Por Deiber Nunes Martins
Que ninguém pense que a onda de
ódio contra o governo de esquerda brasileiro e mais especificamente o Partido
dos Trabalhadores, tenha sido produzida sem nenhum motivo, porque não foi. A esquerda
brasileira desde que alcançou o poder, é mais vilã que vítima. E seus pecados,
os mais diversos, fazem cada vez mais com que a sociedade civil tome as dores
de nossa fracassada oligarquia, destituída do poder.
O escândalo do mensalão,
protagonizado pelo alto escalão do governo, suplantou os pequenos deslizes do
início do mandato petista, como o mal explicado assassinato do prefeito de
Santo André. A maneira como os generais petistas lidaram com a situação foi o
primeiro dos grandes erros da esquerda no poder: colocar no presidente as
vestes de “marido traído” ao invés de blindá-lo do escândalo, o enfraqueceu
perante a opinião pública. E o tea party
brasileiro aproveitou bem esse erro, quando das eleições de 2006. O candidato
das oposições, Geraldo Alckmin deve sua ida ao segundo turno desse pleito a bem
arquitetada operação de vincular a imagem de Lula ao mensalão. Inocente ou não,
Lula demonstrou sua força ao vencer por mais de 60% dos votos ao seu rival do
PSDB.
Ancorado no mote da “Privataria
Tucana”, o governo petista deveria ter questionado duramente as privatizações
empreendidas pelo governo FHC, assim como os demais erros deste governo. Ainda,
como a cereja do bolo, questionar o retrógrado apoio do governo e da mídia ao
coronelismo, tão incompatível com nossos tempos. Lula e seus blue caps, perderam a oportunidade de
minar os esforços da enfraquecida direita brasileira, num momento onde seu
governo tinha mais crédito, com quase 90% de popularidade. Em política, o jogo
de informação e contra -informação não pode ser deixado em segundo plano. E acreditando
no “bom-mocismo” das oposições, a esquerda cometeu esse pecado.
Outro grande pecado da esquerda
no poder, foi à negligência às demandas nacionais por reformas tributária e
política. Lula estava recém-promovido ao poder, deteve a opinião pública nas
mãos por algum tempo. Era o momento de mexer na ferida putrefata que sustenta o
poder legislativo e dilapida quem quer produzir neste país. Acabar com o
financiamento empresarial de campanha, seria uma forma de acabar com o
clientelismo, a corrupção e o tráfico de influência que tomaram conta do
governo nos anos seguintes. E aquele momento era o mais propício: que deputa em
sã consciência ousaria se opor a uma proposta o presidente tido como “O cara”,
por Barack Obama?!
Por conta de sua popularidade,
Lula conseguiria fazer qualquer um, seu sucessor. E para tal, escolheu a sisuda
Dilma Rousseff para lhe suceder. E o primeiro mandato dela foi exitoso, a se
descontar a escabrosa adoção do termo “presidenta”. Dilma começou tentando pôr
freio na ganância grupos financeiros que não repassavam a redução das taxas de juros
ao varejo. Parecia que Dilma venceria a queda de braço com os bancos, mas as
medidas tomadas em seguida mostraram-se desastrosas. Um grande erro do primeiro
mandato de Dilma foi amparar o crescimento da economia brasileira na ampliação
do crédito para consumo. A redução do IPI para os veículos e a facilidade de acesso
ao crédito fez com que a indústria automobilística lucrasse como nunca nesse
país, mesmo sem garantias de liquidez para tal. O crescimento modesto do Brasil
no período, em comparação com todos os seus colegas de BRICS já indicava que
algo não acabaria bem.
Deste modo, quando Dilma retirou
o incentivo ao consumo, a economia brasileira entrou em colapso. A crise
econômica bateu à nossa porta, acompanhada de um novo escândalo: o chamado petrolão.
Escândalo esse que por muito pouco, não custou o segundo mandato de Dilma. As provas
contundentes de que a maior empresa estatal do país e uma das maiores
petrolíferas do mundo vinha sendo roubada deu novo ânimo aos senhores do tea party que, seduzidos pelo projeto do
mineiro Aécio Neves de chegar a presidência da república, como seu avô,
trabalharam e muito para criar o clima de insurgência e ódio nacional.
Os protestos de junho de 2013
mostravam claramente que o povo queria mudanças profundas no país. Também
mostravam que não era da oposição que se esperava que tais mudanças viriam.
Tanto que a turma de Aécio não lucrou nada com os protestos. Dilma, por sua
vez, levou a esquerda brasileira a mais um de seus pecados, ao tentar responder
aos revoltosos, sem ao menos saber ao certo o motivo da revolta.
Dilma mostrou desconhecer não só
aos desejos de seu povo como também os pensamentos de sua base no Congresso
Nacional. Um assessor desavisado deve ter lhe dito que a pauta dos protestos passa
pela agenda da reforma política que Lula havia negligenciado em seu governo. Em
resposta, a presidente anunciou a agenda de um plebiscito de reforma política
onde pontos de reforma como o financiamento privado, o voto distrital e outras
questões seriam decididos pelo povo. No dia seguinte, após pronunciamento dos
congressistas, Dilma teve de voltar atrás, demonstrando fraqueza. A oposição,
obviamente, lucraria com isso. O erro de avaliação do governo e a demonstração
de fraqueza, aliado aos escândalos recém surgidos tornou o segundo mandato de
Dilma, algo incerto.
A partir das manifestações de
2013, o governo Dilma ficou à deriva no que tange à sua governança. A crise
econômica cresceu e virou também crise política. Para angariar apoio político,
Dilma teve que romper totalmente com seu discurso de resposta as manifestações.
E com isso, perdeu o que restava de apoio popular que tinha. Entretanto, o
descrédito do povo com o conservadorismo, fez com que a candidata petista
chegasse às eleições de 2014 com chances reais de vitória. E o contexto das
eleições mostraria claramente a animosidade popular com os partidos que não
tinham cheiro de povo.
Mesmo assim, os escândalos de
corrupção sangrariam e muito a combalida esquerda brasileira.
A falta de compromisso das
lideranças petistas com os ideais da esquerda, a esdrúxula ambição de seus
quadros e o flerte com as benfeitorias do poder a que as oligarquias sempre
tiveram foram os principais pecados dessa primeira passagem da esquerda ao
poder no Brasil. Ao romper com pequenos ideais de luta de sua militância, ao
longo dos anos, fez com que os melhores nomes do partido acabassem rompendo com
este ou perdendo o fôlego. Mesmo com os programas sociais, o PT perdeu sua
identidade, construída após anos de ferrenha oposição à turma da rola cansada.
Esse pecado mortal pode fazer com que nunca mais o partido recupere seu vigor.
Por conta disso, pode ser dada
como mal sucedido o acesso da esquerda ao poder no Brasil.
Belo Horizonte, 27 de novembro de
2015.