...

Oi Deiber, só tenho a dizer que vcs são dois excelentes escritores romancistas e um pouco dramáticos que não vemos hoje em dia. Sorte de quem tem vcs como amigos, namorados, maridos. Seja como for é muito ler o que vc escreve. Parabéns a vcs continuem assim o que vcs escrevem faz bem a quem lê, a gente viaja.
Beijos, Rose.