terça-feira, 29 de março de 2011

É preciso ter o coração aberto para receber os milagres


Texto de Pe. Bantu Mendonça

Estamos na Cidade de Nazaré, o berço onde Jesus foi criado pelos seus pais. E então como fizeram em outros lugares, pôs-se a falar aos homens da cidade na sinagoga. Apesar de maravilhados com as palavras de Jesus, esses homens não receberam a graça dos milagres de Jesus em suas vidas. Não tinham o coração aberto para receberem tais milagres, e por isso ficaram bastante furiosos quando Jesus afirmou baseado em duas passagens do Antigo Testamento, que a graça vem para aqueles que abrem o coração ao novo, à Boa Nova.

Jesus havia crescido, evoluído em corpo, alma e divindade durante os anos em que passou afastado da sua cidade. E como é revoltante quando queremos trazer algo novo para as pessoas que cresceram conosco, e elas não nos dão credibilidade. A vontade que dá é de fazer o que Jesus fez: denunciar a falta de abertura daquelas pessoas, e seguir o caminho para outro lugar.

Acredito que seja essa a tua sensação diante dos teus, quando retornando a sua casa, sua rua, bairro, cidade. O seu marido, esposa, filhos, familiares e muitos de seus vizinhos, ou colegas do trabalho que acham que já lhe conhecem e por isso nada você tem para lhes ensinar, nem prestam muita atenção ao que você diz. Eles acham que você não vai ter muito o que acrescentar às suas vidas. E no fim das contas parece ser isso mesmo, uma sensação de superioridade em relação à você, que pode até ter crescido em tamanho, mas que não pode ter se desenvolvido tanto como pessoa. É como se fosse vergonhoso aprender ou receber alguma coisa de alguém que você considera igual ou “menor” que você.

Queremos fazer sucesso no ambiente em que as pessoas nos acolhem e nos admiram, porém nem sempre somos acolhidos e admirados porque seguimos os ensinamentos de Deus. Para todos nós é difícil evangelizar às pessoas no lugar aonde todos nos conhecem. Assim aconteceu com Elias: num tempo de seca e fome, beneficiou uma mulher estrangeira, da terra dos sidônios. O mesmo sucedeu com Eliseu: curou da lepra um general sírio, ao passo que, em Israel, essa doença vitimava muitas pessoas.

A conclusão de Jesus foi clara: já que o povo de sua cidade insistia em não lhe dar atenção, ele sentiu-se obrigado a ir em busca de quem estivesse disposto a acolhê-lo. Aos duros de coração, no entanto, só restava o castigo. Às vezes não fazemos sucesso onde queríamos, mas o Senhor nos envia a alguém a quem nem imaginamos, para que por nosso meio ela possa obter cura e libertação. Por isso, como Jesus insista no anúncio, na cura e na libertação dos seus!

Por outro lado é para mim e para ti esta palavra. Você acompanhou o crescimento de algum sobrinho, irmão ou primo mais novo? Você não tem a sensação de que conhece tudo ou quase tudo daquela pessoa? Engano seu.

Por isso, a lição de hoje é: não se ache superior a ninguém. Esteja aberto a novas possibilidades. Não é motivo de vergonha aprender ou receber algo de uma pessoa que você considere menos experiente. Alías não há nenhum pobre que não tenha nada a dar e também não há nenhum rico que não tenha nada a receber. Precisamos uns dos outros e aprender uns dos outros.

A reação dos habitantes de Nazaré, diante da pregação de Jesus, foi de aberta rejeição. Foi tal o desprezo pelas palavras do Mestre, que eles decidiram eliminá-lo lançando-o de um precipício.

É possível imaginar a decepção de Jesus, diante da rejeição de seus conterrâneos. Ele tentou compreender a situação, rememorando as experiências de profetas do passado que, rejeitados por seu povo, foram bem acolhidos pelos estrangeiros.

Longe de mim e de ti seguir o exemplo do povo de Nazaré. Jesus quer encontrar, em nós, abertura para acolhê-lo e disponibilidade para converter-nos. Ninguém é obrigado a aceitar este convite. Entretanto, fechar-se para Jesus significa recusar a proposta da vida, de salvação que Ele, em nome do Pai, veio nos trazer.

Pai, que eu saiba acolher Jesus e reconhecê-lo como de Filho de Deus, de modo a tornar-me beneficiário de seu ministério messiânico.

Padre Bantu Mendonça Fonte: Blog do Padre Bantu

segunda-feira, 28 de março de 2011

E.G.O.


Por Deiber Nunes Martins

Muito me assusta a vaidade humana. Uma das maiores fraquezas do homem (e da mulher) a vaidade é hoje um mal que danifica as relações sociais, interrompe amizades e divide grupos. Tudo em busca do Eu, do suprimento às necessidades de reconhecimento, inerentes ao ser humano, tão esquecido hoje em nosso mundo.

Em busca de reconhecimento, prestígio, sucesso pessoal e profissional, poder, glória e autoridade, o ser humano tem se perdido em vertentes questionáveis. Vemos claramente uma oposição dessas vertentes com os ensinamentos de Deus, escritos no Livro Sagrado. Um exemplo: quantos buscam hoje em dia o melhor lugar na mesa para se sentar. Jesus dizia justamente o contrário, escolher as últimas posições para então poder ascender às primeiras por determinação do anfitrião, saciando assim as necessidades do ego. Jesus já sabia que o ego das pessoas é também o ponto fraco delas. E hoje em dia, quantos em quaisquer grupos sociais, almejam a posição de autoridade, almejam dar as cartas, ser melhores que os demais. Muitos acreditam ser uma questão de justiça, visto que a contribuição que oferecem é superior a dos demais. E aí, acabam contradizendo outros preceitos bíblicos. A matemática de Deus é diferente da humana, mas infelizmente como diz Renato Russo, em uma de suas célebres canções, a nossa "tristeza é tão exata!" Queremos que um mais um seja mesmo dois, quando para Deus pode não ser bem assim. Infelizmente o valor que damos a questões mesquinhas, de mérito e justiça é maior do que o valor que damos a amizade, a parceria, ao companheirismo...

Diante disso, vemos amigos se tornando inimigos, vemos a capacidade humana de perdoar se deteriorando gradativamente tão logo aumentam as necessidades do ego. Um ego ferido precisa cada vez mais ser insuflado, como a necessidade do viciado pelo vício. Jesus não quis assim. Era seu desejo que buscássemos o amor e todas as coisas que com ele vêm acompanhadas – a humildade, o respeito, a mansidão, a verdade.

Jesus quis nos ensinar a lidar com o nosso ego. Mas infelizmente, mesmo pessoas religiosas, conhecedoras da Bíblia e dos ensinamentos cristãos não conseguem desenvolver a habilidade de administrar suas vontades pessoais. Gosto muito de uma frase de Don Vito Corleoni em “O Poderoso Chefão” quando ele adverte seu filho Sonny a não deixar que os outros saibam o que ele, Sonny, está pensando. Uma pessoa com necessidades do ego, acaba mais cedo ou mais tarde, revelando seus pensamentos e por este motivo, acaba sendo motivador de discórdia entre seus pares. Isto, quando não oferece in loco munição ao inimigo, que está por todos os lados, esperando nossa queda. E a quem ele mais espera e por isso coloca situações de tropeço: as pessoas que mais se aproximam dos ensinamentos de Jesus.

Sejamos, portanto, mais prudentes e mansos em nossas ações. Saibamos ser testemunho vivo de Cristo e de sua verdade libertadora no seio de nossa comunidade. E onde quer que estejamos, saibamos que o nosso ego precisa sim ser alimentado mas que antes a nossa alma se faz mais faminta. Faminta de Deus, faminta do Céu.

Jesus, manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso!

Belo Horizonte, 28 de Março de 2011.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Clube Atlético Mineiro: Um caso de Amor


Por Deiber Nunes Martins

A história dos heróis certamente fica eternizada. A história de um amor também fica, na memória dos amantes. Minha história com o Galo nasceu no meu nascimento, numa manhã de segunda-feira, 29 de maio de 1978, o dia seguinte ao empate do glorioso com a Ponte Preta em Campinas. Um zero a zero sem graça, nada motivador. Portanto não venha dizer que fui motivado, influenciado, conquistado. Nasci Atleticano.

Quando a gente ama, alguma coisa, alguém, a gente sempre quer saber sobre o nosso amor. Ligamos a toda hora, perguntamos. Arrumamos um jeito de estar junto. Falamos sobre. Pensamos sobre. O amor nos rodeia de tal forma, que somos tragados para um mundo particular, onde o amor é a única lei, a única palavra que de fato importa.

Assim também o é com o Galo.

Ficamos contando as horas para o jogo. Arrumamos um jeito de assistir e se não dá pra assistir, pelo menos ouvir pelo rádio a narração do narrador preferido. Muitas vezes, o radinho torna-se pessoa da família e o narrador atleticano honorário. Muitas vezes nato. O jogo começa e nos exasperamos mesmo quando este se resolve aos cinco do primeiro tempo a nosso favor. O adversário, forte ou fraco é um inimigo a ser batido de todas as formas, de todas as maneiras. O atacante adversário é o ser desprezível, mas temido até o momento que assina com a gente. A partida chega ao intervalo e para nós é o único momento possível para atender ao telefone, ir ao banheiro, atender o vizinho chato, fechar um negócio, resolver as situações pendentes, dar comida ao cachorro, etc. e etc... mesmo assim é um tempo importante, para ouvir o comentário, ah o comentário, dar nossos palpites e cornetadas, criticar o treinador. Ouvir o comentarista. E geralmente o comentarista torce pro outro time. Vê com clareza irritante todos os defeitos do glorioso, mas pra ele o adversário chega a ser divino tamanha a perfeição do seu esquema tático. Comentarista de araque! Salário desperdiçado. Talvez possamos ofendê-lo ainda mais, chamando-o simpatizante do rival...

O jogo recomeça e as atenções são uma só. O Galo não pode capitular. Que o inimigo seja derrotado, que o nosso gol permaneça incólume. Nem a coruja, eu gosto que faça ninho em nosso gol, para não criar motes a artilharia adversária. O outro lado é o inimigo e precisa ser vencido. Nossos zagueiros devem sumir com a bola do campo de defesa, o meio campo deve ser criar perigo pra eles, não pra nós. Os atacantes devem ser enaltecidos pelos gols feitos, mas condenados pelos gols perdidos. Fim de jogo. Se dá empate, é um prenúncio de tragédia, sinal de alerta. Se derrota, tragédia completa. Prenúncio de ressaca no dia seguinte, mesmo que não nos demos ao luxo de encher a cara no dia seguinte e se é pro rival pior ainda, hecatombe completa, prejuízo incalculável. Ficamos com cara de velório o restante do dia, não queremos saber de papo. Nossas esposas devem estar preparadas para isso já no noivado. Atleticano é assim.

Mas se a vitória vem, carnaval na cidade! Vamos comemorar. Alegria incontida, somos os tais, os maiorais. O dia é nosso, a noite é nossa, a vida é nossa e se renasce mais atleticana que nunca. Se a vitória é sobre o rival, felicidade completa! Festa pra todo mundo, bebidas pra todos. O torcedor adversário também, como convidado, para ser gozado, zoado... Somamos nossos vinténs pra ver se dá pra comprar a camisa mais recente, que certamente irá tremular soberana no varal com a nossa torcida contrária ao vento, que agora é o adversário a ser batido...

Ser atleticano é isto. É amor, paixão, tudo junto e misturado. O atleticano é o propulsor de um clube que nasceu predestinado ao amor. Amor incondicional, legítimo. Amor doação, amor que se entrega que chora na derrota, mas chora mais gostoso nas vitórias sem que ganhar ou perder represente algum combustível para torcer. Atleticano não é simpatizante, não é torcedor só quando ganha. É torcedor pra eternidade toda... Por isso, o Atlético, o nosso Amado Galo Doido, se difere dos demais times porque não se resume em simpatia, extrapola pra simplicidade inexplicável que é o Amor. Parabéns Galo. Clube Atlético Mineiro, uma vez até morrer, Galo Forte Vingador!

Belo Horizonte 25 de Março de 2011.

terça-feira, 22 de março de 2011

Deus humilha os que se exaltam e exalta os que se humilham

Homilia de Pe. Bantu Mendonça

O Evangelho de Mateus apresenta, no capítulo 23, de maneira contundente, as últimas críticas de Jesus aos escribas e fariseus. No trecho de hoje, o evangelista conta uma história curiosa. Trata-se da crítica de Jesus ao poder reinante do espírito do mundo. Ele começou a pregar completamente diferente do que se vivia. Não estava preocupado com o poder político dominante. Uma única vez que tentaram colocá-Lo à prova numa difícil situação política, Ele respondeu: “Hipócritas! (…) Pois dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus“. É um ensinamento para todos, mas também uma advertência àqueles que detêm o poder neste mundo.

Cristo fala em cátedra de Moisés, a doutrina tradicional que receberam de Moisés, chamada Lei Mosaica, contida na Torá, que ainda trazia o que falaram os profetas, Abraão e outros grandes patriarcas. Dominados pelos romanos, os judeus, sem muita alternativa, tomaram uma posição de fazer valer aquelas tradições. Mas, ao longo do tempo, a elas foram acrescentadas interpretações pessoais, com tantas coisas impostas, de tal forma que eles mesmos não podiam cumprir. Aqueles mestres faziam questão de assim serem chamados. Isso fazia com que se sentissem mais poderosos. Aqueles que não os chamavam de “mestres” estavam perdidos.

Meu irmão, esta crítica é também para nós, pois em nossos dias vemos muitas vezes padres novos, catequistas e líderes meio tímidos e à medida que a comunidade coloca muitas coisas à sua disposição, bajulando-os demasiadamente, muitos vão se tornando poderosos, transferindo para dentro da Igreja aquele espírito pomposo, que impõe obrigações e sacrifícios aos outros e aos paroquianos, como quase condição para que os tenham. Se suas atividades deveriam ser levadas pelo Espírito de Deus, trata-se de uma pessoa espiritualizada que revela um demasiado zelo. Percebe-se, porém, cerimônias realizadas e quando se faz pelo espírito da vaidade e da soberba, somente para aparecer.

Jesus observou isso muito bem. Ele sabia que naquela sinagoga acontecia a mesma coisa. E alertou os apóstolos dizendo-lhes que eles deveriam entender a Lei e cumpri-la, mas não imitarem aqueles homens, “pois dizem o que não fazem”; impondo-lhes coisas que eles mesmos não cumpriam, fardos que não carregavam, porque não aguentavam. Isso é hipocrisia. E termina dizendo uma coisa desconcertante, para a época, ao olhar dos judeus. Os mestres das sinagogas ensinavam: Se eu tenho este copo é porque tenho a graça de Deus. Se o tenho cheio d’água é porque estou repleto da graça de Deus. Se tenho o copo, água e posso bebê-la, estou plenamente na graça de Deus.

