Por Deiber Nunes Martins
A história dos heróis certamente fica eternizada. A história de um amor também fica, na memória dos amantes. Minha história com o Galo nasceu no meu nascimento, numa manhã de segunda-feira, 29 de maio de 1978, o dia seguinte ao empate do glorioso com a Ponte Preta
Quando a gente ama, alguma coisa, alguém, a gente sempre quer saber sobre o nosso amor. Ligamos a toda hora, perguntamos. Arrumamos um jeito de estar junto. Falamos sobre. Pensamos sobre. O amor nos rodeia de tal forma, que somos tragados para um mundo particular, onde o amor é a única lei, a única palavra que de fato importa.
Assim também o é com o Galo.
Ficamos contando as horas para o jogo. Arrumamos um jeito de assistir e se não dá pra assistir, pelo menos ouvir pelo rádio a narração do narrador preferido. Muitas vezes, o radinho torna-se pessoa da família e o narrador atleticano honorário. Muitas vezes nato. O jogo começa e nos exasperamos mesmo quando este se resolve aos cinco do primeiro tempo a nosso favor. O adversário, forte ou fraco é um inimigo a ser batido de todas as formas, de todas as maneiras. O atacante adversário é o ser desprezível, mas temido até o momento que assina com a gente. A partida chega ao intervalo e para nós é o único momento possível para atender ao telefone, ir ao banheiro, atender o vizinho chato, fechar um negócio, resolver as situações pendentes, dar comida ao cachorro, etc. e etc... mesmo assim é um tempo importante, para ouvir o comentário, ah o comentário, dar nossos palpites e cornetadas, criticar o treinador. Ouvir o comentarista. E geralmente o comentarista torce pro outro time. Vê com clareza irritante todos os defeitos do glorioso, mas pra ele o adversário chega a ser divino tamanha a perfeição do seu esquema tático. Comentarista de araque! Salário desperdiçado. Talvez possamos ofendê-lo ainda mais, chamando-o simpatizante do rival...
O jogo recomeça e as atenções são uma só. O Galo não pode capitular. Que o inimigo seja derrotado, que o nosso gol permaneça incólume. Nem a coruja, eu gosto que faça ninho em nosso gol, para não criar motes a artilharia adversária. O outro lado é o inimigo e precisa ser vencido. Nossos zagueiros devem sumir com a bola do campo de defesa, o meio campo deve ser criar perigo pra eles, não pra nós. Os atacantes devem ser enaltecidos pelos gols feitos, mas condenados pelos gols perdidos. Fim de jogo. Se dá empate, é um prenúncio de tragédia, sinal de alerta. Se derrota, tragédia completa. Prenúncio de ressaca no dia seguinte, mesmo que não nos demos ao luxo de encher a cara no dia seguinte e se é pro rival pior ainda, hecatombe completa, prejuízo incalculável. Ficamos com cara de velório o restante do dia, não queremos saber de papo. Nossas esposas devem estar preparadas para isso já no noivado. Atleticano é assim.
Mas se a vitória vem, carnaval na cidade! Vamos comemorar. Alegria incontida, somos os tais, os maiorais. O dia é nosso, a noite é nossa, a vida é nossa e se renasce mais atleticana que nunca. Se a vitória é sobre o rival, felicidade completa! Festa pra todo mundo, bebidas pra todos. O torcedor adversário também, como convidado, para ser gozado, zoado... Somamos nossos vinténs pra ver se dá pra comprar a camisa mais recente, que certamente irá tremular soberana no varal com a nossa torcida contrária ao vento, que agora é o adversário a ser batido...
Ser atleticano é isto. É amor, paixão, tudo junto e misturado. O atleticano é o propulsor de um clube que nasceu predestinado ao amor. Amor incondicional, legítimo. Amor doação, amor que se entrega que chora na derrota, mas chora mais gostoso nas vitórias sem que ganhar ou perder represente algum combustível para torcer. Atleticano não é simpatizante, não é torcedor só quando ganha. É torcedor pra eternidade toda... Por isso, o Atlético, o nosso Amado Galo Doido, se difere dos demais times porque não se resume em simpatia, extrapola pra simplicidade inexplicável que é o Amor. Parabéns Galo. Clube Atlético Mineiro, uma vez até morrer, Galo Forte Vingador!
Belo Horizonte 25 de Março de 2011.
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