quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
É Natal
Por: Deiber Nunes Martins
É natal. Aniversário de Cristo. Tempo de renovação da alma. Um tempo abençoado. Durante o natal podemos renovar nossa vida, nossos projetos, nossos sonhos. É tempo de faxina interior. De incorporar novas idéias, novas atitudes e tudo o que é bom. Tempo bom.
Cristo nasceu numa manjedoura, longe do conforto do lar, em meio aos animais, no único lugar que São José pôde arrumar. Hoje, vivemos a estressante procura por um apartamento situado perto de escola, hospital, supermercado e tudo o mais. O nosso projeto envolve o conforto. O de Cristo era a necessidade.
Naquele tempo, os pastores seguiram a estrela, rumo a gruta onde a José e Maria estavam com o Menino Deus. Desde os primeiros segundos de vida, Jesus foi luz. Iluminou os corações de seus pais e iluminou os corações dos pastores e dos reis magos. É o Menino Deus. Era pra ser a luz do nosso tempo. Mas nem sempre o é.
Dia 24 de dezembro de 2008. Centro de Belo Horizonte. A cidade toda agitada, a poucas horas da celebração do natal. Lojistas se agitam nos últimos momentos de venda, de negócios a serem feitos. Vendedores trabalham extenuados pelos turnos de dobrados, horas extras e comissões que nada valem. Pessoas se comprimem buscando os últimos presentes, as últimas lembrancinhas. O trânsito é um festival de buzinaços, de intolerâncias e tudo o mais. Tudo se agita, tudo se inquieta. Mas na agitação das pessoas, o Menino Deus renasce, sem ouro, incenso e mirra. Todos os presentes foram distribuídos. Faltou o do Menino.
Em meio a tanta agitação e balbúrdia, eu paro para refletir um pouco. Estou chateado por não encontrar a roupa que procurava, o presente ideal. Um garotinho chega a meu lado com uma caixa de balas...
"Moço, compra bala na minha mão. Duas por um real..."
O menino magricelo mal consegue segurar a caixa pesada. Pergunto se ele tem troco pra cinco reais e ele me devolve:
"Tenho não. Comecei agora."
"E a que horas vai terminar?" Eu faço a indagação, esperando uma outra resposta, mas a que ele tem é a mais possível:
"Termino as sete. Tenho que vender toda essa caixa."
A que horas vai terminar. A que horas termina a miséria, a pobreza, o sofrimento? É o que eu desejava saber. Aquele menino tinha de estar brincando com as outras crianças, vivendo o sabor da véspera de natal, como todos os outros meninos da sua idade (seis anos, não mais que isso). Mas não.
Até quando Jesus viveria naquela miséria? Até quando o menino não teria um lugar para nascer. Até quando viveria exilado, com seus pais temendo a ira do tirano Herodes?
Até quando aquele garotinho viverá vendendo balas, para ajudar no sustento da família? Até quando gastaremos o nosso tempo alimentando um sistema excludente, comprando o que não é essencial para fazer a felicidade de quem amamos? Até quando não daremos nosso ouro, incenso e mirra ao Menino Deus?
É natal. Tempo de pensar e repensar. Mas o menino continuará na manjedoura, sofrendo com a nossa indiferença. Enquanto o outro garotinho continuará largando o aconchego do seu lar para viver na incerteza das ruas, vendendo suas balas. É natal. Uma data. Só isso...
Mas eu quero mais. E sei que você também...
Feliz Natal, Menino Jesus!
Belo Horizonte 25 de dezembro de 2008
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