sábado, 12 de março de 2011

Clube dos 13 versus CBF

Por Deiber Nunes Martins

A briga envolvendo o Clube dos 13 e a CBF com a participação indireta da Rede Globo tem dado mais notícias que o próprio futebol brasileiro. Tenho visto um conflito de interesses onde o que menos interessa é o futebol. Esta briga traz à tona o que de fato interessa para a cartolagem brasileira: dinheiro e poder. E curioso é perceber que os atores mais aguerridos desta briga são sempre aqueles que mais se metem em polêmicas em relação a gestão de seus clubes: Corinthians e os clubes cariocas.
A decisão destes clubes de se afastarem do C13 na hora da discussão dos valores para transmissão do Campeonato Brasileiro, mostram como o futebol no Brasil é um antro de mafiosos e gente inescrupulosa de tudo quanto é jeito. Concluindo: percebe-se claramente que o futebol está relegado a segundo plano e que sua moralização é quase impossível.
Não estou aqui tomando partido do Clube dos 13 ou do presidente do meu clube, Alexandre Kalil. Apenas estou questionando a podridão do esporte mais popular deste país. Ninguém está interessado no bem estar dos clubes, ou do futebol. Cada um parece estar defendendo seu quinhão de poder e prestígio. É notório a preocupação com a manutenção do estado de coisas no futebol: jogos depois das dez da noite, esvaziamento dos estádios, privilégios indecentes aos clubes do eixo Rio-SP, arbritragens tendenciosas e manifestos bairristas da imprensa nacional. Só para ficar por aqui. A Rede Globo, inegavelmente fez um bem tremendo aos clubes, sobretudo nos últimos tempos com o mercado inflacionado do futebol. Mesmo com a moeda forte, a volta dos jogadores badalados para o futebol brasileiro seria impraticável. E também o forte perfil exportador de talentos do futebol seria bem atenuado, não fosse a emissora carioca.
No entanto, nas sociedades mais avançadas e desenvolvidas, a alternância no poder é essencial para a manutenção do equilíbrio de forças. O privilégio inexplicável da Globo na negociação com os clubes, mostra o quanto os clubes ficaram reféns desta emissora e da entidade que desorganiza o futebol brasileiro: a CBF.
Amadores, os clubes de futebol, sem nenhuma exceção, negociam seus direitos a preço de banana com essas duas instituições, prejudicam seus fluxos de caixa, podam seus sistemas mercadológicos, a ponto de viverem exclusivamente dos direitos de TV. Acontece que o mercado da bola está cada vez mais caro e cada vez mais impiedoso com os amadores. Na era dos clubes "SA", a receita dos clubes cada vez mais é deficitária. Além disso, todas as vezes que o governo se intromete nas leis do futebol dá de canela: vide leis Pelé e Zico, que em nada ajudam clubes e jogadores e só favorecem os oportunistas da bola...
Algumas das iniciativas governamentais para favorecer os clubes, acabam voltando-se contra os mesmos, impondo aos clubes compromissos imediatos com os quais os mesmos não se prepararam. Desta forma, os dispêndios financeiros dos clubes de futebol cada vez mais se concentram no curto prazo, ao passo que as receitas não acompanham este fluxo. Assim, o nível de endividamento dos clubes brasileiros alcançam níveis elevados, fazendo com que os mesmos precisem antecipar suas receitas de TV para não ficarem ainda mais no vermelho.
Por isso a celeuma criada entre o C13 e os clubes cariocas, principais antecipadores de receita. Aliás, aqui cabe uma ressalva: todos os clubes brasileiros à exceção do Galo e do São Paulo, têm receitas adiantadas junto ao C13 ou a TV Globo. E mesmo assim, esses dois clubes ainda não estão imunes a problemas financeiros.
Infelizmente para o futebol brasileiro, seja qual for a solução para o imbróglio, a CBF continuará sendo a detentora do poder. E o Sr. Ricardo Teixeira, continuará dando as cartas no futebol, com a benção das Organizações Globo ou da Igreja Universal do Reino de Deus ou quiçá a Rede TV. O produto futebol brasileiro continuará sendo exportado com a mesma falta de critérios de antes. Os intermediários de jogadores continuarão lucrando e os clubes continuarão fadados a falência. Porque tanto no Brasil quanto na Europa, em se tratando de futebol e negócios, o rio sempre corre para o mar. A diferença é que lá os clubes têm todo um arcabouço profissional capaz de gerenciar e propugnar boas práticas de gestão, ao passo que aqui, os clubes têm toda uma estrutura amadora, facilmente ludibriada por meia dúzia de mafiosos que se dizem paladinos do futebol mas que no fundo fazem do "Pão e Circo" uma fonte de lucros inesgotável...
Camacan-BA, 12 de Março de 2011.

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