quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Quem Pensa o Brasil?

Primeira Parte: A Turma da Rola Cansada, o Tea Party Tupiniquim

Por Deiber Nunes Martins

Impressiona quão incauto é o povo brasileiro! Em sua inocência, surpreende-se com a prisão de um senador da república, como se o feito não fosse um mero movimento de pedras no truncado jogo de xadrez de nossa política, onde capturam um bispo pra se chegar à rainha e ao rei. Num jogo em que nem o peão, este povo é! E a democracia está cada vez mais em xeque, mas isso sempre por debaixo dos panos. Não por conta de um golpe dos que perderam as últimas eleições, mas por conta de uma força maior e bem mais astuta do que parece: a retrógrada e oligárquica elite brasileira.
Elite que bem poderia ser a velha turma da rola cansada, o tea party tupiniquim. Senhoras e senhores que ou se acostumaram à senzala e agora não sabem conviver na casa grande, ou sempre viveram na casa grande e agora não conseguem se adaptar à etiqueta da senzala. Turma da rola cansada porque respiram o século dezenove em pleno século vinte e um. Não sabem ser os donos de seu próprio tempo mas querem viver encostados no sucesso alheio. Preguiçosos, elegem a esquerda brasileira como única culpada de todos os erros do país, inclusive os seus. Essa elite, de aristocrática não tem nada, nem o nome. São os que muitos chamam de “coxinhas”. Saudosistas do tempo da escravatura, lamentam ter de pagar salário mínimo e os encargos sociais da empregada doméstica. Ficam enojados ao ver um cidadão de bermuda e chinelão embarcando no aeroporto. É a mesma casta social que não consegue aceitar as conquistas dos mais pobres. Talvez seja por isso que a esquerda no poder lhes dói tanto na alma.
Em contragolpe ao êxito da esquerda no poder, recebemos toda sorte de informações truncadas, tendenciosas e cheias de segundas intenções. Ai de quem ao menos desfere seu olhar cético ao noticiário: é queimado vivo na fogueira da inquisição das redes sociais, ou marginalizado como blogueiro de esquerda, comedor de criancinha, ou simplesmente taxado como “advogado de bandido”. Esta inaugurada a temporada do ódio, temporada de caça a quem não pertence ao clã da rola cansada.
O problema é que o povo brasileiro (ah o povo brasileiro!!!) é uma massa sem sabor, temperada às expensas de quem dele se alimenta, os barões da mídia. Somos doces se a mídia nos adoça e somos salgados se esta mesma mídia nos tempera. Tudo depende de quem está à frente da informação neste país. Assim, uma plebe volúvel e sem desprovida de senso crítico, acaba aceitando tudo o que dita o mainstream brasileiro. O que os barões e baronesas decadentes decidirem, está decidido e pronto. É o certo, nada a discutir. Somos apenas povo e povo não pensa. Povo que escuta música ruim porque é povo, reles povo brasileiro. Essa mentalidade, aliada ao despreparo e insanidade de uma esquerda que nunca havia chegado ao poder, e está criado o cenário a que os senhores do tea party brasileiro podem nadar de braçada.
É por isso que Luis Inácio Lula da Silva foi de messias a inimigo público número um em tão pouco tempo. E Dilma Rousseff, a primeira mulher a chegar ao Palácio do Planalto chegou ao mais baixo índice de aprovação em menos de um ano de seu segundo mandato. A articulação poderosa do tea party brasileiro, que com seus tentáculos, manipula os meios de comunicação e pensamento nacional. São esses senhores e essas senhoras de nariz empinado e passado questionável que estão pensando o Brasil. São eles que temperam uma massa de iletrados e cada vez mais despreparados para o cargo de povo brasileiro. Tudo isso sem ferir a nossa falaciosa democracia. Pelo menos, é o que nos contam os jornais.


Belo Horizonte, 26 de novembro de 2015.

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