O Evangelho de Mateus apresenta, no capítulo 23, de maneira contundente, as últimas críticas de Jesus aos escribas e fariseus. No trecho de hoje, o evangelista conta uma história curiosa. Trata-se da crítica de Jesus ao poder reinante do espírito do mundo. Ele começou a pregar completamente diferente do que se vivia. Não estava preocupado com o poder político dominante. Uma única vez que tentaram colocá-Lo à prova numa difícil situação política, Ele respondeu: “Hipócritas! (…) Pois dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus“. É um ensinamento para todos, mas também uma advertência àqueles que detêm o poder neste mundo.
Cristo fala em cátedra de Moisés, a doutrina tradicional que receberam de Moisés, chamada Lei Mosaica, contida na Torá, que ainda trazia o que falaram os profetas, Abraão e outros grandes patriarcas. Dominados pelos romanos, os judeus, sem muita alternativa, tomaram uma posição de fazer valer aquelas tradições. Mas, ao longo do tempo, a elas foram acrescentadas interpretações pessoais, com tantas coisas impostas, de tal forma que eles mesmos não podiam cumprir. Aqueles mestres faziam questão de assim serem chamados. Isso fazia com que se sentissem mais poderosos. Aqueles que não os chamavam de “mestres” estavam perdidos.
Meu irmão, esta crítica é também para nós, pois em nossos dias vemos muitas vezes padres novos, catequistas e líderes meio tímidos e à medida que a comunidade coloca muitas coisas à sua disposição, bajulando-os demasiadamente, muitos vão se tornando poderosos, transferindo para dentro da Igreja aquele espírito pomposo, que impõe obrigações e sacrifícios aos outros e aos paroquianos, como quase condição para que os tenham. Se suas atividades deveriam ser levadas pelo Espírito de Deus, trata-se de uma pessoa espiritualizada que revela um demasiado zelo. Percebe-se, porém, cerimônias realizadas e quando se faz pelo espírito da vaidade e da soberba, somente para aparecer.
Jesus observou isso muito bem. Ele sabia que naquela sinagoga acontecia a mesma coisa. E alertou os apóstolos dizendo-lhes que eles deveriam entender a Lei e cumpri-la, mas não imitarem aqueles homens, “pois dizem o que não fazem”; impondo-lhes coisas que eles mesmos não cumpriam, fardos que não carregavam, porque não aguentavam. Isso é hipocrisia. E termina dizendo uma coisa desconcertante, para a época, ao olhar dos judeus. Os mestres das sinagogas ensinavam: Se eu tenho este copo é porque tenho a graça de Deus. Se o tenho cheio d’água é porque estou repleto da graça de Deus. Se tenho o copo, água e posso bebê-la, estou plenamente na graça de Deus.
Eles faziam uma divisão. Queriam convencer as pessoas de que estavam bem, eram ricos, cheios de franjas e frases da Torá na testa e nas roupas, finas por sinal, porque estavam cheios da graça de Deus. Aqueles que não pudessem fazer isso, é porque não tinham a graça de Deus. Esta era a mentalidade da época.
Jesus vem com uma proposta contrária a tudo isso: “Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado“. Hoje, entendemos essa máxima do Evangelho, mas naquela época isso foi de difícil compreensão: ter de se humilhar para ser exaltado?Se somos pobres diante dos homens, seremos ricos diante de Deus. Essa pobreza é um dom de Deus.
Senhor, ensina-me a ser humilde, quebre a minha vaidade, orgulho e soberba, para que eu possa entender a máxima: Deus humilha os que se exaltam e exalta os que se humilham.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Blog do Padre Bantu
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