Por Deiber Nunes Martins
Tem horas que eu me sinto só. Mas não é um sentir de padecimento, de sofrimento. É um sentir de me encontrar assim. Estar sozinho na hora em que mais se precisa de um colo, de um ombro amigo, de uma mão amiga. Parece que aqueles que se dizem do seu lado, estão do lado de lá. E é doído perceber que estão mesmo.
O dia de hoje, quarta de cinzas, foi muito pesado para mim. O sumiço do meu irmão, o vazio do dia, não ter com quem desabafar... Foi duro! Mas me serviu de lição. Perceber que quanto mais um nada eu sou, mais nada eu ainda me torno. E quanto mais só eu me sinto, mais só eu me encontro.
Certa vez um menino caminhava pela mata quando avistou uma onça faminta. Ela correu atrás do coitado mas ele conseguiu escapar. Chegando em casa, contou a mãe, mas falava esbaforido, aos berros, e a mãe não escutou. Falou ao pai, mas este, não entendeu. Falou o menino então para os irmãos, primos e tios mas estes não lhe deram atenção. Ninguém o compreendeu.
No dia seguinte, o menino era obrigado a seguir o mesmo caminho e sem ter com quem seguir, foi sozinho. E sozinho, com a onça a espreitá-lo não teve como escapar e acabou sendo devorado, sem que ninguém soubesse o fim que teve.
É assim que me sinto hoje.
Não por conta do meu irmão, que já até reapareceu e está pronto pra mais outra das suas. Mas por conta de mim mesmo. Por conta da solidão em que me percebo.
Solidão essa que me faz calar pra não magoar, que me faz ouvir o que não quero, a música que não curto, a vantagem que não me importa. Solidão que me faz fazer o mise en scene pra gente que me tolera, pessoas que pouco ou nada me acrescentam. Opiniões as quais não partilho mas que é preciso ouvir.
Às vezes é preciso ouvir o que não se quer, calar-se quando se quer falar. Às vezes é preciso caminhar solitário, num deserto de provações. Porque Deus sabe a hora em que seremos forjados e sabe a hora em que de fato, precisaremos estar solitários para encarar os desafios que só nós poderemos. Portanto, se Deus precisa da minha solidão, aqui estou. Senhor, aqui estou.
Mas Meu Bom Deus, dói não ser compreendido. Não ter com quem desabafar, além de Ti. Sei bem que és tudo para mim, mas tem horas que precisamos nos dizer a nossos irmãos. E eles nos escutarem. Tem horas, que um companheiro de viagem, seja ele um parente próximo, ou colega de pastoral, ou colega de trabalho, faz falta. E eu não sei do que sou feito. Não sei quanto tempo eu posso aguentar o fogo dessa provação.
Que esta quaresma, que bem começou, eu encontre perguntas pras minhas respostas. E o Senhor me dê respostas pras suas perguntas. Porque tem horas, que precisamos encontrar ouvidos aqui embaixo, aos nossos clamores. Caminhar contigo, Senhor, mas acompanhados aqui embaixo.
Camacan, 09 de Março de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário