Por Deiber Nunes Martins
O texto anterior abordou o avanço
das religiões sob a ótica delas mesmas. Cada um procura abordar seu
posicionamento perante o Censo 2010 de acordo com suas convicções. Este texto
que se segue talvez vise tratar a redução do povo católico com o mesmo
estratagema, sob a ótica católica.
Nos últimos 30 anos, a Igreja
Católica perdeu seu maior número de fiéis. Ao olhar o gráfico da evolução
religiosa no Brasil, percebe-se claramente como o catolicismo foi sangrado
neste período. Observando o contexto, pode se dizer que as novas denominações
religiosas passaram a angariar como devotos os filhos de seus
recém-convertidos. É uma explicação.
Mais razoável ainda são as
políticas evangelizadoras adotadas por católicos e evangélicos. No primeiro
caso a cisão entre católico praticante e católico não praticante é algo
praticamente impensável no meio crente. Daí, a sublime diferença entre a
abordagem proselitista do cristão católico para o evangélico. Enquanto o
segundo se esforça para difundir sua nova crença, o primeiro se escusa desta
responsabilidade agindo até com receio de proferir sua fé na sociedade.
O católico praticante, a cada dia
que passa tem seu número reduzido, como pode se comprovar durante as Missas.
Cresceu entre os católicos o mito de que a fé se define dentro de casa e não na
Igreja. Daí o fato de muitas pessoas se dizerem católicas mas não freqüentarem
suas paróquias, não celebrarem as missas. A falta de conhecimento acerca da fé,
da vida em comunhão, em comunidade amplia o horizonte do católico não
praticante.
A falta da vida em comunidade, a
falta do encontro com os irmãos, a falta do banquete eucarístico pode não
retirar do católico o conhecimento dele acerca da fé. Mas certamente o afasta
do pensamento da Igreja. A vivência de uma fé individualizada contribui para
que o católico não praticante fique à mercê de vícios e modismos da sociedade
moderna. Como exemplo desse fenômeno tem-se a formação de grupos divergentes da
doutrina católica, mas católicos, como a ONG “Católicas pelo direito de
decidir”. Ainda exemplificando, tem-se o chamado “católico light”, ou aquele(a)
que se diz católico mas enche seu mural no Facebook e sua timeline no Twitter
de posts espíritas (vide Chico Xavier e suas frases) e outras doutrinas,
horóscopo, etc.
É possível considerar o
“católico-light” o próximo recém-convertido a uma seita evangélica, a um grupo
espírita ou ao grupo dos “sem religião”. E a razão para isso está no fato deste
católico estar totalmente alheio à sua fé e ao seu batismo. Longe das missas,
da mesa da palavra, o católico pouco ou nada pode discernir acerca de seu papel
na estrutura social e na modernidade. Torna-se uma pessoa facilmente alienável
e embarca na primeira canoa furada que lhe oferecerem. O exercício da fé
acontece em comunidade.
E isto vale para todas as religiões. E como comunidade,
entenda-se aqui a sua paróquia, a região onde você pratica a sua fé, ou não.
Diante dessa problemática se
insere o arrefecimento da Igreja Católica na sociedade brasileira. No entanto,
a migração do povo católico para as denominações evangélicas ou demais religiões
não é algo que se possa concluir como definitivo. O “novo convertido” não é uma
personalidade passageira até mesmo porque o católico afastado de sua fé, na
grande maioria das vezes parte em busca de respostas existenciais para os seus
problemas. Seria muita presunção da parte de qualquer religião, proclamar-se
dona da verdade e detentora de todas as respostas para os problemas da vida.
Aliado a isso está o fato de que a suposta teologia da prosperidade não mais
funciona como válvula de escape à problemática social. Além disso, a degradação
familiar é fator constante de desgaste da estrutura humana e não encontra remédio
em nenhum meio religioso. Com isso, converter-se a uma nova fé não significa necessariamente
permanecer nesta nova fé pelo restante da vida.
Portanto, o êxodo dos fiéis católicos,
mesmo que comemorado pelas outras igrejas e seitas, não deve ser tratado como a
queda da Igreja Católica, tampouco avanço da religião A ou B. O que se pode
concluir diante deste fenômeno é o profundo esfriamento da fé em todas as suas
formas. Comprovando tal situação tem-se o alto índice de católicos não
praticantes ou católicos light e o aumento do grupo dos “sem religião”. O
esfriamento da fé deve ser o cerne das discussões acerca da religião no Brasil
e no mundo. E esta deve ser feita de forma ecumênica.
Belo Horizonte, 26 de julho de
2012.