Por Deiber Nunes Martins
Como é difícil manifestar uma opinião diferente sobre um determinado assunto! Às vezes somos manietados em nosso próprio meio social por discordar da opinião da maioria. A necessidade de um grupo homogêneo é responsável por grande parte das discórdias no mesmo. Quantas amizades se desfazem por conta da discordância de um ou de outro sobre um dado tema! É sobre a opinião da minoria, o post que se segue.
Quem me conhece sabe que sou de opinião forte e de temperamento forte também. Pessoas assim, precisam se esforçar bem mais que as outras para se auto-afirmarem na sociedade, cada vez mais enraizada na mediocridade. Esta firmeza nos posicionamentos muitas vezes é confundida com intransigência. Na verdade transigir não é o problema. O problema é que precisamos ser convencidos a transigir. Como no pôquer, onde temos uma ótima mão e precisamos ter o subsidio necessário de informações para abandoná-la. Ninguém quer largar um four de Reis só por conta da possibilidade remota de um jogo melhor do concorrente. Assim também, eu não quero abrir mão dos meus valores só para satisfazer a opinião da maioria.
Diante do fato, tenho um posicionamento questionador sobre a democracia. Considero ser esta, uma forma equivocada de governo, uma vez que não permite justificativas. Porque vou eleger PSDB ou PT? Só porque a maioria quer? É muito pouco para mim. A democracia oferece este risco da opinião pré-formada, de modo que as eleições hoje em dia são mais pautadas na base do referendo do que em uma eleição genuína. Assim também ocorre em nossos grupos. Não temos tempo para a discussão, então os líderes acabam por formatar projetos e colocá-los em votação nas reuniões. Tudo muito objetivo e funcional, mas que no fundo funciona como um verdadeiro massacre para as opiniões divergentes. Nem sempre tudo se resolve na base do projeto pronto. É preciso diálogo. É preciso reinventar. Trabalhar a criatividade e perscrutar novas idéias. Uma brainstorm de grupo, capaz de levantar possíveis idéias alternativas. É possível fazer diferente. Pra que buscar sempre mais do mesmo?
Por conta destes fatores, acredito que a democracia, onde prevalece a opinião da maioria, não seja a melhor forma de governo. É preciso dar vazão às opiniões diferentes. É preciso ousar em sociedade, em grupo. E a democracia, não permite ousadia. É sempre mais do mesmo. Sem espaço para o diálogo.
Às vezes num grupo de trabalho, alguém tem uma idéia diferente da defendida pela maioria. Muitas vezes a idéia em voga foi formulada ou copiada pelo líder, para atender aos anseios do grupo. A intenção pode até ser boa. Mas o que se vê em defesa desta idéia é o ataque predatório e despótico sobre a opinião discordante. Dependendo da habilidade e do carisma do líder, quem discorda pode se ver num caminho de difícil escolha: defender seus princípios e manter sua posição, ou abandonar sua idéia e aceitar goela abaixo aquilo que já foi previamente aprovado pelos demais. E a artilharia da maioria é pesada. Quantas vezes chega a garota mais formosa e popular do grupo com a ameaça velada: “Discorda e ficamos de mal de você” Como se não concordar fosse algo diabólico. É verdadeiramente cruel.
Diante de tanta pressão, acabamos por nos sentir frustrados. Se optamos por defender nossa posição, até os amigos nos evitam. Por isso, muitas vezes nas relações de amizade dentro de grupos e comunidades, cultivamos flores de plástico. Sabemos que seremos aceitos enquanto bajularmos o líder. E as opiniões dele.
E pasmem! Isso acontece também dentro da Igreja. Vejo exemplos de muitas pessoas que abandonam a fé católica porque foram segregadas em seus grupos pastorais. Pessoas de opinião forte, que não foram convencidas a apoiar a maioria. E agora, militam numa fé agnóstica ou protestante, ou qualquer outra corrente. As pessoas, feridas em seus sentimentos, não conseguem fazer distinção de quem as colocou no ostracismo diante da dificuldade de relacionamento. E por fraqueza, culpam a Deus pelo infortúnio.
Creio que temos um dever moral de combater toda forma de segregação dentro dos grupos e comunidades, principalmente nas pastorais da Igreja. O pensamento e a formação de opinião são direitos inalienáveis do ser humano e precisam ser respeitados. Mesmo que contradigam estatutos e leis humanas. E isso não acontece na vida em democracia. A opinião singular é massacrada pela idéia bem vestida. E as conseqüências são as piores possíveis.
Exemplos semelhantes são vistos no dia-a-dia, nas discussões políticas, onde toda reforma política de que se fale, verse sobre o fim dos partidos menores; no esporte, com a cisão do Clube dos 13, onde os clubes brigam por cotas maiores de TV. No âmbito do futebol temos um personagem singular; o presidente do Galo, Alexandre Kalil, de personalidade forte e que pode ser destruído pela maioria, manipulada pela CBF e pela TV Globo.
Muito dos nossos atritos pessoais podem ser evitados com um aprofundamento do diálogo em nossas relações sociais. A ditadura da maioria é um vício praticado quase que naturalmente, diante do imediatismo de nossas ações e da falta de desejo de aprofundamento nos assuntos. No afã de nos livrarmos do problema, adotamos a solução pronta e imediata, incapaz de satisfazer a todos os anseios. O prejuízo deste gesto é incalculável. Amizades e grupos podem se esfarelar, diante de um problema meramente social. É preciso atentar-se para isto.
Belo Horizonte, 28 de Fevereiro de 2011.