José chega em casa, irritado,
reclamando do aumento das passagens, do salário baixo, do trânsito, da política,
do país, de tudo. Maria, sua esposa, escuta com resignação. Também para ela, a
situação brasileira chegara ao ponto insustentável. O governo mostrava-se insensível e cruel, diante dos anseios do povo. Maria em seu íntimo, nutria otimismo, pensava num país melhor. Mas temia morrer sem ver este país pronto.
As manifestações irritavam José
porque pra ele era só mais um modismo vindo das redes sociais. Algo vazio,
superficial. E oportunista. José queria que algo mais sério fosse feito, pra
abalar as estruturas do poder. Tirar os governantes do conforto que viviam.
José liga a TV. Quer ver o jogo.
Sua alegria esportiva, seu ópio. A seleção canarinho vai jogar. Brasil e México.
Sai mudando os canais e descobre que só uma emissora detém os direitos de transmissão. Justamente aquela emissora do narrador mala.
“Agora vou ter que aturar esse mala narrando o jogo! Que saco!”
Jogo começa. Brasil joga mal. Mas
Neymar faz um golaço. José reclama. José vibra. José reclama de novo. E vibra
de novo ao gol de Jô. Brasil em estado de graça. É a apoteose.
O narrador mala faz um discurso
patriótico histriônico. José se alegra, orgulhoso do futebol do Brasil e
arremata:
“Que venha a Espanha! Vamos
arrebentar com eles!”
Um comentarista, não menos mala, enche mais um pouco de lingüiça
e depois manda direto pra São Paulo, onde a imagem se fecha no prefeito e no
governador de São Paulo, juntos. Inimigos políticos unidos. Parecia
feito sob encomenda. Um repórter interrompe as palavras do narrador mala e
antecipa o dizer dos dois políticos: São Paulo reduziria o preço das passagens.
A felicidade se completa. José, espera a confirmação do prefeito e o endosso do
governador. Então, olha pra Maria e diz todo satisfeito:
“O Brasil é ou não é o melhor
lugar do mundo?! Eu amo este país!”
Belo Horizonte, 20 de Junho de 2013.
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