sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Quem Pensa o Brasil?

Segunda Parte: Os Pecados da Esquerda Brasileira

Por Deiber Nunes Martins

Que ninguém pense que a onda de ódio contra o governo de esquerda brasileiro e mais especificamente o Partido dos Trabalhadores, tenha sido produzida sem nenhum motivo, porque não foi. A esquerda brasileira desde que alcançou o poder, é mais vilã que vítima. E seus pecados, os mais diversos, fazem cada vez mais com que a sociedade civil tome as dores de nossa fracassada oligarquia, destituída do poder.
O escândalo do mensalão, protagonizado pelo alto escalão do governo, suplantou os pequenos deslizes do início do mandato petista, como o mal explicado assassinato do prefeito de Santo André. A maneira como os generais petistas lidaram com a situação foi o primeiro dos grandes erros da esquerda no poder: colocar no presidente as vestes de “marido traído” ao invés de blindá-lo do escândalo, o enfraqueceu perante a opinião pública. E o tea party brasileiro aproveitou bem esse erro, quando das eleições de 2006. O candidato das oposições, Geraldo Alckmin deve sua ida ao segundo turno desse pleito a bem arquitetada operação de vincular a imagem de Lula ao mensalão. Inocente ou não, Lula demonstrou sua força ao vencer por mais de 60% dos votos ao seu rival do PSDB.
Ancorado no mote da “Privataria Tucana”, o governo petista deveria ter questionado duramente as privatizações empreendidas pelo governo FHC, assim como os demais erros deste governo. Ainda, como a cereja do bolo, questionar o retrógrado apoio do governo e da mídia ao coronelismo, tão incompatível com nossos tempos. Lula e seus blue caps, perderam a oportunidade de minar os esforços da enfraquecida direita brasileira, num momento onde seu governo tinha mais crédito, com quase 90% de popularidade. Em política, o jogo de informação e contra -informação não pode ser deixado em segundo plano. E acreditando no “bom-mocismo” das oposições, a esquerda cometeu esse pecado.
Outro grande pecado da esquerda no poder, foi à negligência às demandas nacionais por reformas tributária e política. Lula estava recém-promovido ao poder, deteve a opinião pública nas mãos por algum tempo. Era o momento de mexer na ferida putrefata que sustenta o poder legislativo e dilapida quem quer produzir neste país. Acabar com o financiamento empresarial de campanha, seria uma forma de acabar com o clientelismo, a corrupção e o tráfico de influência que tomaram conta do governo nos anos seguintes. E aquele momento era o mais propício: que deputa em sã consciência ousaria se opor a uma proposta o presidente tido como “O cara”, por Barack Obama?!
Por conta de sua popularidade, Lula conseguiria fazer qualquer um, seu sucessor. E para tal, escolheu a sisuda Dilma Rousseff para lhe suceder. E o primeiro mandato dela foi exitoso, a se descontar a escabrosa adoção do termo “presidenta”. Dilma começou tentando pôr freio na ganância grupos financeiros que não repassavam a redução das taxas de juros ao varejo. Parecia que Dilma venceria a queda de braço com os bancos, mas as medidas tomadas em seguida mostraram-se desastrosas. Um grande erro do primeiro mandato de Dilma foi amparar o crescimento da economia brasileira na ampliação do crédito para consumo. A redução do IPI para os veículos e a facilidade de acesso ao crédito fez com que a indústria automobilística lucrasse como nunca nesse país, mesmo sem garantias de liquidez para tal. O crescimento modesto do Brasil no período, em comparação com todos os seus colegas de BRICS já indicava que algo não acabaria bem.
Deste modo, quando Dilma retirou o incentivo ao consumo, a economia brasileira entrou em colapso. A crise econômica bateu à nossa porta, acompanhada de um novo escândalo: o chamado petrolão. Escândalo esse que por muito pouco, não custou o segundo mandato de Dilma. As provas contundentes de que a maior empresa estatal do país e uma das maiores petrolíferas do mundo vinha sendo roubada deu novo ânimo aos senhores do tea party que, seduzidos pelo projeto do mineiro Aécio Neves de chegar a presidência da república, como seu avô, trabalharam e muito para criar o clima de insurgência e ódio nacional.
Os protestos de junho de 2013 mostravam claramente que o povo queria mudanças profundas no país. Também mostravam que não era da oposição que se esperava que tais mudanças viriam. Tanto que a turma de Aécio não lucrou nada com os protestos. Dilma, por sua vez, levou a esquerda brasileira a mais um de seus pecados, ao tentar responder aos revoltosos, sem ao menos saber ao certo o motivo da revolta.
Dilma mostrou desconhecer não só aos desejos de seu povo como também os pensamentos de sua base no Congresso Nacional. Um assessor desavisado deve ter lhe dito que a pauta dos protestos passa pela agenda da reforma política que Lula havia negligenciado em seu governo. Em resposta, a presidente anunciou a agenda de um plebiscito de reforma política onde pontos de reforma como o financiamento privado, o voto distrital e outras questões seriam decididos pelo povo. No dia seguinte, após pronunciamento dos congressistas, Dilma teve de voltar atrás, demonstrando fraqueza. A oposição, obviamente, lucraria com isso. O erro de avaliação do governo e a demonstração de fraqueza, aliado aos escândalos recém surgidos tornou o segundo mandato de Dilma, algo incerto.
A partir das manifestações de 2013, o governo Dilma ficou à deriva no que tange à sua governança. A crise econômica cresceu e virou também crise política. Para angariar apoio político, Dilma teve que romper totalmente com seu discurso de resposta as manifestações. E com isso, perdeu o que restava de apoio popular que tinha. Entretanto, o descrédito do povo com o conservadorismo, fez com que a candidata petista chegasse às eleições de 2014 com chances reais de vitória. E o contexto das eleições mostraria claramente a animosidade popular com os partidos que não tinham cheiro de povo.
Mesmo assim, os escândalos de corrupção sangrariam e muito a combalida esquerda brasileira.
A falta de compromisso das lideranças petistas com os ideais da esquerda, a esdrúxula ambição de seus quadros e o flerte com as benfeitorias do poder a que as oligarquias sempre tiveram foram os principais pecados dessa primeira passagem da esquerda ao poder no Brasil. Ao romper com pequenos ideais de luta de sua militância, ao longo dos anos, fez com que os melhores nomes do partido acabassem rompendo com este ou perdendo o fôlego. Mesmo com os programas sociais, o PT perdeu sua identidade, construída após anos de ferrenha oposição à turma da rola cansada. Esse pecado mortal pode fazer com que nunca mais o partido recupere seu vigor.
Por conta disso, pode ser dada como mal sucedido o acesso da esquerda ao poder no Brasil.


Belo Horizonte, 27 de novembro de 2015.

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