quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Tropa de Elite

Por Deiber Nunes Martins

O filme nacional mais polêmico do ano, ganhou as ruas antes de chegar às telonas de cinema. Não é o filme mais pirateado do ano, como dizem os desavisados, mas é o exemplo mais direto desta praga que assolou o meio cultural brasileiro: a pirataria.
Mas o negócio é o filme, e não dar cartaz aos piratas. E falando de filme, o filme de José Padilha é de alto nível em todos os aspectos. Os mais destacáveis são: ser realmente um filme nacional de ação; quebrar falsos conceitos e ideologias; ter uma trilha sonora de destaque; ter ótimas seqüências de ação aliadas a efeitos de som perturbadores e fotografia bem feita. Isto para não se alongar mais nos predicativos do filme.
Tropa de Elite é um filme nervoso e por isso agrada ao público mais jovem. Seu começo é atraente e consegue prender a atenção do espectador mais disperso. A narrativa em voz off do narrador, o Capitão Nascimento é a garantia de que fortes emoções virão. Ele sempre termina seu texto com um gancho ou com um índice que nos leva a esperar as ações. Estes recursos, além de prenderem o público são atraentes à narrativa de ação.
O filme relata a estrutura podre da polícia no Rio de Janeiro. A ambientação do filme no ano de 1997, é um sinal de que as coisas estão hoje assim, eram assim e se não se fizer nada, continuarão assim. O filme quer deixar explícita que a questão da violência no Brasil parte de uma elite omissa e corrupta para pequenos burgueses falidos e obcecados por dinheiro e mais dinheiro. O filme atinge em cheio o objetivo principal, mostrar a violência do outro lado, o lado da polícia, que por algumas questões nunca é mostrado em narrativas brasileiras. Parece que o lado do policial no Brasil não interessa à classe média, não interessa a elite burguesa e aos donos do capital. Por que será?
Talvez seja essa a questão mais polêmica desnudada pelo filme. O policial Matias, interpretado por um negro, dá o tom de preconceito da elite branca sobre o negro e policial. É interessante o jogo de ações dos personagens. Outro ponto alto do filme.
Ao desmascarar uma estrutura policial falida, uma sociedade corrompida e preconceituosa, quebra a ideologia dos donos do capital no Brasil e defendida pela imprensa de faz-de-conta do Brasil. A TV que exalta com verdadeiras odes às epopéias dos meninos do tráfico, bandidos bonzinhos e favelas glamurosas, Tropa de Elite destrói, mandando “por no saco” sem nenhum pudor e receio. Mais um ponto na conta do filme.
De qualidade técnica surpreendente para um filme nacional, Tropa de Elite alia a ação sempre nervosa do BOPE com uma trilha sonora de “responsa”, efeitos sonoros também nervosos realçando o binômio ação-violência. Completando e arrematando o bom trabalho de José Padilha tem-se um roteiro conciso, enxuto, sem falhas ou buracos que agrada e sintetiza toda a história, nos guiando a um herói típico do Brasil, um cidadão como qualquer outro brasileiro, sem nenhum super-poder mas com a alma de um povo batalhador, que anseia por dias melhores, que ainda acredita no Brasil. Por isso, já circula pela internet uma série de spams pedindo: “CAPITÃO NASCIMENTO PARA PRESIDENTE”.
Por tratar-se de um assunto atual, por desmascarar certos pilares da sociedade brasileira, por denunciar e simplesmente narrar a realidade do policial no Brasil, Tropa de Elite vem até o momento como o melhor filme brasileiro do ano. Correto o filme não fica devendo em nada a grandes produções do gênero, podendo inclusive ser um contraponto a altura do elogiadíssimo Cidade de Deus. Tem “saco” suficiente pra brigar pelo Oscar...

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