Por Deiber Nunes Martins
Engraçado como os shoppings centers fazem cada vez mais parte do cotidiano de uma sociedade cosmopolita. Não me refiro tão somente ao consumo. Consumo este que em doses exageradas levam ao consumismo, mal dos últimos séculos. Mas de fato, os shoppings por sua comodidade e conforto, têm se destacado.
Os Shoppings têm apelo popular. E apresentam segmentações de acordo com o padrão e o poder de compra de seus freqüentadores. Assim, temos dos shoppings voltados para a elite de consumo, com suas butiques e lojas de preços impensáveis, como os shoppings populares infestados de produtos chineses e iguarias de qualidade duvidosa.
Há cerca de quinze dias atrás fui a um shopping voltado para a classe A, a classe dos mais abastados financeiramente. Estava de passagem e num fim de tarde ensolarado, estava com muita sede. Procurei um bebedouro e fiquei perambulando por ali, no afã de encontrá-lo. Logrado êxito na procura tratei de tentar saciar minha sede. Neste momento, pouco me importava o ambiente em que estava, a água naturalmente deveria estar a temperatura natural fresca ou então se tivesse com sorte, a água estaria geladinha.
Nunca me passou pela cabeça encontrar naquele lugar tão grã-fino água quente. E ela estava quente. Quente não. Estava queimando. Como se estivesse sendo preparada para se fazer um saboroso café. Não estava fervendo, mas estava quente, bem quente. Não a ponto de queimar a boca, mas a sensação de se tomar água quente numa tarde de calor e com toda sede possível é como tomar água fervendo. Uma sensação horrível.
A minha surpresa foi tão desagradável que senti nojo daquele lugar. Olhava as lojas cada uma com seu aroma, cada uma com suas vendedoras e seus vendedores em trajes de gala, a espera dos clientes portentosos. Olhava as pessoas cheias de sacolas e sorrisos enfadonhos. Pensei em seguir para a praça de alimentação e comprar uma garrafa de água mineral. Mas o trauma já estava ali, massacrando meu inconsciente. Então, um sentimento de repulsa misturado com náusea tomou conta de mim. Como se o ar dali estivesse contaminado e intoxicasse meus pulmões.
Tempos depois fico a me questionar sobre os níveis de serviço que estes ambientes oferecem para seus freqüentadores. Há alguns meses, o mesmo shopping foi alvo das reclamações de uma cliente que teve sua bolsa furtada em um bistrot chiquérrimo e caríssimo. O desinteresse nas pessoas nestes paraísos de compras me enoja. Tenho ojeriza destes lugares que são sonhos de consumo da classe média e varandas de casa dos filhinhos e filhinhas de papai. Pessoal grã-fino que trata o essencial como um mero detalhe, um mero acessório. Mas para mim, que sou feito de carne e osso, matar a sede é muito mais que essencial. E muito mais que qualquer luxo.
A região onde se situa tal shopping é a região mais nobre de BH e o mesmo fica no trajeto dos bairros mais ricos, como São Bento e Belvedere. Ou seja, é um ambiente acostumado a receber pessoas de alto poder aquisitivo e formadoras de opinião. Não era pra este shopping oferecer água quente para saciar a sede de seus freqüentadores. Ou o que será que pensam seus gestores e profissionais de marketing: gente rica não tem sede?
Camacan - BA, 21 de janeiro de 2011.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Gente rica não tem sede?
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