sábado, 25 de outubro de 2008

Denise


Por Deiber Nunes Martins

Só quem nunca amou, pode-se dizer não sentir dor. Sempre amei Denise, minha esposa. E em meu amor, sempre sofri. Sofri o que não se sente. Mas se vive. O amor é como um drama, ou uma tragicomédia que nunca queremos que chegue ao seu desfecho. Assim é meu coração.
Às vezes me deito e durmo mas sinto que minha amada está acordada. Por vezes percebo que ela não dorme comigo. Sua mente sempre divaga por lugares aos quais eu nunca passei. Seu coração experimenta emoções as quais eu nunca vivi, nunca senti. Meu amor por ela é infinito, mas limitado ao seu coração. Não posso fazer com que ela me ame da maneira que quero. Seu amor por mim é íntegro, racional. E compartilhado.
Quando estamos em família, em grupo, ou às vezes sozinhos, dói-me na alma quando ela fala que sente saudades de Olinda, onde passara boa parte de sua vida. Entendo que naquele lugar minha mulher viveu um grande amor. O amor que eu queria dela, talvez tenha se perdido ali. Nas ruas daquela cidade de Pernambuco...
O coração de uma mulher é uma caixa preta cheia de segredos. Segredos aos quais um homem nunca pode chegar. Nós homens morremos sem saber os sentimentos mais íntimos de nossas mulheres. Somos incapazes de perscrutar seus corações e viver com ela as maravilhas de um prazer que para nós é tão percebido, tão suspeito, tão natural. As mulheres ao contrário de nós homens levam para o túmulo amores vividos, casos e acasos, rotina e inesperado. De tormenta e calmaria é feito o coração de uma mulher.
E com Denise nunca foi diferente. Ela me ama com um ardor febril. Seu sexo é alma vivente que me inunda de prazer. Sua vida exala amor por mim. E no entanto, eu sei, este amor é compartido. Este amor não-exclusivo é o que eu tenho. Não é o que me serve. Mas o que posso esperar dela por mim. E nada mais.
Quando minha amada esposa traz suas reminiscências à baila, ela traz seus segredos ocultos sem os revelar. Seus olhos brilham por lembrar-se de Olinda, aquela cidade para muitos, aprazível do nordeste, para mim é odiada. Queria que ela queimasse no inferno, e deixasse aqui o meu doce amor. Somente aqui. Queria sim. O amor nos torna bons, mas também fracos e egocêntricos, quando não é completo. E eu sempre soube que Denise não me amava como eu queria...
Talvez o coração de minha mulher, ainda bata pelo amor que ela teve em Olinda. Um amor improvável, que não se concretizou. Mas que ainda mexe com minha amada. De todo modo, eu nada posso fazer. Não se manda no coração. Que dirá no coração da mulher amada. Resigno à minha insignificância. Ao naco de amor que me cabe. A um quase nada perante o meu sempre tudo.
Mas perguntem-me se troco a minha vida! Perguntem se renuncio ao meu amor! Renuncio à vida, mas nunca ao meu amor por Denise. E neste meu amor irrenunciável, vivo feliz. Por toda a vida.

Belo Horizonte, 25 de outubro de 2008.

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