Eles faziam uma divisão. Queriam convencer as pessoas de que estavam bem, eram ricos, cheios de franjas e frases da Torá na testa e nas roupas, finas por sinal, porque estavam cheios da graça de Deus. Aqueles que não pudessem fazer isso, é porque não tinham a graça de Deus. Esta era a mentalidade da época.

Jesus vem com uma proposta contrária a tudo isso: “Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado“. Hoje, entendemos essa máxima do Evangelho, mas naquela época isso foi de difícil compreensão: ter de se humilhar para ser exaltado?Se somos pobres diante dos homens, seremos ricos diante de Deus. Essa pobreza é um dom de Deus.

Senhor, ensina-me a ser humilde, quebre a minha vaidade, orgulho e soberba, para que eu possa entender a máxima: Deus humilha os que se exaltam e exalta os que se humilham.

Padre Bantu Mendonça
Fonte: Blog do Padre Bantu

sábado, 12 de março de 2011

Meus Bons Amigos...

Música: Barão Vermelho
Texto: Deiber Nunes Martins

Meus bons amigos, onde estão?
Notícias de todos quero saber
Cada um fez sua vida de forma diferente
Às vezes me pergunto, Malditos ou Inocentes?
Nossos sonhos, realidades
Todas as vertigens, crueldades
Sobre nossos ombros aprendemos a carregar
Toda a vontade que faz vingar

No bem que fez pra mim assim
Assim, me fez feliz, assim

O amor sem fim
Não esconde o medo
De ser completo e imperfeito...

Nos últimos dias, aproveitando minhas férias, tenho me feito esta pergunta: meus bons amigos, onde estão? E curiosamente pergunto a mim mesmo: já tive bons amigos? Parece ser uma pergunta dura, mas na verdade é uma auto-crítica: o que tenho feito de minha vida que as amizades desaparecem assim do nada! E não são malditos nem inocentes... Apenas pessoas que se dizem amigos...
Engraçado hoje em dia, pensar na amizade. Como ela é confundida com outras coisas... Interesses, jogo de troca de favores, redes de contatos, networking... e por aí vai... como tratam a amizade com estrangeirismos e sem nenhuma intimidade!
Machado de Assis já disse certa vez que o homem que alardeia sua amizade não é amigo e sim um traficante de interesses. Fiquei com esse ponto de vista na cabeça e a partir dele comecei a selecionar meus amigos. Depois de um certo tempo, escutei de uma pessoa com certo saber que os amigos o são enquanto os seus interesses permanecem vivos, mas depois de um certo tempo, os interesses se enfraquecem e estes amigos se distanciam... Continuei minha seleção e pra minha surpresa cheguei até aqui, com esta pergunta: "Meus bons amigos, onde estão?"
É preciso, todavia, transportar-se para um mundo menos materialista e mais humano, visto que o humano sempre carrega consigo o desejo do sagrado. E a amizade é o amor sublime encarnado na pessoa do outro, do amigo. Infelizmente, o mundo nos leva a materializar as relações de modo que se não aproximamos do outro(a) por interesse, aproximamos por vaidade. Esta é a versão do mundo para a amizade. Uma visão distorcida, estrangeirizada. É a amizade das redes sociais, onde os amigos competem entre si por mais amigos, por mais contatos, por mais followings e por aí vai...
Infelizmente, hoje me sinto só em relação aos amigos, mas não significa que eles não existem e que não tenham existido. Talvez hoje estejam um tanto quanto distantes de mim, por minha própria culpa. Não posso culpá-los. Antes preciso entender que o amor que trago no peito vem carregado das angústias de ser completo e imperfeito. Porque imperfeito eu sou.
Senhor, que eu me transporte para teu mundo de misericórdia e perfeição a ponto de poder ver o outro(a) com teu olhar de amor e assim amar incondicionalmente a ponto de poder dizer, de fato, meus bons amigos...

Camacan-BA, 12 de Março de 2011.



