quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ano Novo: Hora de Recomeçar


Música de Vander Lee

Texto de Deiber Nunes Martins


O Baile Dos Anjos


A moça diante do espelho pôs laço vermelho em sua calcinha
O velho mostrando cansaço, deixava espaço pro novo que vinha
O pai que brincava com o filho teve a paciencia que ha muito não tinha
A mulher debaixo da ponte banhou-se na fonte, sentiu-se rainha

O guarda guardou a espingarda, livrou-se da farda, ficou à paisana
O larapio não roubou no troco da agua de côco e do caldo de cana
Madame desceu do tamanco, tambem vestiu branco e foi pra caravana
Tão cheia de seu desengano esperar mais um ano em copacabana

Saiam de de tantos lugares, das casas, dos bares e dos edificios
Dezenas, centenas, milhares, dos morros dos mares, cadeias e hospicios
Novenas seguindo sem pressa, fazendo promessa pra vencer os vicios
Deixando pros deuses manjares, usando cocares como sacrificio.

E vinham de todos os lados, banidos, suados, ciganos, megeras
Um povo inteiro em polvorosa, cheiro de pólvora na atmosfera
Cortejos de corpos surrados, desejos bordados, planos e quimeras
Eu sempre me vi diferente, vendo aquela gente é que vi que não era

Relogios piscaram mais lentos aos olhos atentos do cristo redentor
Cascatas de luz, cataventos de cores, rebentos de paz e calor
Por um segundo não houve no mundo nem crime nem guerra nem dor
E os anjos brindando em meu rosto, uma làgrima fria com gosto de amor...



Nesta vida passageira, estamos sempre nos reinventando. Estamos sempre recomeçando. Buscamos resgatar projetos antigos, retomar velhos sonhos. Compartilhar outros tantos. Tanta coisa tem seu recomeço numa noite de ano novo...
A última noite de 2009 marcou o reencontro e o recomeço do namoro de Denis e Paola. Foi obra divina aquele encontro à beira da praia, minutos antes da zero hora de 2010. Tiveram todo o ano pra se encontrarem nas ruas de BH e o encontro foi acontecer na Praia de Copacabana, no Rio.
Coisas assim acabam por fortalecer o relacionamento. Situações inesperadas podem mexer com as emoções e selar aquilo que nossas fraquezas e limitações insistem em querer apagar.
Existem aqueles que acreditam em acaso, em teoria de possibilidades e acabam por desenvolver metodologias pra entrar no novo ano com o pé direito, como se diz. Acontece, que o pé esquerdo não fica na soleira da porta, ele entra junto... A quem prefira passar a virada do ano nu a vestir marrom ou preto. A quem dê três pulinhos no instante da virada. E com a tal loteria da virada, há quem aposte na mudança de sorte com o grande prêmio...
Todos eles e elas, no fundo desejam recomeçar. Todos desejam uma nova chance. Uma chance de apagar os erros cometidos e começar de novo. Recomeçar. É a palavra-chave.
Desenvolvi a mania de contabilizar as primeiras notícias do ano novo e marcar os acontecimentos. As primeiras horas do ano são contabilizadas até o instante em que recebo a primeira notícia ruim. Como não sou nenhum abnegado, isso geralmente acontece por volta das quatro da manhã do dia primeiro. E nem um minuto a mais, infelizmente.
A vida precisa recomeçar. Recomeçou para Denis que passou o 2009 amargurado e deprimido. Recomeçou para Paola, que queria aprender a perdoar e aprendeu. O 2011 será um recomeço para o Brasil, nas mãos de sua primeira presidenta. Será um recomeço pra mim, um recomeço pra você também...
Que neste recomeçar da vida, possamos resgatar os bons sonhos que nunca se apagam. Que possamos resgatar os novos e velhos projetos para uma vida que precisa ser renovada. Que eu possa sonhar com uma noite na Bourbon Street, tomando um encorpado merlot, ao som de “Caravan” de Duke Ellington na companhia de minha amada na aprazível e borbulhante New Orleans... Que eu possa sonhar com um passeio no parque com minhas filhas. Que eu possa sonhar com o barulho do vento contrastando com as passadas do meu coração, o som do silêncio perfeito de uma vida que precisa de verdade e com urgência ser reinventada...
O ano novo está aí, está a porta, pedindo passagem. Vamos recomeçar. Fazer a mesma boa obra de uma maneira diferente, mais entusiasmada. E se fizer a mesma besteira, que possamos parar na metade, sem concluí-la e dizer: “Eu posso fazer diferente, eu posso mudar.” Este é o recomeço que eu desejo a todos vocês meus amigos.
Que o Bom Deus possa estar junto a nós abençoando e nos ajudando a sermos melhores. Se cada um melhorar um pouquinho que seja, este mundo melhora um tantão, numa exponencial sem fim. É meu desejo e tenho certeza que seu também.
Feliz 2011. Que a Graça do Senhor esteja com todos vocês!

Belo Horizonte 30 de Dezembro de 2010.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sobre o Natal, natais e paixões - Mensagem de Natal


Por Deiber Nunes Martins


Você já se apaixonou alguma vez? Já viveu emoções intensas na vida? O natal é uma época preciosa porque nos leva a viver eternas paixões. A paixão do convívio, da família, dos amigos... Um momento de confraternizar-se, de presentear, de orar, de ser feliz. Mas como paixão, o natal tem seu lado bom e seu lado ruim.

