Por Deiber Nunes Martins
Acompanhei com sincera expectativa a decisão da Suprema Corte brasileira sobre um tema polêmico: o aborto. No caso em questão, o de crianças anencéfalas. No primeiro dia de julgamento, goleada dos abortistas, 5 votos contra 1 em favor da vida. Mas este voto único do primeiro dia, pertencente ao ministro Ricardo Lewandovski, foi muito bem argumentado. O que gerou certa esperança de que os demais ministros fossem acompanhá-lo. Dolorosa ilusão, para aqueles que ainda esperavam da justiça uma palavra em favor da vida. Dos 4 votos que faltavam, apenas o último, do ministro César Peluso foi categórico a favor da vida. Os 3 primeiros, defenderam o aborto, de forma até surreal, com o ministro Ayres Brito chegando ao cúmulo de dizer que o embrião não é um ser humano e que seria um ato de amor, abortar.
Causa estranheza entretanto, não o fato dos ministros decidirem a questão mas o precedente. Sim, porque no Estado democrático que vivemos cabe ao Poder Legislativo o mérito de definir a vida e seus limites. Cabe ao Poder Legislativo, as decisões sobre todas as demandas da sociedade. E neste caso, latente omissão por parte dos parlamentares foi verificada. E a Poder Judiciário, de forma até anti-democrática, coube a incumbência de decidir sobre a questão. E este o fez, sem rodeios.
O aborto antes de mais nada é um atentado contra vida de um indefeso. Isto é fato. Independente de religião, de crença, é um ato que gera traumas para a mãe pois interfere na lei natural dos seres humanos. De modo que para uma mãe de verdade, não é preciso ser católica ou de qualquer outra religião para entender que abortar seu filho, gerará dor e sofrimento pelo resto da vida. Mesmo assim, os abortistas, de forma capciosa utilizaram-se do argumento do sofrimento, da tortura, para defenderem o aborto nos casos de anencefalia. Esqueceram de argumentar sobre a lei natural da vida. Lei a qual os doutores da lei não podem dominar.
Entrando no âmbito da Igreja, vejo que a Igreja Católica, assim como as demais denominações cristãs que lutam em favor da vida, contra o aborto, o têm feito de forma desastrada, desorganizada. Não percebem o quão manipuladas têm sido por uma minoria que detém o controle do sistema. Minoria esta disposta a fazer de tudo, para permanecer no poder. Há que se lembrar que o segundo turno da última eleição presidencial resumiu-se na frívola discussão sobre o aborto, com os dois candidatos disputando quem era menos abortista que o outro, para então abarcar os votos dos fiéis.
Neste ambiente político, deputados e senadores elegeram-se dentro das Igrejas e seitas com votos de fiéis preocupados com o avanço da cultura da morte no país. Agora, que um sindicato de profissionais de saúde inicia o debate sobre o aborto de anencéfalos, estes políticos se calam, evitando chamar pra si a responsabilidade de levar a discussão para o plenário e assim, legislarem contra ou a favor da matéria. Mas o medo da opinião pública, ilustrado não só na pressão popular, mas acima disso até, de setores da mídia e da minoria que chefia o sistema, fez com que transferissem esta decisão para os ministros do Supremo. O objeto da discussão é mascarado e passa a ser uma demanda judicial. Tudo para a manutenção do poder. Tudo para alimentar o sistema.
Como exemplo disso, temos a participação de um deputado federal aqui de Minas, militante da Igreja Católica, em um programa de rádio, manifestando-se de forma lacônica e pouco convincente contra o aborto. Ora, se este deputado, eleito por fiéis de sua Igreja para defender os princípios que a norteiam, gagueja na hora de fazê-lo publicamente, é sinal que algo anda errado. É sinal de que os representantes eleitos não estão de fato comungando dos mesmos interesses de seus eleitores. E então se escondem atrás do Judiciário, para não se comprometerem.
O povo brasileiro, independente de sua crença, está nas mãos de salteadores que, a serviço de uma minoria que prega a cultura da morte traem os ideais daqueles que os elegeram. Estes deputados, senadores, salteadores, fingem-se servos do Senhor, mas são na verdade, servos do sistema. O sistema que defende a cultura da morte de forma lenta, gradual e politicamente correta, para não assustar os incautos. Sistema este que oprime o povo brasileiro, obrigando-o a aceitar senhores de quinta categoria, cingidos em togas e vestimentas reais a decidirem sobre questões que caberiam a nós, pela prerrogativa do voto. Mas o sistema é esperto. E sabe que precisa agir também no voto de cada um, para se perpetuar sistema. Por isso, é preciso que a sociedade se manifeste, escolhendo melhor seus representantes. E aqui, falo para minha Igreja Católica, é preciso uma participação mais incisiva do clero, evangelizando, e orientando os fiéis na escolha do voto. Não como tem feito hoje em dia, lançando leigos engajados e até sacerdotes como candidatos políticos. Mas como fonte de saber e formadora de opinião.
Hoje, aprovaram o aborto de anencéfalos, sob a égide de uma falsa liberdade de escolha da mulher. Talvez mais tarde, aprovem a eutanásia, como Holanda e Bélgica o fizeram, obrigando os idosos a morrerem em casa, visto que nos hospitais se faz dever dos médicos matá-los, para reduzir os custos para o Estado. Hoje, são as crianças que têm seu direito a vida questionado. Quem será amanhã?
Belo Horizonte, 13 de abril de 2012.