Clube dos 13 versus CBF

Por Deiber Nunes Martins

A briga envolvendo o Clube dos 13 e a CBF com a participação indireta da Rede Globo tem dado mais notícias que o próprio futebol brasileiro. Tenho visto um conflito de interesses onde o que menos interessa é o futebol. Esta briga traz à tona o que de fato interessa para a cartolagem brasileira: dinheiro e poder. E curioso é perceber que os atores mais aguerridos desta briga são sempre aqueles que mais se metem em polêmicas em relação a gestão de seus clubes: Corinthians e os clubes cariocas.
A decisão destes clubes de se afastarem do C13 na hora da discussão dos valores para transmissão do Campeonato Brasileiro, mostram como o futebol no Brasil é um antro de mafiosos e gente inescrupulosa de tudo quanto é jeito. Concluindo: percebe-se claramente que o futebol está relegado a segundo plano e que sua moralização é quase impossível.
Não estou aqui tomando partido do Clube dos 13 ou do presidente do meu clube, Alexandre Kalil. Apenas estou questionando a podridão do esporte mais popular deste país. Ninguém está interessado no bem estar dos clubes, ou do futebol. Cada um parece estar defendendo seu quinhão de poder e prestígio. É notório a preocupação com a manutenção do estado de coisas no futebol: jogos depois das dez da noite, esvaziamento dos estádios, privilégios indecentes aos clubes do eixo Rio-SP, arbritragens tendenciosas e manifestos bairristas da imprensa nacional. Só para ficar por aqui. A Rede Globo, inegavelmente fez um bem tremendo aos clubes, sobretudo nos últimos tempos com o mercado inflacionado do futebol. Mesmo com a moeda forte, a volta dos jogadores badalados para o futebol brasileiro seria impraticável. E também o forte perfil exportador de talentos do futebol seria bem atenuado, não fosse a emissora carioca.
No entanto, nas sociedades mais avançadas e desenvolvidas, a alternância no poder é essencial para a manutenção do equilíbrio de forças. O privilégio inexplicável da Globo na negociação com os clubes, mostra o quanto os clubes ficaram reféns desta emissora e da entidade que desorganiza o futebol brasileiro: a CBF.
Amadores, os clubes de futebol, sem nenhuma exceção, negociam seus direitos a preço de banana com essas duas instituições, prejudicam seus fluxos de caixa, podam seus sistemas mercadológicos, a ponto de viverem exclusivamente dos direitos de TV. Acontece que o mercado da bola está cada vez mais caro e cada vez mais impiedoso com os amadores. Na era dos clubes "SA", a receita dos clubes cada vez mais é deficitária. Além disso, todas as vezes que o governo se intromete nas leis do futebol dá de canela: vide leis Pelé e Zico, que em nada ajudam clubes e jogadores e só favorecem os oportunistas da bola...
Algumas das iniciativas governamentais para favorecer os clubes, acabam voltando-se contra os mesmos, impondo aos clubes compromissos imediatos com os quais os mesmos não se prepararam. Desta forma, os dispêndios financeiros dos clubes de futebol cada vez mais se concentram no curto prazo, ao passo que as receitas não acompanham este fluxo. Assim, o nível de endividamento dos clubes brasileiros alcançam níveis elevados, fazendo com que os mesmos precisem antecipar suas receitas de TV para não ficarem ainda mais no vermelho.
Por isso a celeuma criada entre o C13 e os clubes cariocas, principais antecipadores de receita. Aliás, aqui cabe uma ressalva: todos os clubes brasileiros à exceção do Galo e do São Paulo, têm receitas adiantadas junto ao C13 ou a TV Globo. E mesmo assim, esses dois clubes ainda não estão imunes a problemas financeiros.
Infelizmente para o futebol brasileiro, seja qual for a solução para o imbróglio, a CBF continuará sendo a detentora do poder. E o Sr. Ricardo Teixeira, continuará dando as cartas no futebol, com a benção das Organizações Globo ou da Igreja Universal do Reino de Deus ou quiçá a Rede TV. O produto futebol brasileiro continuará sendo exportado com a mesma falta de critérios de antes. Os intermediários de jogadores continuarão lucrando e os clubes continuarão fadados a falência. Porque tanto no Brasil quanto na Europa, em se tratando de futebol e negócios, o rio sempre corre para o mar. A diferença é que lá os clubes têm todo um arcabouço profissional capaz de gerenciar e propugnar boas práticas de gestão, ao passo que aqui, os clubes têm toda uma estrutura amadora, facilmente ludibriada por meia dúzia de mafiosos que se dizem paladinos do futebol mas que no fundo fazem do "Pão e Circo" uma fonte de lucros inesgotável...
Camacan-BA, 12 de Março de 2011.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Caminhante Solitário


