Por Deiber Nunes Martins
Impressiona quão incauto é o povo
brasileiro! Em sua inocência, surpreende-se com a prisão de um senador da
república, como se o feito não fosse um mero movimento de pedras no truncado jogo
de xadrez de nossa política, onde capturam um bispo pra se chegar à rainha e ao
rei. Num jogo em que nem o peão, este povo é! E a democracia está cada vez mais
em xeque, mas isso sempre por debaixo dos panos. Não por conta de um golpe dos
que perderam as últimas eleições, mas por conta de uma força maior e bem mais
astuta do que parece: a retrógrada e oligárquica elite brasileira.
Elite que bem poderia ser a velha
turma da rola cansada, o tea party
tupiniquim. Senhoras e senhores que ou se acostumaram à senzala e agora não
sabem conviver na casa grande, ou sempre viveram na casa grande e agora não
conseguem se adaptar à etiqueta da senzala. Turma da rola cansada porque
respiram o século dezenove em pleno século vinte e um. Não sabem ser os donos
de seu próprio tempo mas querem viver encostados no sucesso alheio.
Preguiçosos, elegem a esquerda brasileira como única culpada de todos os erros
do país, inclusive os seus. Essa elite, de aristocrática não tem nada, nem o
nome. São os que muitos chamam de “coxinhas”. Saudosistas do tempo da
escravatura, lamentam ter de pagar salário mínimo e os encargos sociais da
empregada doméstica. Ficam enojados ao ver um cidadão de bermuda e chinelão embarcando
no aeroporto. É a mesma casta social que não consegue aceitar as conquistas dos
mais pobres. Talvez seja por isso que a esquerda no poder lhes dói tanto na
alma.
Em contragolpe ao êxito da
esquerda no poder, recebemos toda sorte de informações truncadas, tendenciosas
e cheias de segundas intenções. Ai de quem ao menos desfere seu olhar cético ao
noticiário: é queimado vivo na fogueira da inquisição das redes sociais, ou
marginalizado como blogueiro de esquerda, comedor de criancinha, ou
simplesmente taxado como “advogado de bandido”. Esta inaugurada a temporada do
ódio, temporada de caça a quem não pertence ao clã da rola cansada.
O problema é que o povo
brasileiro (ah o povo brasileiro!!!) é uma massa sem sabor, temperada às
expensas de quem dele se alimenta, os barões da mídia. Somos doces se a mídia
nos adoça e somos salgados se esta mesma mídia nos tempera. Tudo depende de
quem está à frente da informação neste país. Assim, uma plebe volúvel e sem
desprovida de senso crítico, acaba aceitando tudo o que dita o mainstream brasileiro. O que os barões e
baronesas decadentes decidirem, está decidido e pronto. É o certo, nada a
discutir. Somos apenas povo e povo não pensa. Povo que escuta música ruim
porque é povo, reles povo brasileiro. Essa mentalidade, aliada ao despreparo e
insanidade de uma esquerda que nunca havia chegado ao poder, e está criado o
cenário a que os senhores do tea party
brasileiro podem nadar de braçada.
É por isso que Luis Inácio Lula
da Silva foi de messias a inimigo público número um em tão pouco tempo. E Dilma
Rousseff, a primeira mulher a chegar ao Palácio do Planalto chegou ao mais
baixo índice de aprovação em menos de um ano de seu segundo mandato. A articulação
poderosa do tea party brasileiro, que
com seus tentáculos, manipula os meios de comunicação e pensamento nacional. São
esses senhores e essas senhoras de nariz empinado e passado questionável que
estão pensando o Brasil. São eles que temperam uma massa de iletrados e cada
vez mais despreparados para o cargo de povo brasileiro. Tudo isso sem ferir a nossa
falaciosa democracia. Pelo menos, é o que nos contam os jornais.
Belo Horizonte, 26 de novembro de
2015.
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