Por Deiber Nunes Martins
Outro dia, estava eu em um banco, pagando umas contas. Numa agência nova, no Centro da Cidade, onde eu ainda não havia visitado. Como já estagiei em banco e talvez pela curiosidade que sempre perpassa a mente deste escrevinhador, percorri os olhos para o interior daquela agência bancária, para ver se encontrava algum ex-colega. Necessário se faz frisar ao leitor, que uma agência bancária no Brasil divide-se em duas partes: interna e externa. E que a externa é a parte de qualquer um, onde os atendentes, gerentes e operadores de caixa são as máquinas, que em certas ocasiões são mais dotadas de humanidade que os próprios seres que ali trabalham. Fechado este parêntese, que não tem muito a ver com a história, passo a relatar o ocorrido.
Terminando o uso da máquina de auto-atendimento, percorri os olhos pela parte interna da agência, para ver se via alguém conhecido. Eu havia estagiado naquele banco, em uma agência de bairro, há um tempo atrás e me recordo dos antigos colegas. Um deles, Vagner era gerente de contas no meu tempo.
Vagner, atleticano como eu, gostava de tomar café no pequeno refeitório nos fundos da antiga agência onde trabalhávamos e era naqueles momentos que eu procurava na base do escambo, trocar minhas informações sobre futebol (sempre andava bem informado no assunto) pelas informações sobre o mercado financeiro, que sempre atraíam minha atenção. Nem sempre era uma troca justa, porque os bancários quase sempre são muito mal informados sobre finanças. Mas era uma boa troca de experiências aqueles minutinhos do café.
Lembrava do Vagner sempre competente, mas ao mesmo tempo irritado e estressado com o sistema bancário. Ele não conseguia entender que era como um boi de barro, uma peça da engrenagem daquele sistema feito para atender completamente apenas ao banqueiro, na figura própria do dono e os acionistas. Então a missão de cada um ali dentro, inclusive a do estagiário era tentar reduzir o hiato de nível de serviço entre o banco e o cliente. E tentar convencer a esse que aquilo era o melhor dos mundos. Ele não concordava com isso. Nem eu. Mas precisava trabalhar, sustentar esposa e filhos. Eu tinha outras escolhas naquele tempo.
Agora, os tempos são outros, e mais ou menos cinco anos depois, revejo o Vagner no interior da agência, andando de um setor a outro, tendo um cliente a seu encalço. A cena que se desenhava, relatava um homem com relativo grau de poder, uma vez que um simples gerente de contas não poderia dar-se ao luxo de atender daquela forma a um cliente. Vagner simplesmente dava as costas para o cliente, enquanto este tentava lhe falar, com um extrato bancário nas mãos, quase que lhe implorando a maciça atenção.
Aquela cena não era o mais importante. Importava mais a figura do nosso amigo Vagner. No máximo cinco anos mais velho que eu, o nobre amigo aparentava estar trinta anos mais idoso que este escrevinhador. Cabelos totalmente grisalhos, andar pesado, rugas cravejando um rosto fatigado. Este não era o Vagner que conheci naquele tempo. Percebia agora o seu grau de poder naquela agência: era ele o gerente geral, visto a deferência com que uma outra funcionária lhe tratava.
Mas espera aí: eu conhecia aquela funcionária! Havia sido estagiária junto comigo e agora estava efetivada no banco. Era da minha idade mas parecia estar uns dez anos mais velha...
Antes que visse mais alguém conhecido e me assombrasse, ou ainda antes que comprovasse que aquilo era contagioso, resolvi sair o mais depressa possível daquela lugar.
Belo Horizonte, 14 de junho de 2010
segunda-feira, 14 de junho de 2010
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