Por Deiber Nunes Martins

Tem horas que eu me sinto só. Mas não é um sentir de padecimento, de sofrimento. É um sentir de me encontrar assim. Estar sozinho na hora em que mais se precisa de um colo, de um ombro amigo, de uma mão amiga. Parece que aqueles que se dizem do seu lado, estão do lado de lá. E é doído perceber que estão mesmo.
O dia de hoje, quarta de cinzas, foi muito pesado para mim. O sumiço do meu irmão, o vazio do dia, não ter com quem desabafar... Foi duro! Mas me serviu de lição. Perceber que quanto mais um nada eu sou, mais nada eu ainda me torno. E quanto mais só eu me sinto, mais só eu me encontro.
Certa vez um menino caminhava pela mata quando avistou uma onça faminta. Ela correu atrás do coitado mas ele conseguiu escapar. Chegando em casa, contou a mãe, mas falava esbaforido, aos berros, e a mãe não escutou. Falou ao pai, mas este, não entendeu. Falou o menino então para os irmãos, primos e tios mas estes não lhe deram atenção. Ninguém o compreendeu.
No dia seguinte, o menino era obrigado a seguir o mesmo caminho e sem ter com quem seguir, foi sozinho. E sozinho, com a onça a espreitá-lo não teve como escapar e acabou sendo devorado, sem que ninguém soubesse o fim que teve.
É assim que me sinto hoje.
Não por conta do meu irmão, que já até reapareceu e está pronto pra mais outra das suas. Mas por conta de mim mesmo. Por conta da solidão em que me percebo.
Solidão essa que me faz calar pra não magoar, que me faz ouvir o que não quero, a música que não curto, a vantagem que não me importa. Solidão que me faz fazer o mise en scene pra gente que me tolera, pessoas que pouco ou nada me acrescentam. Opiniões as quais não partilho mas que é preciso ouvir.
Às vezes é preciso ouvir o que não se quer, calar-se quando se quer falar. Às vezes é preciso caminhar solitário, num deserto de provações. Porque Deus sabe a hora em que seremos forjados e sabe a hora em que de fato, precisaremos estar solitários para encarar os desafios que só nós poderemos. Portanto, se Deus precisa da minha solidão, aqui estou. Senhor, aqui estou.
Mas Meu Bom Deus, dói não ser compreendido. Não ter com quem desabafar, além de Ti. Sei bem que és tudo para mim, mas tem horas que precisamos nos dizer a nossos irmãos. E eles nos escutarem. Tem horas, que um companheiro de viagem, seja ele um parente próximo, ou colega de pastoral, ou colega de trabalho, faz falta. E eu não sei do que sou feito. Não sei quanto tempo eu posso aguentar o fogo dessa provação.
Que esta quaresma, que bem começou, eu encontre perguntas pras minhas respostas. E o Senhor me dê respostas pras suas perguntas. Porque tem horas, que precisamos encontrar ouvidos aqui embaixo, aos nossos clamores. Caminhar contigo, Senhor, mas acompanhados aqui embaixo.
Camacan, 09 de Março de 2011.