Quando nos apaixonamos, somos emersos num mar de deslumbramento, admiração, euforia, entre outras sensações. E como sensações, são superficiais, algo de momento que tem sua data de validade estampada nas primeiras intenções. O natal tem um prazo de validade. Começa quando o comércio começa a falar de natal e termina no dia dos reis magos, seis de janeiro. É quando retiramos as decorações de festa, guardamos as guirlandas, os adereços, os presépios. Tudo volta a mais fria normalidade. É o dia seguinte a uma paixão. Pra muitos vem como uma ressaca, pra tantos outros, como “o dia seguinte” um dia como qualquer outro. Quando a paixão esfria, nós também esfriamos. Deixamos de viver aquele momento e voltamos pra nossa vidinha, até que outra paixão nos contagie. No caso de datas, até que chegue o carnaval, quando outra paixão chega e nos esbaldamos novamente...

Este é o ruim de uma paixão: o seu término. Porque quando termina, termina mesmo. Não sobra nem um cadiquim pra contar história. E isso é o ruim do natal. Ele começa e termina e acabou! Simples assim!

É preciso sempre nesta época natalina, resgatar a importância da data, para nós cristãos. É o nascimento de Cristo, o nosso salvador. Tudo bem, a história não consegue definir se Cristo nasceu mesmo em 25 de Dezembro mas isso não importa. A divindade do Cristo não pode ser explicada pelo carbono 14 nem pelas teorias climáticas ou geográficas. O importante é que 25/12 é o Natal do Senhor Jesus. E recordar o nascimento do nosso Salvador é recordarmos a necessidade que temos do Céu. É recordarmos o plano salvífico de Deus, a Eucaristia, o exemplo do amor doação e tudo o que Ele nos ensina. É o Menino Deus nos ensinando a humildade, a importância de se doar ao próximo, do amor em sua forma mais perfeita. E este amor vale mais que qualquer paixão, porque é divino. E dura o instante do eterno. Ajudar o outro, compartilhar o pão e os dons. Este é o sabor do Natal.

Quando Cristo nos convidou para o banquete, a Eucaristia, ele nos deu o alimento espiritual. Mas nos ensinou algo essencial: o alimento do espírito deve ser acompanhado com o amor. Ou seja, eu só posso de fato alimentar-me espiritualmente se compartilho o alimento do corpo com meu próximo mais necessitado. Este é o Espírito Natalino. Isto supera qualquer presente, qualquer ato material que superficial e apaixonante, tem a duração do instante que passa...

E aí, você já se apaixonou alguma vez? Apaixone-se pelo tempo natalino, mas decida-se amar a razão maior deste tempo: Cristo Jesus. Viva este tempo de fartura, de confraternização com a honestidade sábia de quem sabe viver uma paixão sem se perder nela. E quando terminar, você verá que o Natal pode ser todos os dias do ano.

A você amigo(a), um Santo e Feliz Natal!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Morro porque não morro


Por São João da Cruz in "O Amor não cansa nem se cansa", Ed. Paulus.


Glosas da alma que pena por não ver a Deus


Vivo sem viver em mim
E de tal maneira espero
Que morro porque não morro.

1. Em mim eu não vivo já,
E sem Deus viver não posso;
Pois sem ele e sem mim quedo,
Este viver que será?
Mil mortes se me fará,
Pois minha mesma vida espero,
Morrendo porque não morro.

2. Esta vida que aqui vivo
É privação de viver;
E, assim, é contínuo morrer
Até que viva contigo.
Ouve, meu Deus, o que digo,
Que esta vida não a quero,
Pois morro porque não morro.

3. Ausente estando eu de ti,
Que vida poderei ter
Senão morte padecer,
A maior que jamais vi?
Pena e dó tenho de mim,
Pois se assim eu persevero,
Morrerei porque não morro.

4. O peixe que da água sai
Nenhum alívio carece
Que na morte que padece,
Afinal a morte lhe vale.
Que morte haverá que se iguale
Ao meu viver lastimoso,
Pois se mais vivo, mais morro?

5. Quando penso aliviar-me
Vendo-te no Sacramento,
Faz-se em mim mais sentimento
De não poder-te gozar;
Tudo é para mais penar,
Por não ver-te como quero,
E morro porque não morro.

6. Se me deleito, Senhor,
Com a esperança de ver-te,
Vendo que posso perder-te
Redobra-se em mim a dor;
Vivendo em tanto temor
E esperando como espero,
Morro sim, porque não morro.

7. Livra-me já desta morte,
Meu Deus, entrega-me a vida;
Não ma tenhas impedida
Por este laço tão forte;
Olha que peno por ver-te,
O meu mal é tão inteiro
Que morro porque não morro.

8. Chorarei já minha morte,
Lamentarei minha vida,
Enquanto presa e retida
Por meus pecados está.
Oh, meu Deus! Quando será
Que eu possa dizer deveras:
Vivo já porque não morro?



O Ser Humano tem saudades do Céu e talvez seja por isso que erre tanto na vida. Porque anseia desesperadamente saber o que lhe falta de verdade. Uns acham que é o dinheiro e o poder e se matam por isso. Outros, acham que é o reconhecimento e o prazer e se matam por uma vida hedonista e exclusivamente carnal. A medida que o tempo passa e o vazio continua ("Tem gente tão pobre, mas tão pobre que só tem dinheiro..." - Diac. Nelsinho Correia) as pessoas vão se iludindo cada vez mais com os modismos do mundo, drogas, prostituição, competição desmedida e por aí vai... Quão distantes de Ti estamos, Senhor!


Senhor Nosso Deus, que pela intercessão de São João da Cruz, possamos ser assim como ele foi, íntimo de ti. Que possamos nessa intimidade, partilhar a vida e recebermos tua bênção que é a verdadeira e genuína felicidade aos filhos teus. Por Vosso Filho Jesus Cristo na Unidade do Espírito Santo, Amém.


Belo Horizonte, 14 de Dezembro de 2010 - Dia de São João da Cruz.